Moradores do Solar Bougainville vivem entre mato, ratos e promessas não cumpridas
Vizinhança denuncia descaso do poder público, cobra ação imediata para a criação de uma praça prometida, combate à insegurança e omissão das autoridades

“Estamos abandonados, jogados às traças ou melhor, aos ratos e sapos.” A frase de Graciely, empresária e uma das moradoras do residencial Solar Bougainville, em Goiânia, resume a indignação de uma comunidade inteira de moradores esquecidos pelo poder público. O setor vive há cerca de seis meses sem qualquer tipo de manutenção na área verde pública localizada em frente às residências, onde deveria existir uma praça. No lugar de lazer, cresceu o matagal e com ele vieram os bichos, o medo e o sentimento de abandono.
Segundo os moradores, o espaço já havia sido mantido regularmente no passado, especialmente após denúncias à imprensa. Porém, desde a última eleição, quando um vereador local prometeu transformar a área em uma praça, nada mais foi feito. “Antes dele aparecer com promessa, roçavam com frequência. Depois que ele se reelegeu, sumiu. Nem roçar o mato fizeram mais”, desabafa Graciely.
A revolta da comunidade ganhou força após supostas mensagens da assessoria do parlamentar circularem em grupos de moradores. Nelas, a justificativa para a omissão seria uma alegada coação do prefeito contra os vereadores que votaram contra a polêmica taxa do lixo. “Se isso for verdade, é gravíssimo. O povo não pode ser penalizado por uma briga política. Queremos saber a verdade, queremos resposta”, exige a empresária.
Infestação de animais e risco à saúde pública
O mato, que já encobre a visão das casas do outro lado da rua, traz riscos à saúde e à segurança. Tatiane, outra moradora, relata que sapos, ratos e muriçocas infestam o bairro. “Tem brejo por perto. É sapo entrando dentro de casa, rato toda semana. Tenho que pôr veneno, mas isso também é perigoso porque tenho crianças pequenas”, conta. E completa: “Agora até lacraia apareceu. Isso aqui virou um criadouro de bicho.”
Valquíria, há nove anos no setor, afirma que nunca viu o lugar tão abandonado. Além do mato e das pragas, ela denuncia o descarte irregular de animais mortos na região. “É um absurdo. À noite, o risco é ainda maior. A escuridão e o matagal viraram esconderijo pra tudo. Qualquer pessoa má intencionada pode se esconder ali. A gente tem medo de passar na rua depois das oito da noite.”
População cobra melhorias na sinalização viária
Além da vegetação alta, o setor sofre com a ausência de medidas de segurança viária. Os moradores relata que veículos trafegam em alta velocidade pela região e pedem a instalação de redutores de velocidade. “Tinha que ter quebra-mola, sinalização… mas não tem nada. A gente pede e ninguém responde”, lamenta Tatiane.
A praça prometida virou símbolo do desrespeito. Segundo os moradores, o projeto foi anunciado como garantido, com verba e assinatura. Porém, até agora, nem sinal de execução. “Disseram que já estava tudo certo, mas nada saiu do papel. A única coisa que cresceu aqui foi o mato”, ironiza Graciely.
A sensação de impotência aumentou quando, ao ameaçarem chamar a imprensa, a prefeitura realizou um corte superficial do mato nas beiradas da área. “Só apareceram quando falamos em reportagem. E mesmo assim, só passaram um tratorzinho na beirada. Isso é paliativo, não resolve. Vão esperar mais denúncia pra agir de novo?”, questiona Tatiane.
Diante da situação, os moradores planejam uma reunião em frente à área abandonada para chamar a atenção das autoridades e da imprensa. “Queremos mostrar que estamos unidos, que estamos sofrendo, sim. E não vamos aceitar mais promessas vazias. Não dá pra viver entre mato, rato e mentira”, conclui Graciely.
Nossa reportagem entrou em contato com o vereador responsável pelo bairro, mas não obtivemos resposta. O espaço segue aberto para esclarecimentos. Também procuramos a Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), porém, até o fechamento desta matéria, não houve retorno. O espaço continua disponível para manifestações.
O apelo da comunidade é claro, socorro contra o abandono, contra o descaso, contra a politicagem que deixa bairros à deriva. No Solar Bougainville, o que os moradores querem é simples: dignidade, segurança e o mínimo de respeito por parte de quem foi eleito para representá-los.
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