Das quebradas de Brasília para o mundo 

Os rappers, Hungria e Tribo da Periferia realizaram uma noite inesquecível em Goiânia

Postado em: 08-04-2024 às 10h20
Por: Letícia Renata
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Em uma época em que o rap sofria discriminação expressiva, até da própria periferia, nascia a dupla que já conta com uma carreira extensa, a Tribo em outros tempos tinha | Foto: Reprodução/Instagram

Donos dos versos ‘e eu sou mais um maloqueiro da quebrada, que tá virado desde outras madrugadas, depois das onze, já não pensa mais em nada, só quer viver que a vida é única, é única’. E uns dos nomes mais populares da cena do rap e do hip-hop brasiliense, Hungria e a Tribo da Periferia, dupla formada por Look e DuckJay, incendiaram a Arena Multiplace no último final de semana com os sucessos da carreira. 

O rapper Hungria é conhecido pela força em suas letras e sua representatividade ao longo de mais de 15 anos de carreira. Sucessos como ‘Amor e Fé’, ‘Lembranças’ e ‘Temporal’ estão no repertório do cantor. Conhecida por ser referência no rap, a Tribo da Periferia traz na bagagem 25 anos de carreira e músicas que tocam nos quatro cantos do Brasil. ‘Imprevisível’, ‘Nosso Plano’ e ‘Resiliência’ são alguns dos hits do grupo.

Em uma época em que o rap sofria discriminação expressiva, até da própria periferia, nascia a dupla que já conta com uma carreira extensa, a Tribo em outros tempos tinha que conquistar os fãs no corpo a corpo. Como não existia internet, os músicos dependiam muito das rádios e DJs para tocar as músicas nas festas. Hoje suas músicas rodam nos quatro cantos do mundo através de qualquer plataforma de música ou como um bom apreciador de rap, num carro rebaixado ‘topado’ de som. 

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A história do grupo nasceu nas raízes do Distrito Federal, em 1998, quando Luiz Fernando Correia da Silva, com nome artístico de Duckjay, decidiu dar o primeiro passo para esse sonho, compondo sua primeira letra musical. Duckjay ouvia frequentemente músicas que tratavam da situação que os próprios cantores enfrentavam. Como as dificuldades financeiras e sociais de quem vive em regiões da periferia. Desde então, a Tribo foi tomando novas formas e ganhando novos protagonistas, como Look (Nelcivando Lustosa Rodrigues), que desde 2016 segue ao lado de Duckjay conectando cada vez mais pessoas. 

Com um leque extenso de histórias e experiências pela cidade, a temática das músicas não poderia ser diferente. Falando das dificuldades de se viver nas quebradas do Brasil e também sobre os sonhos de quem almeja um futuro melhor.  São mais de 3 bilhões de visualizações no Youtube, algo inédito para artistas do rap e hip-hop no Brasil. No Spotify são 3 milhões de ouvintes mensais e possuem a marca de mais de 2 milhões de seguidores no Instagram. Com apresentações por todo território nacional, Duckjay e Look arrastam multidões por onde passam.

Quem disse que o favela não pode morar no lago

Nascido na Ceilândia, em Brasília, Gustavo da Hungria Neves começou a compor aos 8 anos e aos 14 já lançava sua primeira música. Animado com o sucesso, Gustavo decidiu que precisava de um nome artístico, foi aí que ‘adotou’ seu sobrenome – Hungria. 

Mesmo nascido em um bairro simples, o rapper não deixou que a realidade impedisse que seus sonhos se tornassem realidade. Com pura determinação e talento, Hungria enfrentou os obstáculos da vida. O artista destaca que as suas motivações para correr atrás dos seus objetivos, seguem sendo as mesmas até hoje, sua mãe e a fé.

“Minha mãe me motiva até hoje a não desistir. Sempre fui um moleque muito sonhador e sem dúvida nenhuma a fé, né? E se eu falar que eu tinha certeza que meu trampo ia dar certo, eu vou estar mentindo. Várias vezes pensei que não ia dar certo, mas deu, né? Tenho certeza absoluta que em vários momentos da minha vida, Deus que estava falando, vai só mais um pouco. É como se fosse um corredor de maratona que ele tá correndo vedado. Se ele parar, mano, ele já tá muito perto. Quando o cansaço bater, é que está muito perto da vitória chegar”, afirma.

Fenômeno na internet com estilo inovador e um ritmo originalmente gringo, Hungria conquistou o público com músicas que retratam a vida dos jovens, baladas, relação com dinheiro e conquistas materiais. Hoje, o artista de 32 anos atrai pessoas por onde passa com seu estilo musical inovador e mensagens positivas.

É conhecido também por ser um dos cantores que não utiliza o rap como plataforma de protesto, por não abordar temas como criminalidade e política, focando apenas em falar sobre superação, conquistas e passar uma mensagem positiva.

“Quando eu entrei nessa linhagem do rap, ele já falava de criminalidade o tempo todo, e para mim ver a criminalidade era só abrir a porta de casa, então eu quis mostrar o lado da periferia que também tem um lado bom, tem a molecada sonhadora, que tem um foco de futuro muito grande, que tem uma visão de águia, então para mim, não é questão de respeito, porque o rap é uma crítica política, social de tudo que a rapaziada vive, para mim eles já estão representando esse papel, que é considerável muito bom, que tem que ter, e eu represento o sonho dessa molecada que mora lá também”, explica. 

Com sucessos como ‘Dubai’, ‘Lembranças’, ‘Um Pedido’, ‘Coração de Aço’, e outras, o artista apresenta marcas significativas com uma agenda de shows que percorre cidades de todos os cantos do país, entre casas noturnas e encontros automotivos, onde é atração garantida e artista número um do segmento.

O cantor que já dividiu canções e trabalhou com diversos artistas fora do rap como Gusttavo Lima, Lucas Lucco, Claudia Leitte e mais recentemente com a boiadeira Ana Castela e o DJ Alok, enfatiza a importância de sair da bolha e expandir para novos gêneros.

“Na minha época, quando eu gravei com o sertanejo, foi só caindo em cima de mim, o rap não pode fazer isso, o rap não pode fazer o quê? Se a gente prega um bagulho de não preconceito, de quebra de barreira, por que eu não posso gravar outro gênero? Acho que isso que me levou para outro público. Quando eu gravei o trampo com o Gusttavo Lima, que ele começou a conhecer o Gustavo, o Hungria de verdade. Eu acho que o negócio, se tem alma, vale a pena soltar, independente de gênero musical”, finaliza o rapper. 

Dispensando apresentações, com mais de 5 bilhões de visualizações em seu canal no YouTube, mais de 11 milhões de seguidores nas redes sociais e mais de 9  milhões de ouvintes mensais no Spotify, Hungria é um dos nomes mais respeitados do cenário musical brasileiro.

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