10 livros de contos para quem tem pressa

O contista é como um fotógrafo: ambos possuem o dever de escolher um momento significativo e atuante que perdure - Cortázar

Postado em: 06-03-2023 às 17h48
Por: Maria Gabriela Pimenta
Imagem Ilustrando a Notícia: 10 livros de contos para quem tem pressa
O contista é como um fotógrafo: ambos possuem o dever de escolher um momento significativo e atuante que perdure - Cortázar | Foto: Reprodução

Julio Cortázar, genialmente, fez uma comparação entre contos e romances, utilizando a analogia de uma luta de boxe. Ele disse que se os romances conquistam o leitor pela pontuação, os contos conquistam por nocaute. Dado que um romancista tem diversas páginas para o leitor se deleitar e se apaixonar pela história, enquanto o contista tem poucas páginas, a experiência é rápida e certeira.

Confira 10 livros de contos que vão te nocautear.

1 – Livro dos Homens, por Ronaldo Correia de Brito 

contos livro dos homens

O universo destas histórias é um sertão de ressonâncias existenciais, denso, de linguagem depurada, que conjuga em perfeito equilíbrio dureza e poesia.

Continua após a publicidade

O espaço amplo, a solidão, os códigos, hábitos e constrangimentos sociais típicos do sertão dão às histórias uma austeridade digna de tragédias clássicas. Em alguns momentos, esse sopro clássico se reflete em inteligentes investigações morais, em outros, nos conflitos insolúveis entre os personagens, quando dois ou mais pontos de vista, a seu modo igualmente justos, se enfrentam até as últimas consequências.

Mas Livro dos Homens marca, ainda, pela primeira vez na obra de Ronaldo Brito, o surgimento de enredos em que o imaginário sertanejo e o da cultura popular nordestina se encontram com a modernidade, como ocorre nos contos “Qohélet”, “Cravinho” e “Mexicanos”. Isso prova que, ao contrário do que se poderia pensar numa leitura apressada, o autor não se propõe a fazer uma releitura dos temas e da técnica regionalista. Sua literatura é inovadora, pessoal, encontrando ligações inesperados entre a força simbólica da atmosfera sertaneja e a contemporaneidade na qual todos vivemos.

2 – Antes do Baile Verde, por Lygia Fagundes Telles

Contos lygia fagundes telles

Reunião de narrativas escritas entre 1949 e 1969, Antes do Baile Verde é considerado por muitos críticos o livro de contos literariamente mais bem-sucedido de Lygia Fagundes Telles. As situações narradas são as mais diversas.

Em “A caçada”, um homem fica a tal ponto intrigado com uma velha tapeçaria encontrada num antiquário que acaba por mergulhar na cena retratada na peça, como se tivesse participado dela numa outra vida ou numa outra dimensão. Já no macabro “Venha ver o Pôr-do-Sol“, um rapaz leva sua ex-namorada a um jazigo de família abandonado. Conflitos amorosos também são tema de “Apenas um Saxofone”, “Um Chá bem Forte e Três Xícaras”, “O Jardim Selvagem” e “As Pérolas”. Mas o enfoque é sempre diverso e surpreendente. Em “O Menino”, por exemplo, uma infidelidade conjugal é observada de modo oblíquo, pelos olhos de um garoto que vai ao cinema com a mãe. Mas o escopo humano e literário de Lygia não se restringe aos dramas de casais. “Natal na Barca” é uma pequena parábola, com final epifânico. “Meia-noite em Ponto em Xangai” é o balanço que uma prima-dona da ópera faz de sua vida solitária e vazia. Em “O moço do Saxofone” um motorista de caminhão hesita em ir para a cama com uma mulher casada numa pensão de beira de estrada. Em “A Janela”, um louco visita um bordel dizendo que é a casa onde seu filho morreu.

Com sua prosa segura e elegante, alternando com desenvoltura gêneros e vozes narrativas, a autora expõe aqui no mais alto grau sua capacidade de seduzir e emocionar o leitor.

3 – Histórias de Cronópios e de Famas, por Julio Cortázar

Contos julio cortázar

A mais cortazariana das obras de Julio Cortázar Histórias de Cronópios e de Famas, escrito nos anos 50, em Roma e Paris, e publicado em 1962.

