CPI deve investigar serviço prestado pela Enel

Deputado Henrique Arantes (PTB), que propôs a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) não ficou satisfeito com as justificativas apresentadas ontem

Postado em: 26-02-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Deputado Henrique Arantes (PTB), que propôs a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) não ficou satisfeito com as justificativas apresentadas ontem

Raphael Bezerra*

As investigações sobre o serviço prestado pela Enel no Estado de Goiás devem avançar na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego). O deputado Henrique Arantes (PTB) é o autor da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que pretende apurar os investimentos acertados na ocasião da venda da Celg para o grupo que hoje atua no Estado. Ontem (25), representantes da empresa se reuniram com o presidente da Alego, Lissauer Vieira (PSB) para discutir a pauta. Henrique Arantes não ficou satisfeito com a conversa e afirmou que o serviço prestado está piorando e que pretende manter a proposta da CPI.

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Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a Enel-Celg é a pior empresa do país. Ainda assim, conta Henrique, o presidente da empresa apresentou dados sobre a falta de energia em Goiás que indicam melhoria na prestação de serviço. “Ele nos mostrou um gráfico mostrando que o serviço melhorou e que agora Goiás fica em média 14 horas sem energia contra os 26 antes de assumirem a empresa. Entretanto, as reclamações são cada vez maiores e o sentimento é o contrário do que foi apresentado”, criticou.

Logo após o término da reunião, Lissauer ressaltou que todos se mantiveram abertos ao diálogo. “Levantamos os pontos de dificuldade e percebemos que existe uma boa vontade para resolvê-los”, afirmou. O presidente considerou também que a Enel está “passando por uma fase de adaptação no Estado” e que o fornecimento de energia elétrica “não está à altura da população goiana e também dos investimentos que têm chegado ao Estado”.

Presidente da Enel, Abel Alves Rochinha lembrou que a empresa já investiu R$ 800 milhões ao longo dos dois primeiros anos e, mesmo tendo recebido a companhia “sucateada”, não deixou de apresentar resultados. “Estamos no processo de colocá-la na linha. Os números de 2018 foram melhores do que o contrato nos exigia. “Quando cheguei a Goiânia, a palavra de ordem era: choveu, acabou a energia. Hoje, nós, moradores da capital, sabemos que isso não acontece mais”, completou.

Rochinha faltou também sobre as ações em benefício dos pontos mais afastados. “Algumas áreas do Estado são mais distantes e ainda enfrentam problemas. As pessoas reclamam, e com razão. Não tiro nossa reponsabilidade. […] O desafio agora é chegar aos pontos mais distantes. E 97% das intervenções que iremos fazer na rede serão no interior do Estado. O nosso foco agora é esse”, afirmou.

Logo após o término da reunião, Lissauer ressaltou que todos se mantiveram abertos ao diálogo. “Levantamos os pontos de dificuldade e percebemos que existe uma boa vontade para resolvê-los”, afirmou. O presidente considerou também que a Enel está “passando por uma fase de adaptação no Estado” e que o fornecimento de energia elétrica “não está à altura da população goiana e também dos investimentos que têm chegado ao Estado”. 

CPI vai apurar se os contratos foram cumpridos pela empresa 

Por iniciativa do deputado Henrique Arantes, foi apresentado, junto ao líder do Governo, deputado Bruno Peixoto (MDB), um requerimento solicitando a criação de uma CPI para investigar a Enel. O objetivo é apurar os termos contratuais da privatização, bem como os termos de investimento da empresa para o ano de 2018 e anos subsequentes.

Em justificativa, Henrique Arantes disse que a CPI investigará, inicialmente, o termo de privatização da Enel, especialmente no que diz respeito ao compromisso da empresa em investir R$ 1 bilhão por ano. “Temos documentos em que a Enel afirma que investiu só R$ 800 milhões no ano passado. Vamos fazer a devida investigação e, caso se comprove que a companhia é devedora, vamos cobrar dela multa e, sobretudo, respeito com a população goiana”.

Segundo o parlamentar, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) afirma que a Celg-Enel é, atualmente, a pior empresa fornecedora de energia do Brasil. Além de reclamações de serviço de baixa qualidade, a Enel também teve o maior reajuste no preço do Kilowatt em todo o Brasil. Enquanto a média de reajuste no País foi de 10%, na capital goiana, os preços subiram mais de 30%.

