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Saúde

O impacto do período seco na saúde da população goiana

Queda da umidade do ar abaixo de 20% e aumento dos focos de incêndio elevam internações por asma e outras doenças respiratórias no Estado

Renata Ferrazpor Renata Ferraz em 12 de junho de 2025
Seco
Foto: Divulgação/Secom

A chegada do período seco em Goiás já começa a impactar diretamente a saúde da população. A combinação entre a queda na umidade do ar e o aumento das queimadas cria um cenário crítico, que favorece o surgimento e o agravamento de doenças respiratórias. Crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas formam o grupo mais vulnerável, mas os riscos atingem a todos.

Segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), cidades goianas como Goiânia, Mineiros e Rio Verde já registraram índices de umidade abaixo dos 20%, patamar comparável ao de desertos. Para agravar a situação, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) contabilizou mais de 76 mil focos de queimadas entre maio e agosto do ano passado, com tendência de alta para 2025, especialmente no interior do Estado.

A pneumologista do Instituto de Neurologia de Goiânia (ING) Letícia Ferreira Neves Arantes explica que “o tempo seco e a poluição das queimadas contribuem para o ressecamento da mucosa do trato respiratório e aumentam a exposição a partículas nocivas que desencadeiam inflamação das vias aéreas e os sintomas respiratórios.” 

Ela ressalta ainda que esse período coincide com o inverno, quando há aumento da circulação dos vírus causadores de infecção respiratória, o que se soma como fator responsável pelo elevado número de doentes nessa época do ano.

O pediatra e diretor do Hospital América da Hapvida, Wesley Medeiros complementa que o ar seco funciona como um irritante para as vias respiratórias, facilitando crises de asma, bronquite, rinite e infecções respiratórias. “Mas os efeitos não se restringem apenas às crianças. Esse cenário afeta principalmente quem já tem doenças respiratórias pré-existentes, mas também pessoas saudáveis podem apresentar sintomas como tosse, dor de cabeça, irritação nos olhos e garganta”, afirma.

A combinação entre fumaça e ar seco costuma elevar o número de atendimentos nas unidades de saúde. Um levantamento realizado pelo Instituto de Saúde Infantil aponta que, em regiões com alta incidência de queimadas, as internações por asma aumentam até 42% no período seco. Em Goiás, a situação se repete anualmente, sobrecarregando o sistema de saúde pública, principalmente em cidades médias e pequenas.

A fumaça liberada pelas queimadas é composta por partículas finas, invisíveis a olho nu, mas que penetram profundamente nos pulmões, provocando inflamação e agravando doenças respiratórias já existentes. De acordo com especialistas, a exposição prolongada pode gerar quadros graves de insuficiência respiratória. 

O problema também afeta trabalhadores rurais e pessoas expostas à poeira e fumaça durante atividades ao ar livre. Para esses grupos, o uso de máscaras pode ser uma medida auxiliar, mas não substitui os cuidados mais abrangentes.

Entre os sintomas mais frequentes associados ao tempo seco estão tosse persistente, garganta seca, olhos irritados, coriza, sangramento nasal e, nos casos mais graves, falta de ar e chiado no peito. O calor intenso e a baixa umidade também favorecem a desidratação, exigindo reforço na ingestão de líquidos.

Arantes detalha que, além das doenças alérgicas que se agravam, como rinite, bronquite, asma e dermatites, “no inverno temos o aumento da circulação dos vírus respiratórios, aumentando os casos de resfriados, gripes, bronquiolites e sendo porta de entrada para infecções bacterianas como pneumonia, traqueobronquite e sinusite.”

Para Medeiros, a principal orientação é não esperar o quadro se agravar para buscar atendimento médico. Quanto antes o paciente for avaliado, menor a chance de complicações graves. “O ideal é procurar ajuda assim que os sintomas não melhorarem com hidratação ou medidas caseiras”, orienta.

Prevenção e ações para minimizar os efeitos 

Apesar do cenário adverso, medidas simples podem reduzir os impactos do clima seco na saúde. A hidratação constante continua sendo a principal recomendação, mesmo para quem não sente sede. O uso de soro fisiológico para higienizar as vias nasais também ajuda a evitar o acúmulo de secreções e a entrada de partículas tóxicas.

Sobre a lavagem nasal, a pneumologista alerta: “É uma aliada para melhorar a limpeza e hidratação da mucosa nasal e deve ser feita com cautela, obedecendo sempre a técnica adequada. O uso inadequado pode levar a complicações como infecção de ouvido.” A frequência deve ser orientada por profissional de saúde, especialmente para crianças e pessoas com doenças respiratórias.

Em casa, recomenda-se manter os ambientes ventilados e, se possível, utilizar umidificadores ou recipientes com água. A limpeza dos cômodos deve ser feita com pano úmido para evitar que a poeira se espalhe pelo ambiente. Outra orientação é evitar atividades físicas em locais abertos entre 10h e 16h, quando a umidade atinge os níveis mais críticos.

Para proteger crianças, idosos e adultos, Letícia sugere: “Evitar atividades ao ar livre nos períodos mais frios do dia e nos horários de menor umidade relativa do ar ou de maior poluição suspensa. Reforçar a hidratação oral. Manter problemas respiratórios crônicos tratados e controlados, e fazer as vacinas de proteção para infecções respiratórias virais e bacterianas.”

O cuidado também passa pela conscientização da população quanto ao uso do fogo em áreas rurais. Em Goiás, a queima controlada é proibida entre maio e setembro, período mais seco do ano. Mesmo assim, a fiscalização enfrenta dificuldades, e os focos de incêndio continuam aumentando.

Relatórios recentes da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás (Semad) mostram que o número de focos de queimadas tem crescido em relação ao ano passado. Só nos primeiros 18 dias de maio de 2025, já foram registrados 179 focos no Estado, com destaque para o Sudoeste goiano.

O governo estadual, em parceria com o Inpe, utiliza o sistema “Monitor de Queimadas”, ferramenta que identifica focos de incêndio em tempo real. Apesar dos avanços tecnológicos, o combate às queimadas ainda é um desafio.

Além dos problemas respiratórios, o tempo seco também agrava outras questões urbanas. A baixa umidade aumenta a concentração de poluentes no ar, eleva o risco de incêndios urbanos e sobrecarrega os serviços de saúde, coleta de resíduos e abastecimento de água. Em áreas rurais e periféricas, a situação é ainda mais preocupante, com comunidades inteiras expostas à fumaça de queimadas próximas.

Letícia finaliza: “Os portadores de doenças respiratórias precisam estar com a doença tratada e controlada, evitar exposições que acentuem riscos, como tabagismo e uso de fogão a lenha, e manter o calendário vacinal em dia para evitar complicações graves por doenças preveníveis.”

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