Nas quatro partes de Histórias de Cronópios e de Famas estão presentes o gosto pelo insólito, o humor levemente melancólico e a poesia de uma inocência quase infantil que caracterizam as principais obras de Cortázar. O autor lança um olhar puro sobre as coisas à sua volta, promovendo uma espécie de reinvenção do mundo.

Os cronópios são criaturas verdes e úmidas, que gostam de cantar e recitar versos, mas muito distraídas, vivem perdendo o que têm nos bolsos, são atropeladas e choram. Muito diferentes são os famas, organizados e práticos, o que não impede que sejam os cronópios a sentirem por eles uma compaixão infinita.

São narrativas curtas, mas um intenso exercício literário, e que reúnem as principais características presentes em todas as suas obras.

4 – Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século

melhores contos brasileiros

O professo Ítalo Moriconi aceitou o desafio proposto pela Objetiva de garimpar os cem melhores textos do gênero produzidos no Brasil ao longo do século XX.

O resultado é a coletânea Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século, um passeio pela mais deliciosa e contundente ficção curta produzida no Brasil entre 1900 e o fim dos anos 90. Um trabalho que deixasse de lado os rígidos critérios acadêmicos e fosse pautado somente pela qualidade e sabor dessas pequenas obras-primas.

Uma antologia capaz de traduzir as mudanças do país e as inquietações de várias gerações de brasileiros, em cem anos de produção literária. A prova de que a arte do gênero não cessa de melhorar em nossa literatura.

5 – Contos Clássicos de Terror

contos de terror

Transitando entre o gótico, o horror e o terror ― mas sem se afiliar a nenhuma dessas categorias com exclusividade ―, os dezenove contos deste livro reúnem o melhor das histórias de medo. De Machado de Assis e João do Rio a Lygia Fagundes Telles; de Edgar Allan Poe e Robert Louis Stevenson a Stephen King, grandes nomes da literatura mostram ao leitor toda a potência do gênero.

Com seleção e introdução de Julio Jeha, esta antologia traz uma história de H. P. Lovecraft inédita no Brasil, além de uma nova tradução do conto “A loteria”, de Shirley Jackson. Em Contos Clássicos de Terror, o mal absoluto, o sofrimento de ocasião e até a maldade disfarçada de bem revelam personagens complexos e narrativas impressionantes.

6 – 50 Contos de Machado de Assis

Contos Machado de Assis

Um homem que tem o estranho prazer de torturar ratos, e encara a morte da mulher com a mesma satisfação; outro que, abandonado numa fazenda, se olha num espelho e descobre que seu reflexo desapareceu; uma mulher tão obcecada em esconder a idade que impede a filha de se casar; um afortunado compositor de melodias populares que deseja desesperadamente escrever música clássica; um rapazinho de quinze anos que se deixa empolgar pela visão dos braços de uma mulher mais velha; um casal empobrecido que adora dançar e termina esbanjando numa festa o prêmio ganho na loteria… Essas são algumas das situações e personagens desta antologia de contos de Machado de Assis, que inclui textos famosos, mas também escolhas menos usuais, além de uma apresentação convidativa e de notas esclarecedoras.

Seja você um aficionado pela obra de Machado ou apenas um entusiasta da boa literatura, a amplitude e sutileza destes escritos, o prazer que se extrai da maneira como as histórias são contadas e da observação de pequenos detalhes vão fazê-lo ler, reler e redescobrir o maior escritor brasileiro.

7 – Todos os Contos (Clarisse Lispector)

contos clarisse lispector

Dona de uma obra que cruza fronteiras geográficas e de gênero, Clarice Lispector é considerada atualmente uma das mais importantes escritoras do século XX. Nesta coletânea, que reúne pela primeira vez todos os contos da autora num único volume, organizada pelo biógrafo Benjamin Moser, é possível conhecer Clarice por inteiro, desde os primeiros escritos, ainda na adolescência, até as últimas linhas. Essencial para estudantes e pesquisadores, para fãs de Clarice Lispector e iniciantes na obra da escritora, Todos os Contos foi lançado nos Estados Unidos em 2015, figurando na lista de livros mais importantes do ano do jornal The New York Times e colecionando importantes prêmios.

