Ator de ‘House of Cards’ diz que nova temporada sai da zona de conforto

Para Michael Kelly, nova leva de episódios da série triunfa ao flertar com o fracasso

Postado em: 23-03-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa

Por Janaina Figueiredo

Ele diz não se parecer em nada com o personagem que interpreta na série House of Cards, o fiel, eficiente e assustador chefe de gabinete da Casa Branca Doug Stamper, com exceção da dedicação de ambos a seus trabalhos. E, de fato, Michael Kelly pou­co tem a ver com o braço direito do presidente Frank Underwood (Kevin Spacey), capaz até mesmo de matar para proteger seu chefe e sustentar seu projeto de poder. Em rápida visita a Buenos Aires, onde encantou-se com “a sensualidade do tango” e deliciou-se com “malbec e comidas maravilhosas”, Kelly assegurou que, em sua quarta temporada, a série da Netflix que já virou um fenômeno mundial conseguiu superar o desafio de “sair da zona de conforto”.

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“Amo a quarta temporada, estou orgulhoso dela. Conversei com Beau Willimon (criador e roteirista da série) e sabia que seu objetivo era desafiar-se, ele queria ver o que aconteceria se os personagens principais fracassassem. Foi muito valente – comentou o ator, que considera House of Cards, sobretudo, “uma série sobre o poder”.

No atual contexto regional, as comparações entre as intrigas de Underwood e seus opositores, a campanha eleitoral americana e até mesmo a crise brasileira são cada vez mais intensas. Semana passada, o jornal alemão Die Zeit afirmou que “a política brasileira já é melhor do que House of Cards. Dias depois, o perfil da série no Twitter publicou um gif de Underwood junto com a frase “assistindo às notícias vindas do Brasil hoje”.

Perguntado sobre a brincadeira, Kelly garantiu “que não teve nada a ver com isso” e tentou evitar comentários sobre a delicada si­tuação da presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT. “Sei da crise econômica e imaginei que levaria, inevitavelmente, a uma crise política. Li sobre o Twitter e só quero esclarecer que não sou responsável por ele”, disse o ator, em tom irônico.

Ele gosta de falar sobre política real, mas, como muitos outros americanos, está deixan­do de achar engraçado traçar semelhanças entre Underwood e o pré-candidato à Presidência do Partido Republicado, Donald Trump, grande favorito das primárias que estão sendo realizadas no País. “É injusto para Frank Underwood ser comparado com Donald Trump e já perdeu a graça, porque está se tornando realidade”, afirmou Kelly, deixando, por apenas alguns segundos, de sorrir.

A campanha eleitoral americana o preocupa. Segundo o ator, “até mesmo House of Cards parece naïf ao lado do que estamos atravessando como país. Estamos mais divididos e vivendo uma etapa muito dura”.

“Nós, como House of Cards, parecemos mais normais do que estamos vendo na política verdadeira. É doloroso, acho que merecemos um estadista que represente nosso povo com decoro, que respeite todo mundo”, enfatizou ele.

Voltando ao mundo construído ao redor do casal Underwood, as novidades e surpresas da quarta temporada lançada recentemente pela Netflix cativaram até mesmo seus protagonistas. Kelly está encantado com a incorporação da atriz Neve Campbell, que interpreta Leann Harvey, a bem-sucedida marqueteira e assessora política convocada por Claire Underwood (Robin Wright) para dar impulso a uma carreira política que busca ofuscar a do próprio marido.

“Eu a chamo de lady Stamper… ela é maravilhosa, encaixou de uma maneira mágica na história, tão natural, tão perfeita”, elogiou o ator, que disse passar muito tempo com sua nova companheira de elenco: “Nos demos muito bem, acho que é a pessoa com quem mais converso durante as gravações”.

Na série, Doug e Leann têm um relacionamento tenso, contaminado pela queda de bra­ço entre Claire e Frank.

“Os Underwood se amam, mas também se respeitam e respeitam a capacidade que cada um tem de conseguir o que quer. Não falaria em ódio, não se trata disso. Na quarta temporada ficou claro que Claire é tão perigosa co­mo seu marido”, analisou Kelly.

Para ele, Doug Stamper “é o melhor presente” que já recebeu: “Sinto-me recompensado como ator. Amo Doug e o entendo, ele não é uma má pessoa, faz coisas más, o que é algo bem diferente”.

Como fã de carteirinha da série da qual participa, o ator espera ainda ter várias temporadas pela frente, mas garante que nem ele sabe quantas mais virão. “Sei que haverá uma quinta, talvez uma sexta… por mim, faria esta série para sempre. Mas chega uma hora em que a história acaba de ser contada”, lamentou, ciente de que, algum dia, deverá despedir-se de Doug Stamper, homem que define como “dependente de muitas coisas, entre elas de Underwood e do álcool, mas que nun­ca perde o controle, não esquece de nada nem de ninguém. Com ele, tudo está friamente calculado”.

*Correspondente de O GLOBO

 

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