Intoxicação por agrotóxicos preocupa quem consome frutas e verduras

Falta de cuidados na preparação de alimentos agrícolas expõe consumidores a riscos de saúde

Postado em: 12-01-2024 às 08h56
Por: Alexandre Paes
Imagem Ilustrando a Notícia: Intoxicação por agrotóxicos preocupa quem consome frutas e verduras
Uso de agrotóxicos preocupa saúde estadual, que promove ações para reduzir riscos dos produtos aos trabalhadores rurais | Foto: Fernando Frazão/ABr

Um crescente número de casos de intoxicação por agrotóxicos tem colocado em destaque a importância da higienização adequada de frutas, verduras e hortaliças. Consumidores desavisados, ao negligenciar procedimentos simples de limpeza, acabam ficando expostos a resíduos de substâncias químicas prejudiciais à saúde.

Com Goiás na terceira posição de maior consumidor de agrotóxicos no Brasil – que, por sua vez, lidera esse ranking no mundo –, são preocupantes as consequências do uso desses produtos na saúde pública. Apenas em 2023, o Estado registrou 480 casos de intoxicação por agrotóxicos, que também impactam o meio ambiente e estão relacionados a problemas de saúde, como o câncer. 

Os dados foram apresentados no 2º Seminário Agrotóxicos e Saúde, realizado pela Superintendência de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (Suvisa/SES). O evento é alusivo ao Dia Internacional de Luta contra os Agrotóxicos (3/12), instituído após o vazamento em fábrica de agrotóxicos na Índia, em 1984, que matou cerca de 25 mil pessoas. 

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“Nos seis últimos anos houve uma entrada massiva de agrotóxicos, inclusive alguns proibidos em outros países. E, com certeza, trazem impactos para o solo, água, ar e alimentos que nós ingerimos”, afirmou a gerente de Vigilância Ambiental e Saúde do Trabalhador da SES, Edna Covem. Ela lembrou ainda dos impactos no SUS. “As consequências do uso indiscriminado vão chegar nas unidades de saúde, na reabilitação e na recuperação das pessoas que estão contraindo doenças graves e crônicas.” 

A contaminação por agrotóxicos ocorre quando produtos agrícolas, cultivados com o uso dessas substâncias, não são devidamente higienizados antes do consumo. Os resíduos químicos presentes em frutas e vegetais podem causar uma série de problemas de saúde, desde irritações na pele até complicações mais sérias, como distúrbios gastrointestinais e danos ao sistema nervoso.

Uma pesquisa da Universidade Federal de Goiás (UFG), também apresentada no seminário, mostrou os impactos dos agrotóxicos para a saúde de trabalhadores rurais, que desenvolveram câncer após exposição a esses produtos. A pesquisa faz o acompanhamento do tratamento dessas pessoas no Hospital Araújo Jorge, em Goiânia. 

Ao todo, foram avaliados os prontuários médicos de 1.453 pacientes entre os anos de 2010 e 2021. “A maioria desses trabalhadores chega no serviço de saúde já muito doentes”, afirmou a coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da UFG, Daniela de Melo e Silva. “De 85% a 90% dessas pessoas (acompanhadas no projeto) foram a óbito”, acrescentou.

Especialistas alertam que, ao ingerir alimentos sem uma adequada remoção de agrotóxicos, os consumidores estão potencialmente sujeitos a acumular toxinas no organismo ao longo do tempo, elevando os riscos para a saúde a longo prazo. Crianças e idosos, devido à vulnerabilidade de seus sistemas imunológicos, estão particularmente em risco.

A falta de conscientização sobre os perigos associados aos agrotóxicos e a ausência de práticas corretas de higienização são fatores que contribuem para a ocorrência desses casos. As autoridades de saúde destacam a importância de lavar cuidadosamente frutas e verduras sob água corrente, utilizando escovas específicas para superfícies mais ásperas, como cascas.

Campanhas de educação pública têm sido implementadas para informar os consumidores sobre os riscos e promover práticas seguras na preparação dos alimentos. “O setor agrícola também está sendo acompanhado e orientado a adotar métodos de cultivo mais sustentáveis e a reduzir o uso de agrotóxicos, visando a proteção da saúde pública e do meio ambiente”, explica Lorena Nunes, coordenadora de Fiscalização Ambiental da SES-GO.

Com a conscientização e mudança de hábitos, espera-se que os consumidores adotem medidas simples, mas cruciais, para proteger sua saúde ao consumir produtos agrícolas. “A higienização adequada não apenas resguarda os indivíduos dos riscos associados aos agrotóxicos, mas também contribui para a construção de um sistema alimentar mais seguro e saudável para todos”, aponta a nutricionista Bruna Alves. 

Conscientização pública

Para mitigar esses riscos, a Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES) está implantando a Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos no Estado, programa do Ministério da Saúde. Já foram elencados 47 municípios prioritários, que estão em processo de adesão voluntária ao projeto. 

A pasta também atua com capacitações de profissionais de saúde para a efetiva vigilância do problema. Foi criado também o Fórum de Saúde do Trabalhador Rural, que tem a exposição aos agrotóxicos como uma das linhas de atuação, e conta ainda com o Programa de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Contaminantes Químicos (Vigipeg). 

“O programa vai ajudar as equipes de saúde no diagnóstico e solicitação de exames que comprovem a intoxicação por agrotóxicos. Na maioria das vezes os trabalhadores agropecuários se intoxicam por estarem próximo de uma área pulverizada. Na chegada à unidade os profissionais farão uma anamnese para implementar o protocolo correto de tratamento e desintoxicação desse paciente”, finalizou Lorena.

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