Museu abre mostra em homenagem a Sílvio Santos

Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, abre mostra em homenagem ao Homem do Baú, com detalhes curiosos sobre a carreira do maior comunicador do Brasil

Postado em: 13-12-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, abre mostra em homenagem ao Homem do Baú, com detalhes curiosos sobre a carreira do maior comunicador do Brasil

Júnior Bueno

Jô Soares bem que tentou fazer de Sílvio Santos o último entrevistado do Programa do Jô, encerrando esta que é a última temporada do ‘talk show’ e também de uma carreira de 28 anos comandando programas de entrevistas. Mas o dono do SBT foi irredutível e o motivo dele foi bem peculiar. Sílvio Santos não concede entrevistas por medo de morrer. Quando visitou os Estados Unidos, no começo deste ano, ele se consultou em um cigana. Lá, a vidente o teria aconselhado a não dar entrevistas, pois, se o fizesse, poderia morrer logo após uma delas. Verdade ou não, o fato se mistura às histórias inusitadas que cercam o Homem do Baú. Aos 86 anos, completados ontem (12), Sílvio tem sua trajetória revista em uma mostra no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo.

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Intitulada Sílvio Santos Vem Aí, a exposição conta com muita interatividade e nostalgia e vai até o dia 12 de março do ano que vem. Silvio aparece em holograma na entrada do museu convidando o público. “Espero que não fiquem entediados”, diz o apresentador no vídeo. A mostra recriou programas famosos, e o público pode matar a saudade e brincar como se estivesse na televisão, ao vivo, com o apresentador, como o no Domingo no Parque, o Qual é a Música e rodar o pião do Baú da Felicidade.Também foram remontados os cenários de Boa Noite, Cinderela, Namoro na TV, Roletrando e Show do Milhão, entre outras atrações clássicas de Silvio.

Na Porta da Esperança, os visitantes poderão concorrer a um prêmio do MIS e do SBT. Para isso, devem escrever uma carta contando como Silvio Santos marcou a vida deles e enviá-la ao museu ou depositá-la na exposição, em uma urna localizada no ambiente do programa. A exemplo das exposições sobre o Castelo Rá-Tim-Bum e sobre a Vila do Chaves, a expectativa é que haja uma procura intensa por ingressos de Sílvio Santos Vem Aí. 

O jornalista Maurício Stycer, do site Uol adiantou em sua coluna que além da importante homenagem que representa, a exposição sobre tem, também, o mérito de desfazer lendas, corrigir erros e estabelecer critérios para uma biografia do apresentador.“Nos contatos com a equipe do museu, o dono do SBT deixou claro que o principal livro a seu respeito, A Fantástica História de Silvio Santos, de Arlindo Silva, não deve ser levado totalmente ao pé da letra.”, escreveu Maurício. A exposição corrige, por exemplo, o título do filme que ele viu repetidas vezes na juventude. O livro fala no western O Vale dos Desaparecidos (1942), mas Silvio esclareceu para a equipe do museu que era o drama Always in My Heart (1942).

Por conta desta informação, a curadora da mostra, Gabrielle Araujo, perdeu algumas semanas até encontrar uma cópia em DVD do filme – trechos são exibidos na exposição.Também ficou de fora da mostra, por não ser verdade, segundo Silvio, um episódio dramático contado por Arlindo. O menino SenorAbravanel – verdadeiro nome de Sílvio – teria escapado de ir a um cinema que pegou fogo porque, no dia, estaria com febre e a mãe o obrigou a ficar em casa.Mais importante, ainda, Silvio elencou para o museu quem são as pessoas que considera fundamentais em sua trajetória – aquelas que, de alguma maneira, o ajudaram, contribuíram ou tiveram influência em seus passos. Diante de uma lista de nomes, o empresário aprovou alguns e rejeitou outros que seriam incluídos em uma espécie de calçada da fama colocada ao longo de toda a exposição.

Segundo Stycer, Sílvio aprovou 18 nomes, alguns bem conhecidos dos seus fãs, como Manoel da Nóbrega, Luciano Calegari, Roque, Lombardi, Jassa, Guilherme Stoliar e Carlos Alberto de Nóbrega. Mas rejeitou, por exemplo, o nome de Hebe Camargo, sob o argumento de que ela não teve maior importância em sua trajetória e que não eram amigos.O MIS sugeriu uma homenagem a João e Dulce Figueiredo. O dono do SBT observou que recebeu ajuda da então primeira-dama, Dulce Figueiredo. Por este motivo, o museu optou por deixar de fora o nome de seu marido, o general João Figueiredo, presidente do Brasil entre 1979 e 1985. 

O mesmo ocorreu com o ministro das Comunicações da época, Haroldo Correa de Mattos. Esta observação de Silvio confirma a lenda de que tinha uma boa relação com a primeira-dama e que ela teve papel importante no lobby a favor da concessão do canal de TV ao empresário. Mas o apresentador, esperto, preferiu não exaltar uma figura ligada à ditadura militar no Brasil.

Principal responsável pela pesquisa e seleção do material, Gabrielle Araujo recomenda ao visitante dispor de, no mínimo, 90 minutos para usufruir do material que está em exposição. Uma das preciosidades que ela garimpou é um vídeo da Record, Especial Dia D, no qual Silvio dirige um táxi e beija Wanderléa, além de entrevistar Roberto Carlos. Mas o próprio Sílvio Santos, que visitou a exposição no dia de seu aniversário, disse que é necessário mais tempo. “Pena que eu não tenha tanto tempo para poder ver tudo. Se a pessoa vier para cá para poder ver tudo vai demorar no mínimo umas quatro horas. Tem muita coisa. Tem coisas que eu nem pensava mais que existia”, disse Silvio Santos ao site Uol.

Em sua pesquisa junto às emissoras, Gabrielle se surpreendeu ao ouvir da Globo que não havia nada sobre Silvio Santos no seu acervo, ainda que ele tenha apresentado seu programa na emissora por mais de 10 anos, entre 1965 e 76. Vídeos de um clássico desta época, o quadro Boa Noite Cinderela, só aparecem na exibição no MIS graças a empréstimos de colecionadores particulares.Até mesmo o vídeo do desfile da escola de samba Tradição, em 2001, que homenageou Silvio, foi difícil de obter. A Globo só o enviou na véspera da abertura da exposição.

Ainda que o foco sejam as facetas de comunicador e empresário de Silvio Santos, a exposição dá espaço, também, para as suas malsucedidas tentativas de entrar para a política. Entre as relíquias resgatadas, há vídeos impagáveis de Silvio Santos dando entrevista como candidato e um cartaz no qual o SBT observa que, durante a propaganda eleitoral, o Patrão estava aparecendo em todas as emissoras.Ideia antiga do MIS, a exposição só começou a se materializar em abril deste ano, depois que o SBT deu sinal verde. A emissora fez poucos reparos ao projeto – um deles foi exigir a inclusão de referências a Bozo, Chaves, Show do Milhão e Casa dos Artistas. “Os dois primeiros são ‘descobertas’ de Silvio, a respeito das quais ele se orgulha muito. Reza a lenda que chegou a pensar em ele mesmo encarnar o personagem Bozo na TV, mas foi demovido da ideia por diretores da emissora na época.”, disse Maurício Stycer.

Outra preciosidade da mostra é o filme Ninguém Segura Essas Mulheres (1976) – primeira e única incursão de Silvio Santos no cinema. Trechos do filme, cuja única cópia conhecida está na Cinemateca de São Paulo, podem ser vistos no MIS. 

 Foto: reprodução 

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