Documentário retrata a história do jornal ‘Boca de Rua’, feito por pessoas em situação de rua

Aqueles que foram privados de ter voz foram em busca e conquistaram o lugar de fala.

Postado em: 06-05-2022 às 09h39
Por: Lanna Oliveira
Imagem Ilustrando a Notícia: Documentário retrata a história do jornal ‘Boca de Rua’, feito por pessoas em situação de rua
Aqueles que foram privados de ter voz foram em busca e conquistaram o lugar de fala | Foto: Divulgação/Paulo Águas

Aqueles que foram privados de ter voz foram em busca e conquistaram o lugar de fala. Essa é a história do jornal Boca de Rua que está há 21 anos em circulação, feito por pessoas em situação de rua na cidade de Porto Alegre (RS). A trajetória de luta desses colaboradores é tema do documentário ‘De Olhos Abertos’, que acaba de chegar às plataformas de streaming. O longa-metragem, de Charlotte Dafol, está disponível gratuitamente no YouTube, Vimeo, Bombozilla e Sulflix, entre outras.

O jornal Boca de Rua é único no mundo, por ser totalmente produzido por jornalistas-jornaleiros que habitam em espaços públicos da cidade. Além de uma fonte de renda, ele é uma voz para ser ouvida, uma ferramenta de denúncia e de organização perante a sociedade. Após tantos anos do começo do projeto, o grupo cresceu, a cidade mudou e as dificuldades continuam. Para esses jornalistas, conseguir o que comer, achar onde dormir e sobreviver à violência urbana seguem sendo preocupações cotidiana, mas que eles enfrentam juntos e de olhos abertos.

Dirigido pela também fotógrafa, escritora e musicista Charlotte Dafol, ‘De Olhos Abertos’ foi integralmente gravado em Porto Alegre e produz um retrato da Capital dos gaúchos, com detalhes da paisagem do Centro Histórico e da Cidade Baixa, pela visão daqueles que habitam suas ruas e praças, e querem denunciar os problemas pois também são cidadãos. “O filme acompanha de perto os integrantes do jornal, que são pessoas em situação de rua. Então, ele é um documentário-vivência sobre o cotidiano da rua no sul do Brasil”, resume a cineasta.

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As captações foram feitas pela própria diretora, com a ajuda no set de Annekatrin Fahlke, assistente de direção, e de alguns voluntários. Por coincidência, as filmagens iniciadas em janeiro de 2019 terminaram exatamente em 5 de maio daquele ano, mesmo dia do lançamento esta semana. O longa participou de 25 festivais em dez países e recebeu dois prêmios: prêmio do júri popular do Festival de Cinema da Fronteira (Brasil) e melhor documentário do Festival Inffinito (EUA).

As entrevistas com os colaboradores do informativo trimestral, que aborda questões como injustiças, violência, drogas, saúde pública e preconceito nas ruas da Capital gaúcha, conta com a pós-produção de profissionais da área. A montagem é de Alfredo Barros, com desenho de som de Juan Quintáns e finalização de imagens Raoni Ceccim. Ponto forte da produção, a trilha musical conta com diversas colaborações e composições originais de Rafael Sarmento, Marcelo Cougo e Paulo Bettanzos.

O trailer tem assinatura de Douglas Roehrs. Já dizia o ditado, em terra de cego quem enxerga é rei. Abrir os para realidades segregadas faz parte do processo de crescimento enquanto sociedade e enquanto ser humano. O documentário ‘De Olhos Abertos’ tem muito a dizer, e dizer com força, com sensibilidade, com inteligência. O filme busca dar nome à dor que vem com tantas violências sofridas, abandonos, mortes, doenças, fome mas também tenta mostrar a beleza do laço solidário, das pequenas alegrias, da dignidade com que enfrentam tantas adversidades. A rua é como uma escola.

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