Trilogia Rua do Medo é mais uma aposta acertada da Netflix

Série de filmes presta homenagem a clássicos do terror ao mesmo tempo em que aborda temas modernos e inova no formato de lançamento

Postado em: 08-08-2021 às 09h01
Por: Giovana Andrade
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Série de filmes presta homenagem a clássicos do terror ao mesmo tempo em que aborda temas modernos e inova no formato de lançamento | Imagem: Reprodução

Lançada em julho de 2021 pela Netflix, a trilogia Rua do Medo, original da plataforma, repercutiu de forma que os três filmes da série ficaram entre os 10 mais assistidos no serviço de streaming. Adaptação da obra homônima de R.L. Stine, apelidado de “Stephen King da literatura infantil”, autor de centenas de romances de ficção de terror infanto-juvenil, a trama dos filmes se passa em três datas, 1994, 1978 e 1666, e narra o mistério da pequena cidade de Shadyside, conhecida por ser palco de inúmeros casos de moradores que se revelam serial killers inescrupulosos. 

Destinada ao público adolescente, a produção presta uma homenagem aos filmes slasher dos anos 70, 80 e 90, com muito sangue, perseguição e cenas gore. Além disso, especialmente nas duas primeiras partes, são utilizados cenários, figurinos e trilha sonora típicos dos anos 80 – uma fórmula de sucesso, como comprovado pelo fenômeno Stranger Things, outro original Netflix. No primeiro filme, Rua do Medo: 1994, o espectador é apresentado a um grupo de amigos que, perseguidos por assassinos após um acidente, começam a investigar as origens do mal que assola Shadyside e sua relação com a lenda de Sarah Fier, uma bruxa que, supostamente, amaldiçoou a cidade. 

A trilogia melhora a cada filme, o que pode ser lido como um bom sinal, mas a verdade é que a primeira parte deixa a desejar nas atuações e na apresentação da história, que poderia ter sido melhor executada. Entretanto, como muitas perguntas permanecem sem respostas ao final do filme, a curiosidade é o suficiente para garantir que as duas próximas partes também sejam assistidas, trazendo uma grata surpresa na medida em que as produções melhoram enquanto a história ganha corpo. Um ponto de destaque é o tratamento das personagens femininas, protagonistas das três partes, que oferece uma espécie de redenção pela forma como as narrativas de terror costumavam tratar as mulheres. 

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Em 1978, Sadie Sink se destaca ao interpretar Ziggy, uma personagem bem mais cativante que Deena (Kiana Madeira), a protagonista do primeiro filme, que toma algumas decisões questionáveis no decorrer da trama e garante momentos de estresse. Com melhores atuações e roteiro, o segundo filme proporciona um mergulho mais profundo na maldição que assola Shadyside, bem como sua relação com a cidade vizinha, Sunnydale, e as respostas são dadas junto a novos questionamentos, na medida exata para instigar o espectador. 

Enquanto 1994 e 1978 remetem a clássicos do terror slasher, a ambientação de 1666 nos leva diretamente para uma vila medieval onde prevalecem a ignorância e o medo, lembrando filmes como A Bruxa (2015). Para garantir que o terceiro filme não se distanciasse tanto dos demais, a produção tomou a esperta decisão de utilizar os mesmos atores das duas primeiras partes, colocando Kiana Madeira, atriz que interpreta Deena, na pele de Sarah Fier. 

Embora os dois primeiros filmes possam passar a impressão de uma violência gratuita e exagerada, a semente para as discussões levantadas em 1666 já haviam sido plantadas, afinal, os filmes funcionam em conjunto. O último filme capricha no drama e na história introduzida no primeiro filme e desenvolvida no segundo, e apresenta problemáticas atemporais, que assolam a sociedade desde a Idade Média, na caça às bruxas, até a contemporaneidade.

A trilogia Rua do Medo não reinventa o terror, nem tampouco se aproxima da excelência alcançada pela Netflix em outras produções do gênero, como a antologia composta por A Maldição da Casa Hill (2018) e A Maldição da Mansão Bly (2020), mas é preciso dar os créditos aos pontos positivos da produção. Semelhante à maioria dos originais da Netflix, a proposta principal dos três filmes é divertir o público, papel cumprido com sucesso. Além disso, funcionou muito bem a decisão de produzir uma trilogia e lançar os três filmes em sequência, com a diferença de uma semana entre cada. Mas o verdadeiro destaque fica para os temas tratados na trama, especificamente na última parte. 

Apesar de os três filmes contarem com cenas de matança e muito sangue, a parte final evidencia o verdadeiro diferencial da trilogia: a abordagem de questões que dizem mais respeito à humanidade do que a monstros e demônios de natureza inexplicável.

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