Em entrevista, o presidente da Alego lembrou que a CPI é feita por meio da participação dos parlamentares e que, não havendo recuo das assinaturas – que já supera o mínimo suficiente para abertura da investigação –  “tem que andar”. “Se os deputados entenderem que ela deve continuar, será feita com muita clareza, transparência e diálogo. A Enel terá a oportunidade de resolver e trazer solução para os problemas de Goiás”, diz.

Por sua vez, o presidente da Enel Goiás, considera o contrato “muito simples”. Sobre a questão financeira, disse: “Fala exclusivamente da saúde financeira da companhia. Que foi a primeira coisa que fizemos. Tivemos que colocar um bocado de dinheiro para pagar as contas atrasadas e colocarmos tudo em dia”. Para ele, o contrato é de leitura “fácil e tranquila”.

A respeito do investimento anual equivalente a R$ 1 bilhão, Rochinha foi incisivo: “Não há nenhum número colocado sobre isso”. Caso a CPI prossiga no Legislativo o presidente garantiu que serão prestados todos os esclarecimentos necessários. “Hoje foi uma primeira iniciativa. Trouxemos toda a diretoria para conversar. Ou seja, quanto mais diálogo tivermos, melhor para todos. O importante é ouvir a sociedade, principalmente por meio de seus representantes. Assim temos ideia do que está acontecendo, o que devemos corrigir e como atuar”, pontuou. 

Entidades ligadas aos ruralistas protestaram contra a Enel 

Mesmo com os investimentos, a empresa, segundo levantamento da Aneel, é a pior em distribuição de energia no país. Na semana passada, produtores rurais fizeram uma manifestação em frente ao Palácio das Esmeraldas cobrando melhorias no serviço prestado pela empresa. Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (FAEG), José Mario Schreiner, afirmou que a empresa tem deixado Goiás no escuro. “É inadmissível o que eles estão fazendo não somente com o produtor rural, mas com todo o povo goiano”.

Mais afetados pela falta de energia elétrica, os produtores rurais reclamam da falta de assistência e comprometimento com o serviço prestado pela empresa. Schreiner afirmou que houveram casos no interior que a cidade inteira ficou mais de três dias sem eletricidade. Tem produtor de leite perdendo o produto; mercearias no interior que não têm condições de comprar um gerador e perdem todas as mercadorias; medicamentos que precisam de refrigeração, como a de vacinas, tudo isso perdendo”, destacou o deputado.

O presidente da Federação do Comércio do Estado de Goiás (Fecomércio-GO), Marcelo Baiochi, também participou do evento e disse que percebe as dificuldades do público por causa das constantes quedas de energia. “O comerciante está sofrendo junto com o homem do campo e toda sociedade. Sofre todo setor, desde o pequeno empresário ao grande. Todo mundo está reclamando e nós buscamos o diálogo”, afirmou.

No começo do ano, o presidente da Faeg chegou a se reunir com uma equipe técnica da Enel para pedir que a distribuidora apresente solução sobre as constantes quedas de energia elétrica que tem levado prejuízo aos produtores rurais, laticínios e granjas do interior do estado. O maior problema está na região sudoeste, onde estão as cidades de Jataí, Rio Verde e Mineiros. Também estiveram presentes, o Vice-presidente institucional da Faeg, Eduardo Veras, a assessora jurídica, Rosirene Curado, além de presidentes de sindicatos e associações rurais e ainda granjas, das regiões Sudoeste, Sul e Vale do Araguaia.

O presidente do Sindicato Rural de Portelândia, WeslyCarrijo, disse que os pecuaristas estão perdendo muito leite. “ Um laticínio que abriu as portas há poucos dias e não tem gerador, já teve um grande prejuízo. São constantes as quedas e demora para fazer a religação”, afirmou.  Já o presidente da Comissão de Avicultura da Faeg, Aloir Vicente, explicou que na região de Mineiros existe mais 2 mil aviários. Por dia são abatidos 650 mil frangos. Devido a falta de energia estão sendo abatidos 100 mil. “ Estamos nos sentindo totalmente desassistidos”, lamenta. Em Rio Verde e Jataí os produtores reclamam, além da perda do leite, da dificuldade de não poder ligar pivôs nesse período de estiagem. (* Especial para O Hoje) 

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