‘Caguei para opinião de vocês’: disse ex-presidente da Caixa, Pedro Guimarães, à servidores
Após denúncias de assédio sexual, servidores da Caixa Econômica relatam uma rotina de xingamentos e assédios morais do ex-presidente, Pedro Guimarães. Áudios obtidos pela coluna de Rodrigo Rangel, no site Metrópoles, mostram o ex-presidente ameaçando funcionários do banco.
Após denúncias de assédio sexual, servidores da Caixa Econômica relatam uma rotina de xingamentos e assédios morais do ex-presidente, Pedro Guimarães. Áudios obtidos pela coluna de Rodrigo Rangel, no site Metrópoles, mostram o ex-presidente ameaçando funcionários do banco.
Indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), em 2019, Guimarães pediu demissão ontem, depois das denúncias de abuso sexual de funcionárias contra ele serem divulgadas pela imprensa. Saiba mais.
Em áudio, Pedro afirma: “Caguei para a opinião de vocês porque eu que mando. Não estou perguntando. Isso aqui não é uma democracia, é a minha decisão”. Em outra ocasião, o então presidente insinua que pode demitir trabalhadores que tomarem decisões sem consultá-lo.
“Vocês são malucos. Vocês só têm a perder. Não tem que ligar para ninguém. Se eu não dei ok, não dei ok e acabou. Por que vocês vão tomar o risco de perder a função por uma coisa que eu não autorizei?”, questiona Guimarães.
Assédios
Seis em cada 10 funcionários da Caixa relatam ter sofrido assédio moral no ambiente de trabalho, conforme pesquisa da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), concluída em 2021.
Segundo servidores, Guimarães colocava pimenta em sua comida e os obrigava a comer. A prática acontecia especialmente em viagens de trabalho e, de acordo com os relatos, era uma forma controvérsia de motivar as equipes.
“Quanto mais você chora e passa mal, mais ele ri. Ele é bem sádico. Em toda refeição de trabalho com ele, tinha pimenta no prato de alguém”, afirma funcionário.
Em 2021, Guimarães se envolveu em uma polêmica por ter colocado um grupo de funcionários para fazer flexões durante um vento de fim de ano. Posteriormente, ele foi notificado pelo Ministérios público do Trabalho.
Além das “motivações”, Pedro também chamava todos de “pau mole, júnior e faixa branca”. O apelidos serviam para indicar se algum contratado estava desempenhando mal uma tarefa. “Até meu filho faria isso melhor do que você”, costumava dizer.
Muitas expressões vinham acompanhadas de cunho sexual, segundo relatos de funcionárias ao Metrópoles. “Tem uma coisa que ele sempre fala que é assim: ‘Vai vir o Long Dong, vai entrar pelo c* e sair pela boca’. Fui até pesquisar por qual motivo ele falava tanto desse Long Dong. É um ator pornô. É muito assustador”, explica.
Demissão
Os servidores afirmam que as ameaças de demissão eram cumpridas por Guimarães. O que explica a rotatividade nos cargos de chefia da Caixa. “A gente tem 37 cargos de dirigentes e mais de 100 pessoas já passaram por esses cargos desde que ele (Guimarães) chegou”, disse uma subordinada do gabinete.
“Você chega ao nível máximo e de repente despenca. Vira um técnico bancário”, afirmou uma funcionária de carreira, que relata ter sido vítima de assédio moral do então presidente do banco.
Executivos do banco recebem salários a partir de R$ 30 mil, mas, se forem demitidos dos cargos de chefia, voltam a receber o salário original, ou até dez vezes menor. Por isso, muitos aceitavam o que Guimarães dizia, como por exemplo o uso do celular.
Em muitas reuniões, Guimarães desconfiava de que estava sendo gravado. Ele coletava todos os telefones da sala para se certificar que nenhum aplicativo estivesse ligado. “Ele implantou na Caixa um ambiente de medo e de submissão, com o clima sempre tenso”, mencionou funcionária.
Em nota divulgada na noite de ontem (29/6), a Caixa Econômica Federal admitiu que recebeu denúncias de assédio e abriu investigações internas em maio deste ano. O texto não cita o nome do ex-presidente do banco e diz que o processo ocorre em sigilo.
Para ocupar o cargo de Pedro Guimarães, o presidente Jair Bolsonaro escolheu, nesta quarta (29/6), Daniella Marques Consentino, ex-secretária especial de Produtividade e Competitividade e também braço direito do ministro da Economia, Paulo Guedes. Saiba mais.