Vai mudar tudo na política com federações e janela
Deputados poderão fazer durante 30 dias entre março e abril algo a que prefeitos, governadores e o presidente estão autorizados sempre: pular fora dos partidos
A imprensa, inclusive a 100% digital, costuma citar um político e informar à frente a que partido pertence. Os ocupantes de cargos majoritários dão a maior canseira – como podem mudar de sigla quando querem, sem qualquer consequência, é difícil dizer onde estão (aliás, onde é para situações mais sólidas, para eles é aonde estão). Você seria capaz de dizer a que partido o senador Vanderlan Cardoso está filiado sem consultar o Google? Está no PSD – pelo menos estava quando este parágrafo foi redigido. Além de senadores, os governadores, o presidente da República e os prefeitos mudam de casaca quando resolvem, sem qualquer amarra legal. Deputados (federais, estaduais e distritais) e vereadores morrem de vontade de participar da farra, mas têm de esperar a chamada janela da infidelidade. É quando abrem-se as porteiras para o troca-troca de agremiação sem colocar em risco o mandato. E muda tudo.
Em 2026, a janela será de 6 de março a 5 de abril, pois as eleições serão no dia 4 de outubro e, em caso de 2º turno ocorrerá no último domingo do mês, 25. O governador Ronaldo Caiado e outros que desejam se candidatar a cargos diferentes terão de se desincompatibilizar (ou seja, sair) no mínimo com seis meses de antecedência. Caiado já disse que vai renunciar antes, como quando saiu do Senado para assumir a chefia do Executivo de Goiás. Ele também já falou que vai continuar no União Brasil, seu partido desde sempre, mas caso queira mudar pode fazê-lo já fora da governadoria.
Dois chefes de poder podem cair fora
Outra mudança bastante aguardada, fora a de Caiado, é a do presidente da Assembleia Legislativa, Bruno Peixoto. A articulação seria para ele ser deputado federal, se for eleito, por um partido que presida no Estado. A continuar no União Brasil, seu papel seria restrito. Sendo eleito por um satélite que domine, como o Avante ou o PSB, poderá ter uma liderança na Câmara dos Deputados e o comando em Goiás. Por enquanto, é pura especulação prever que os chefes dos dois poderes, o Legislativo e o Executivo, deixarão o UB.
Mas não seria um cenário ruim para ambos: mantendo-se no União Brasil, Caiado é vítima da federação que o partido fez com o PP, a União Progressista, presidida pelo senador Ciro Nogueira (PI), que apareceu neste fim de semana contando ter confessado ao ex-presidente Jair Bolsonaro que descartou a vontade de ser candidato a vice-presidente da República. Tentou levar Bolsonaro no bico. Ciro quer, sim – mais precisamente, procura abrigo na chapa do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos, mas de saída para PL, União Brasil ou qualquer outro). Tarcísio é que não o quer.
Ciro Nogueira foi muito amigo do senador Wilder Morais (PL), quando ambos estavam no PP. Gambirou de turma quando o então deputado federal Alexandre Baldy (Podemos) foi para o Ministério das Cidades do governo de Michel Temer (MDB), inclusive com apoio de Wilder. Aconteceu em 2018 o que vai acontecer em 2026: tudo mudou para ficar do mesmo jeito. Wilder foi para o União Brasil a convite de Caiado e deixou o diretório regional do PP para Baldy, que chamou Vanderlan para ser candidato ao Senado e resultou nisso que está aí.
Separem Caiado e Ciro
Se a tropa do deixa-disso não entrar em campo para dar um break na rusga entre Caiado e Ciro, fica mais perto de se repetir no próximo ano a rusga de duas eleição atrás, quando Baldy saiu do grupo do então governador Marconi Perillo e foi apoiar Daniel Vilela contra Caiado e José Eliton. A diferença é que Baldy e seu irmão Joelzinho Sant’Anna agora ocupam cargo de primeiríssimo escalão, o 1º distribuindo casas de graça junto com Gracinha Caiado e o 2º cuidando da atração de empresários. Um ruído ecoa no ar: Baldy pretende ser novamente candidato a senador e resta uma vaga junto com a de Gracinha – não se sabe se para ele.
Deputados vão pular mais que menino em festa infantil
Entre os deputados federais e estaduais, vai ter mais pula-pula que em festa infantil. O HOJE contabilizou 31 possibilidades de trairagem entre os 41 componentes da Assembleia, a começar de Bruno Peixoto e do vice-presidente Clécio Alves. Só os do PT e os do PL estão grudados nas siglas, outros podem se soltar com uma simples molhada de mão.
Dos membros do Congresso Nacional, que garantia Ismael Alexandrino tem de que o PSD presidido regionalmente por Vanderlan está fazendo chapa de deputado federal? Marussa Boldrin foi eleita com apoio do tripresidente (da Faeg, do Senar, do Sebrae e vice da CNA) José Mário Schreiner. Só que ambos estão no MDB, mesmo partido de Daniel Vilela, de que Zé Mário será vice e não tem como um mesmo partido ocupar os dois postos. Se o padrinho mudar, a afilhada vai junto.
No caso da Câmara, os petistas não deixarão a sigla, porém o mesmo não se pode dizer dos liberais: o PL elegeu quatro deputados federais, Daniel Agrobom, Gustavo Gayer, Magda Mofatto e Professor Alcides. Os dois últimos já saíram, ela pode voltar, ele faz que vai, não vai, nem volta. O 1º pisca para Caiado no União Brasil, mas seu eleitorado no Sudoeste é mais caiadista que o Gayer.
Há 3 federações. Spoiler: a de PP e UB não existem
Outro fator que pode provocar arrepios nas alianças são as federações. Os partidos se unem lá em Brasília e seus diretórios regionais e municipais se veem obrigados a seguir o que as cúpulas impõem. O Supremo Tribunal Federal decidiu que as federações partidárias terão até 4 de abril para se registrar no Tribunal Superior Eleitoral.
Até a eleição passada, havia três: a Brasil da Esperança, formada por PT, PCdoB e PV, presidida por José Luiz Penna, do PV; a PSDB Cidadania, compostas pelos dois partidos e presidida pelo ex-governador de Goiás Marconi Perillo; e a PSol-Rede, integrada pelas duas siglas de esquerda e comandada por Paula Coradi, da Rede.
Ué, falta uma! Cadê a União Progressista? Por enquanto, é só migué. Ciro Nogueira preside uma federação que foi lançada e… apenas isso, não está registrada no TSE. Portanto, ainda está em tempo de passar menos vexame e acabar no berço antes que o monstro cresça.