Extinção de afluentes do Rio Araguaia vira caso de polícia

Delegacia acredita que mais afluentes podem secar

Postado em: 16-10-2021 às 08h14
Por: Maiara Dal Bosco
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Delegacia acredita que mais afluentes podem secar | Foto: Reprodução

A Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente (Dema) abriu um inquérito e vai investigar os motivos que estão levando o Ribeirão Água Limpa, afluente do Rio Araguaia, a secar. Nos próximos dias, a delegacia deverá ouvir responsáveis por empresas e realizar perícias. O entendimento é de que pivôs tenham sido instalados para captação de água voltada para a produção de soja, milho, feijão e até mesmo para áreas destinadas à pastagem.

Ao jornal O Hoje, o delegado responsável pela Dema, Luziano de Carvalho explicou que a Delegacia recebeu várias denúncias a respeito da instalação, implantação e funcionamento de pivôs centrais no Lago Água Limpa. “A informação que chegou até nós é que este lago não estava vertendo mais. Devido à tamanha captação de água, não estava chegando ao Rio Araguaia”, afirmou.

À reportagem, o delegado explicou que, diante das denúncias, a Polícia Civil esteve no local para fazer um levantamento preliminar do caso, ocasião em que constataram que, de fato, o Água Limpa não estava se tornando para o Rio Araguaia. “O Araguaia estava alimentando o rio menor, e isso não ocorre na natureza. É o afluente que chega no Araguaia e não o contrário. Por ser uma planície, isso só acontece quando vêm as primeiras chuvas, o que não é o caso. Então a conclusão é que está sendo retirada muita água”, explicou Luziano, acrescentando que o Araguaia não é apenas um patrimônio ecológico.

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“Ele é riquíssimo do ponto de vista econômico. Temos que ter equilíbrio entre a produção e a proteção ambiental, ainda mais quando falamos em solo e em água”, destacou. Nesta semana, Luziano de Carvalho adiantou que deverão ser ouvidos representantes das empresas responsáveis pela instalação dos pivôs, bem como perícias deverão ser realizadas no local. “Verificaremos as documentações das empresas e serão realizadas perícias. Já temos imagens, mas a perícia precisa ir ao local e verificar inclusive, sobre as licenças”, finalizou o delegado.

Falta de Conscientização

Em setembro, a reportagem de O Hoje, em contato com a Dema, já havia noticiado que a falta de conscientização por parte da população agravou a seca do Rio Araguaia. Dois afluentes do rio já se encontram completamente secos em alguns pontos. O rio do Peixe e o rio Javaés estão com leito interrompido por conta da degradação que levou a seca. Atualmente, é possível atravessá-los a pé, com água abaixo da canela, a terra tomou conta de grandes espaços, onde antes percorria a água.

Para se ter uma ideia, na região de Nova Crixás (GO), no final de setembro, um canal do Araguaia estava em terra fofa. Locais que, anteriormente, eram cheios de água e repletos de peixes estão na terra e na poeira. A população chega a passar de carro por um dos canais do Araguaia, onde, até há pouco tempo, corria o leito do rio e só era possível sair de canoa ou barco. Vídeos de uma moradora de Aruanã, no Oeste de Goiás, mostravam o Rio do Peixe, que é afluente do Rio Araguaia, muito seco. Era possível ver vários barrancos de areia e a água batendo apenas nos calcanhares da mulher, que atravessou o leito de uma ponta a outra a pé.

Araguaia

O Araguaia nasce perto do Parque Nacional das Emas, no município de Mineiros (GO), e deságua no Rio Tocantins, formando uma grande rede hidrográfica que une a Região Centro-Oeste ao Norte do Brasil. O Rio Araguaia possui uma extensão de 2 mil km e é navegável em grande parte de seu curso – 1.818 Km, com profundidade mínima de 0,8 m. Os acidentes geológicos são de pequeno porte, mas frequentes. Quando as águas baixam, aparecem boa quantidade de travessões e rápidos. (Especial para O Hoje)

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