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segunda-feira, 7 de outubro de 2024
pena de morte

Japonês é inocentado após 60 anos no corredor da morte

O caso atraiu a atenção internacional e levantou questionamentos sobre o sistema de justiça criminal japonês

Postado em 26 de setembro de 2024 por Yasmin Farias
Japonês é inocentado após 60 anos no corredor da morte
Imagem do japonês absolvido. Foto: Advogados de defesa de Hakamata,

Um par de calças manchadas de sangue e uma confissão elaborada desenvolvida para condenar Iwao Hakamata à pena de morte na década de 1960. Hoje, mais de cinco décadas depois, ele finalmente está declarado inocente, conforme noticiado pela emissora pública japonesa NHK. Nesta quinta-feira (26), o Tribunal Distrital de Shizuoka absolveu Hakamata, agora com 88 anos, que foi injustamente condenado à morte em 1968 pelo assassinato de uma família. O caso, que atraiu a atenção internacional, levantou questionamentos sobre o sistema de justiça criminal japonês. Além disso, incentivou debates sobre a abolição da pena de morte no país.

O juiz Kunii Tsuneishi concluiu que as roupas manchadas de sangue, usadas como prova de acusação, acabaram plantadas muito tempo após os crimes. Ele ressaltou que as manchas de sangue, se realmente imersas em missô por mais de um ano, não deveria se manter avermelhadas, como alegava a promotoria.

Hakamata, ex-boxeador profissional, trabalhava em uma fábrica de processamento de soja em Shizuoka quando, em 1966, o chefe da fábrica, sua esposa e dois filhos acabaram assassinados. Após um interrogatório exaustivo, ele inicialmente confessou o crime, mas logo depois o descobriu, afirmando ter sido coagido pela polícia. Mesmo com a alegação de manipulação de provas, o japonês foi condenado à morte em um julgamento dividido (2-1). O único juiz que votou contra a sentença deixou a carga seis meses depois, desiludido por não conseguir evitar as notificações.

Décadas mais tarde, um teste de DNA realizado nas manchas de sangue não encontrado correspondência com Hakamata ou com as vítimas, o que levou à ordem de um novo julgamento em 2014. Hakamata acabou libertado devido à idade avançada e estado mental debilitado, aguardando o estágio faça o processo. Finalmente, em 2023, a Suprema Corte do Japão autorizou o novo julgamento.

Sistema de justiça em análise

O sistema de justiça japonês está sendo criticado por sua alta taxa de condenações, cerca de 99%, segundo o Ministério da Justiça. A dependência de confissões, muitas vezes obtida sob pressão, também gera controvérsia. O caso de Hakamata reacendeu o debate sobre a pena de morte no Japão, um dos poucos países do G7 que ainda a aplica.

Apesar da absolvição, a saúde mental de Hakamata piorou gravemente durante os anos de encarceramento. Segundo sua irmã, Hideko, de 91 anos, ele vive “em seu próprio mundo” e raramente se comunica com os outros. “Nós nem discutimos o julgamento com Iwao porque ele não consegue mais considerar a realidade”, disse ela à CNN.

Embora Hakamata tenha passado grande parte de sua vida atrás das grades por um crime que não cometeu, nos últimos anos ele tem experimentado pequenos prazeres da vida em liberdade. Ele propôs dois gatos e, todas as tardes, um grupo de apoiadores o leva para passear de carro, onde costuma comprar doces e sucos. “Espero que ele continue a viver uma vida longa e livre”, concluiu sua irmã.

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