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sábado, 23 de novembro de 2024
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Desenvolvimento

Mudança de foco: Senadores criticam BNDES por financiar mais agro do que setor industrial

A guinada do banco em direção ao agronegócio ocorre num dos momentos mais críticos da indústria brasileira, com diversos fechamentos de indústrias nos últimos anos.

Postado em 24 de junho de 2022 por Ícaro Gonçalves

Criado pelo governo federal para alavancar o parque industrial brasileiro, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem financiado mais a agropecuária do que a indústria brasileira nos últimos anos.

Segundo a Agência Senado, o banco estatal de fomento destinou 26% de seus recursos aos produtores rurais em 2021, e 16% aos empresários industriais — respectivamente R$ 18 bilhões e R$ 11,2 bilhões em valores de hoje (corrigidos pela inflação).

Até algum tempo atrás, o BNDES gastava relativamente pouco com as atividades do campo. Em 2009, o agronegócio recebeu apenas 5% dos recursos enquanto a indústria ficou com 47% — R$ 14,6 bilhões e R$ 134,9 bilhões em valores atualizados.

A balança do BNDES pendeu para o lado da agropecuária pela primeira vez em 2018. Desde então, a indústria vem ficando cada vez mais para trás.

Perigos da mudança de foco

Especialistas em economia, industriais e senadores veem com preocupação a nova orientação do BNDES. Eles lembram que a indústria passa por dificuldades e o agronegócio já conta com os empréstimos do Banco do Brasil. O BNDES, por sua vez, argumenta que faz parte de sua missão atual apoiar as diversas estruturas produtivas do Brasil, inclusive a agropecuária.

Em 2017, o banco lançou o cartão BNDES Agro, exclusivo para fazendeiros. Em 2020, criou o programa BNDES Crédito Rural.

A guinada do banco em direção ao agronegócio ocorre num dos momentos mais críticos da indústria brasileira. Entre as empresas que fecharam as portas nos últimos tempos, estão multinacionais como a farmacêutica Eli Lilly, a fotográfica Nikon, as automobilísticas Ford e Mercedes-Benz e as eletrônicas Sony e Panasonic.

Leia mais: BNDES desembolsa menos em Goiás, mas triplica empréstimos na indústria

Segundo o senador Jean Paul Prates (PT-RN), a atual política de financiamentos públicos resulta da “pressão da base bolsonarista, que tem raízes profundas no agronegócio”. “O governo é míope. Prefere adotar uma estratégia econômica de tiro curto, que nos deixa suscetíveis às flutuações dos preços das commodities e cada vez mais afunilados nas nossas exportações — diz Jean Paul.

Na opinião do senador Plínio Valério (PSDB-AM), o BNDES não tem se comportado como instrumento inteligente de fomento nem mesmo no setor agropecuário. Ele diz que o Amazonas, o maior estado do Brasil, recebe do banco menos recursos rurais do que o Distrito Federal, a menor unidade federativa.

— Já me reuni mais de uma vez com representantes do BNDES e fiquei com a impressão de que só se interessam por projetos que já estão encaminhados. Não me parece certo. O banco deveria estimular justamente as regiões que ficaram para trás.

Com informações da Agência Senado

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