Agora é a vez de os leitores brasileiros (re)descobrirem por completo esta contista prolífica e singular e seu planeta habitado por bichos, homens e sobretudo mulheres, que se revelam, nas mãos de Clarice, maravilhosos em meio à alegria e ao horror da existência.

8 – O Sol na Cabeça: Contos, por Geovani Martins

Com a estreia de Geovani Martins, a literatura brasileira encontra a voz de seu novo realismo. Nos treze contos de O Sol na Cabeça, deparamos com a infância e a adolescência de moradores de favelas – o prazer dos banhos de mar, das brincadeiras de rua, das paqueras e dos baseados –, moduladas pela violência e pela discriminação racial. 

Geovani Martins narra a infância e a adolescência de garotos para quem às angústias e dificuldades inerentes à idade soma-se a violência de crescer no lado menos favorecido da “Cidade partida”, o Rio de Janeiro das primeiras décadas do século XXI.

Em “Rolézim”, uma turma de adolescentes vai à praia no verão de 2015, quando a PM fluminense, em nome do combate aos arrastões, fazia marcação cerrada aos meninos de favela que pretendessem chegar às areias da Zona Sul. Em “A história do Periquito e do Macaco”, assistimos às mudanças ocorridas na Rocinha após a instalação da Unidade de Polícia Pacificadora, a UPP. Em “Estação Padre Miguel”, cinco amigos se veem sob a mira dos fuzis dos traficantes locais. Nesses e nos outros contos, chama a atenção a capacidade narrativa do escritor, pintando com cores vivas personagens e ambientes, sem nunca perder o suspense e o foco na ação.

9 – Doze Contos Peregrinos, por Gabriel García Márquez

Doze histórias que vão do mais simples cotidiano ao extraordinário escritas por um dos mais importantes autores do século XX.

Doze Contos Peregrinos são histórias de latino-americanos na Europa, peregrinos que não deixam de sonhar com a terra natal. Gabriel García Márquez, o mestre do realismo mágico, usa como pano de fundo Barcelona, Genebra, Roma e Paris para retratar a solidão através de histórias brilhantes de amor, poder e morte em um livro que passou 18 anos escrevendo.

Começando com o conto “Boa viagem, senhor presidente”, sobre um velho líder de um país desconhecido do Caribe derrubado por um golpe militar e exilado em Genebra, onde busca a cura para seu problema na coluna; passando por “O verão feliz da senhora Forbes”, sobre duas crianças que passam o verão na ilha de Pantelaria, no sul da Sicília, sob os cuidados de uma preceptora extremamente rigorosa com elas, mas não tanto consigo mesma; e finalizando com “O rastro do teu sangue na neve”, a trágica história de dois jovens recém-casados em viagem de Madrid a Paris, Doze Contos Peregrinos é repleto de histórias dotadas da sensibilidade e do humor que são as marcas do grande mestre vencedor do Prêmio Nobel de Literatura.

10 – As Coisas que Perdemos no Fogo, por Mariana Enriquez

Macabro, perturbador e emocionante, As Coisas que Perdemos no Fogo reúne contos que usam o medo e o terror para explorar várias dimensões da vida contemporânea. Em um primeiro olhar, as doze narrativas do livro parecem surreais. No entanto, depois de poucas frases, elas se mostram estranhamente familiares: é o cotidiano transformado em pesadelo.

Personagens e lugares aparentemente comuns ocultam um universo insólito: um menino assassino, uma garota que arranca as unhas e os cílios na sala de aula, adolescentes que fazem pactos sombrios, amigos que parecem destinados à morte, mulheres que ateiam fogo em si mesmas como forma de protesto, casas abandonadas, magia negra, mitos e superstições.

Uma das escritoras mais corajosas e surpreendentes do século XXI, Mariana Enriquez dá voz à geração nascida durante a ditadura militar na Argentina. Neste livro, ela cria um universo povoado por pessoas comuns e seres socialmente invisíveis, cujas existências sucumbem ao peso da culpa, da compaixão, da crueldade e da simples convivência. O resultado é uma obra ao mesmo tempo estranha e familiar, que questiona de forma penetrante e indelével o mundo em que vivemos.

Leia também:

Veja Também