Mudança de foco: Senadores criticam BNDES por financiar mais agro do que setor industrial
A guinada do banco em direção ao agronegócio ocorre num dos momentos mais críticos da indústria brasileira, com diversos fechamentos de indústrias nos últimos anos.
Criado pelo governo federal para alavancar o parque industrial brasileiro, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem financiado mais a agropecuária do que a indústria brasileira nos últimos anos.
Segundo a Agência Senado, o banco estatal de fomento destinou 26% de seus recursos aos produtores rurais em 2021, e 16% aos empresários industriais — respectivamente R$ 18 bilhões e R$ 11,2 bilhões em valores de hoje (corrigidos pela inflação).
Até algum tempo atrás, o BNDES gastava relativamente pouco com as atividades do campo. Em 2009, o agronegócio recebeu apenas 5% dos recursos enquanto a indústria ficou com 47% — R$ 14,6 bilhões e R$ 134,9 bilhões em valores atualizados.
A balança do BNDES pendeu para o lado da agropecuária pela primeira vez em 2018. Desde então, a indústria vem ficando cada vez mais para trás.
Perigos da mudança de foco
Especialistas em economia, industriais e senadores veem com preocupação a nova orientação do BNDES. Eles lembram que a indústria passa por dificuldades e o agronegócio já conta com os empréstimos do Banco do Brasil. O BNDES, por sua vez, argumenta que faz parte de sua missão atual apoiar as diversas estruturas produtivas do Brasil, inclusive a agropecuária.
Em 2017, o banco lançou o cartão BNDES Agro, exclusivo para fazendeiros. Em 2020, criou o programa BNDES Crédito Rural.
A guinada do banco em direção ao agronegócio ocorre num dos momentos mais críticos da indústria brasileira. Entre as empresas que fecharam as portas nos últimos tempos, estão multinacionais como a farmacêutica Eli Lilly, a fotográfica Nikon, as automobilísticas Ford e Mercedes-Benz e as eletrônicas Sony e Panasonic.
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Segundo o senador Jean Paul Prates (PT-RN), a atual política de financiamentos públicos resulta da “pressão da base bolsonarista, que tem raízes profundas no agronegócio”. “O governo é míope. Prefere adotar uma estratégia econômica de tiro curto, que nos deixa suscetíveis às flutuações dos preços das commodities e cada vez mais afunilados nas nossas exportações — diz Jean Paul.
Na opinião do senador Plínio Valério (PSDB-AM), o BNDES não tem se comportado como instrumento inteligente de fomento nem mesmo no setor agropecuário. Ele diz que o Amazonas, o maior estado do Brasil, recebe do banco menos recursos rurais do que o Distrito Federal, a menor unidade federativa.
— Já me reuni mais de uma vez com representantes do BNDES e fiquei com a impressão de que só se interessam por projetos que já estão encaminhados. Não me parece certo. O banco deveria estimular justamente as regiões que ficaram para trás.
Com informações da Agência Senado