Presidenciáveis têm que propor ideias mais a favor do que contra

Entre os principais candidatos a presidente no ano que vem, nota-se uma ausência de projetos concretos à medida em que assuntos de menor importância ficam em evidência

Postado em: 22-11-2021 às 09h24
Por: Marcelo Mariano
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Entre os principais candidatos a presidente no ano que vem, nota-se uma ausência de projetos concretos à medida em que assuntos de menor importância ficam em evidência | Foto: Reprodução

Enquanto era o juiz responsável por julgar em primeira instância os casos da Lava Jato em Curitiba, Sergio Moro pouco aparecia e quase ninguém sabia como era a sua voz. Depois que passou a conceder entrevistas à imprensa e também quando assumiu o Ministério da Justiça e Segurança Pública, a sua voz passou a ser criticada por opositores e imitada por diversos humoristas.

Na última semana, após ter se filiado ao Podemos e demonstrado desejo de concorrer a presidente no ano que vem, Moro participou do programa Conversa com Bial, da Rede Globo. A voz do ex-juiz, de novo, foi assunto. O apresentador Pedro Bial a elogiou e disse que tinha melhorado. O trecho da entrevista viralizou nas redes sociais mais do que o anúncio do ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore como conselheiro econômico de Moro.

De fato, a voz do ex-ministro de Bolsonaro está longe de ser boa e ele realmente não tem uma oratória a ponto de empolgar a plateia durante um discurso. Mas será que isso importa mais do que as suas ideias para a economia? Moro já aparece em terceiro lugar em algumas pesquisas de intenção de voto, atrás apenas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e do ex presidente Lula (PT).

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Contudo, assim como poucos sabiam como era a sua voz alguns anos atrás, agora poucos sabem quais são as suas ideias para o Brasil. O ex-juiz é considerado pela grande maioria como uma pessoa de uma única pauta: a corrupção. Pode-se concordar ou discordar de sua atuação nessa área, mas trata-se de algo que ele tem algum conhecimento.

Porém, a corrupção não tende a ser o principal tema das eleições, diferentemente de 2018. Tudo indica que economia e saúde serão as prioridades do eleitor. E o que pensa Moro sobre economia e saúde? Talvez nem ele saiba. Em 2018, Bolsonaro não precisou de um plano de governo com propostas bem-definidas para vencer as eleições. Ele foi eleito contra o PT e “tudo isso que está aí”.

O Brasil, em crise, não tem condições de passar mais uma eleição com candidatos discursando contra algo ou alguém. O país precisa de ideias a favor. Sem isso, dificilmente sairemos de onde estamos. O foco desta análise está em Moro porque ele é o fato novo do momento, mas a crítica vale para todos os outros presidenciáveis, especialmente os de oposição. Não adianta só falar que é contra Bolsonaro. É preciso mostrar o que e como vai fazer diferente dele.

E também não é suficiente querer voltar ao passado, como faz Lula, que concentra suas falas em Bolsonaro e nos seus dois mandatos como presidente na primeira década deste século. O mundo mudou desde então. A mesma receita aplicada àquela época pode não der certo nos próximos anos. E Lula, que lidera as pesquisas, não detalha suas propostas para o futuro. Dos principais presidenciáveis, quem mais faz isso é o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT), que escreveu um livro, com o qual ninguém é obrigado a concordar, mas que, para os interessados em política e no Brasil, vale a pena ler.

No entanto, com dificuldade em crescer nas pesquisas, Ciro também passou a focar mais na desconstrução de seus adversários, direcionando suas atenções tanto para Bolsonaro quanto para Lula, do que na reconstrução do país. A menos de um ano das eleições, ainda dá tempo, apesar de certo pessimismo, de qualificar as discussões. Caso a trajetória não mude, 2023 não deve ser muito diferente do que foram os últimos anos. (Especial para O Hoje)

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