Filme ‘Rio Doce’ conta a trajetória de vida do personagem Tiago e arrebatou importantes prêmios

Bem-vindo a jornada emocional de um homem negro, periférico e em crise com o estereótipo de masculinidade

Postado em: 21-12-2021 às 09h06
Por: Lanna Oliveira
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Bem-vindo a jornada emocional de um homem negro, periférico e em crise com o estereótipo de masculinidade | Foto: Reprodução

Relações familiares e a paisagem urbana estão ao centro do longa ‘Rio Doce’, ganhador da Première Brasil Novos Rumos do Festival do Rio. O personagem principal é Tiago, interpretado pelo rapper Okado do Canal, que mora em Rio Doce, periferia de Olinda, e leva uma vida dura. A partir daí a história vai se construindo, dando novos rumos na busca pela própria identidade do personagem. O filme é dirigido por Fellipe Fernandes, a direção de fotografia fica por conta de Pedro Sotero, e a direção de arte é conduzida pelo Thales Junqueira.

‘Rio Doce’, primeiro longa-metragem de Fellipe Fernandes, é o grande vencedor da Première Brasil Novos Rumos do Festival do Rio, mas já havia ganhado o principal prêmio no Olhar de Cinema: Festival Internacional de Curitiba, e também como melhor longa brasileiro das Mostras Competitiva, Outros Olhares e Novos Olhares. Prêmios estes que olharam para a construção cinematográfica, com todos os seus elementos, da história do personagem principal Tiago e identificaram a profundidade da pauta. 

O roteiro também assinado pelo diretor, conta que a partir da descoberta da morte de seu pai ausente, Tiago vê sua vida transformada, e passa a questionar sua própria identidade. “O argumento original do filme é de 2014, e passou por diversas transformações, mas sempre esteve presente o desejo de fazer um retrato íntimo de um cotidiano doméstico em diversas camadas narrativas nas quais questões sociais se misturam com dramas familiares já era o que guiava a construção do filme e assim permaneceu até a finalização”, diz Fellipe Fernandes.

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Fernandes explica que Okado foi fundamental no desenvolvimento do personagem e do filme. “A partir do momento que decidimos que ele interpretaria o protagonista, escrevi uma revisão do roteiro trazendo elementos que estavam diretamente relacionados com identidade e as experiências de vida de Okado, colorindo o contorno que já existia e aproximando os universos”. Além disso, a preparação do elenco permitiu uma sintonia maior entre atores e atrizes, o que contribuiu para o sucesso de ‘Rio Doce’. 

“Ao longo da preparação de elenco essa construção coletiva foi se consolidando. Não só com ele, mas com todo o elenco: a versão final do roteiro, aquela que foi filmada, foi construída a partir dos ensaios e das dinâmicas de criação que criamos com os atores/ atrizes e preparadores de elenco. Nesse sentido, Fábio Leal e Carolina Bianchi exerceram papéis fundamentais no sentido de facilitar a comunhão desse processo criativo”, relata o diretor sobre como a fluidez das gravações contribuíram para um resultado positivo.

O cineasta explica que a parceria com o diretor de fotografia Pedro Sotero, e o diretor de arte Thales Junqueira foi fundamental para uma estética marcante. “Nosso trabalho foi no sentido de construir essa textura específica que reforçasse a existência do meio. A ideia era assumir uma certa artificialidade orgânica na criação da imagem, trabalhando as composições de luz e cores para a criação de textura, em contraponto aos diálogos e às atuações naturalistas, encenados em espaços e paisagens também cotidianos e banais”.

O diretor já trabalhou de assistente com importantes cineastas como Kléber Mendonça Filho, Cláudio Assis e Tavinho Teixeira, e confessa que essas experiências foram fundamentais para seu próprio trabalho como diretor. “Para mim, que nunca estudei a prática de cinema de maneira formal, pensando na realização, esses trabalhos funcionaram como uma escola. A possibilidade de poder acompanhar de perto o processo criativo desses realizadores me ajudou a entender as possibilidades de caminhos a serem percorridos”.

No filme, Fernandes apontas questões estruturais da sociedade brasileira contemporânea. “Acompanhamos a jornada emocional de um homem negro periférico em crise com o modelo de masculinidade que se vê reproduzindo, sufocado pela solidão, dificuldade de comunicação, pressão social e falta de compreensão dos próprios sentimentos. Tudo isso em meio à sua relação com três gerações de mulheres e diante de um conflito de classes”. Reforçando a importância do cinema brasileiro para o reconhecimento coletivo enquanto sociedade.

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