Disputa aberta para as eleições 2018

Mais uma vez a polarização se dá entre o grupo político ligado ao governador Marconi Perillo (PSDB) e o liderado pelo prefeito de Goiânia, Iris Rezende (PMDB).

Postado em: 30-12-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Disputa aberta para as eleições 2018
Mais uma vez a polarização se dá entre o grupo político ligado ao governador Marconi Perillo (PSDB) e o liderado pelo prefeito de Goiânia, Iris Rezende (PMDB).

Venceslau Pimentel

Continua após a publicidade

O ano de 2017, que deu o pontapé inicial ao movimento das peças do xadrez da sucessão para 2018, se encerra apontando para uma disputa ainda aberta, ao mesmo tempo em que sinaliza para uma eleição acirrada.

Mais uma vez, tudo indica que a polarização se dará entre o grupo político governista, liderado por Marconi Perillo (PSDB), que tem o vice José Eliton (PSDB) como pré-candidato. Na outra ponta, as oposições surgem divididas entre as pré-candidaturas do senador Ronaldo Caiado (DEM) e do deputado federal Daniel Vilela (PMDB), num processo que terá o comando do prefeito de Goiânia, o peemedebista Iris Rezende.

Desde 1998, Marconi e Iris têm protagonizado embates eleitorais, direta ou indiretamente, com ampla vantagem para o tucano. O peemedebista se elegeu governador, pela primeira vez, na primeira eleição direta, em 1982, após o fim da ditadura militar, derrotando o ex-governador Otávio Lage (PDS). Quatro anos depois trabalhou pela vitória do correligionário Henrique Santillo, na disputa com o também ex-governador Mauro Borges (PDC), que liderava as oposições.

Iris retornou ao Palácio das Esmeraldas em janeiro de 1991, derrotando Paulo Roberto Cunha (PDC), semanas depois de ter sofrido um acidente de carro durante a campanha. Em 1994, atuou para eleger Maguito Vilela, então vice-governador, num embate com Lúcia Vânia, à época filiada ao PP, no segundo turno. O jogo virou quatro anos depois, numa disputa emblemática entre as duas maiores forças políticas do Estado.

Depois de uma tumultuada escolha do deputado federal Roberto Balestra, então filiado ao PPB, para disputar o governo, que não deslanchava nas pesquisas de intenções de voto, Marconi foi indicado para substituí-lo no processo eleitoral. Então detentor de um mandato de deputado estadual, e no exercício do mandato de deputado federal, ele entrou desacreditado na disputa, por ser praticamente desconhecido do eleitorado goiano. Mais que isso: Iris liderava todos os cenários dos levantamentos, com pelo menos 70% da preferência dos eleitores.

Numa disputa comparada, simbolicamente, à luta entre Davi e Golias, retratada nas escrituras, Marconi, de forma surpreendente, derrotou Iris, (detentor de mandato de senador da República), no primeiro e segundo turnos, pondo fim à hegemonia política do PMDB no Estado, que reinou por 16 anos.

Entrou em cena o chamado Tempo Novo, com Marconi reelegendo-se em 2002, ao derrotar Maguito Vilela, pupilo de Iris; nas eleições estaduais seguintes Marconi atuou para a vitória de seu vice, Alcides Rodrigues, num embate com Maguito. No processo, Caiado (então presidente estadual do PFL), rompeu com o tucano e apoiou o então senador Demóstenes Torres, que ficou na quarta colocação.

Marconi voltou a entrar em cena em 2010 e 2014, vencendo as duas disputas, sempre no segundo turno, tendo Iris Rezende como principal adversário.

Agora, um novo cenário se apresenta para 2018. Marconi sairá de cena em março do ano que vem, para disputar uma cadeira no Senado. Vai dar lugar ao vice José Eliton, que se dividirá, a partir de abril, entre a administração estadual e a candidatura a governador. 

Goiás na Frente é vitrine do Governo 

O programa de retomada e dinamização da economia goiana, intitulado de Goiás na Frente, lançado pelo governador Marconi Perillo, e a gestão de Iris Rezende à frente da prefeitura de Goiânia, certamente serão dois pontos centrais da campanha de 2018. A comparação entre as duas gestões será inevitável.

O programa governamental de Marconi foi lançado no dia 30 de março, com previsão de injetar na economia, até o fim do ano que vem, R$ 9 bilhões em investimentos públicos e privados. A origem dos recursos públicos viriam, em sua maioria, da venda da Celg D e da subdelegação de serviços da Saneago.

A abrangência dos investimentos chegariam a áreas como social, saúde, segurança, educação, ciência e tecnologia, saneamento básico, meio ambiente e infraestrutura.  e demais apoio logístico. “Nós vamos retomar a dinamização da economia de Goiás, com um pacote muito expressivo, muito robusto de obras, e vamos garantir empregos”, anunciou o governador.

Para o comando do programa, o governador escolheu José Eliton, que tem percorrido o estado ora celebrando convênios com prefeituras, ora lançando vertentes, como o Terceiro Setor Social e o Habitacional.

Já da parte de Iris Rezende, a expectativa que ele tem anunciado é de fazer deslanchar a sua gestão no comando da prefeitura da capital a partir do ano que vem. Ao assumir, em janeiro deste ano, ele disse ter encontrado uma dívida de cerca de R$ 600 milhões, com déficit mensal de R$ 30 milhões.

Ele tem dito que 2017 foi ano de colocar a casa, diante dos escassos recursos, por conta do rombo nas contas da prefeitura e da crise econômica. Mesmo assim, a prefeitura estima em mais de R$ 200 milhões os investimentos em obras como a Maternidade Oeste, pavimentação de ruas e obras do BRT Norte-Sul, mas que está parada por falta de repasse de recursos por parte da Caixa Econômica, por conta de suspeita de irregularidades apontadas na licitação, feita na gestão anterior.

Os mutirões, marca das gestões do peemedebista, tiveram início a partir do mês de abril, evento onde são oferecidos vários tipos de serviços para a população local. De qualquer forma, o PMDB tem mostrado força na capital, ao contrário do PSDB, que venceu a última disputa em 1996, com Nion Albernaz. De lá para cá, candidatos do PMDB se revezaram na prefeitura, com o petista Pedro Wilson, em 2000; Iris em 2004 e 2008; Paulo Garcia (PT) em 2012; e Iris novamente em 2016. 

Unidade é o desafio de governistas e oposição 

Apesar de as pesquisas eleitorais mostrarem que Ronaldo Caiado (presidente estadual do Democratas) e Daniel Vilela (que comanda o diretório do PMDB) nas primeiras colocações, especialistas e cientistas políticos sustentam que um deles irá polarizar a disputa com José Eliton, por conta da força política do Governo Marconi.

Tanto a situação quanto a oposição tem seus desafios até as convenções, marcadas para julho do ano que vem. Em 2014, Marconi conseguiu aglutinar 16 partidos em apoio à sua candidatura (PRB / PP / PDT / PTB / PSL / PR / PPS/ PHS / PMN / PTC / PV / PSDB/PEN /PSD / PT do B e PROS).

A tarefa agora é tentar manter essa composição em apoio a José Eliton. Tudo vai depender da articulação para manter a representatividade desse grupo na chapa majoritária – a vaga de vice, a segunda vaga ao Senado e as respectivas suplências.

Reivindicam espaço na chapa o PSB da senadora Lúcia Vânia, o PTB do deputado federal Jovair Arantes, e o PSD do secretário de Infraestrutura, Meio Ambiente e Cidades (Secima), Vilmar Rocha.

E tem ainda o PP do senador Wilder Morais, que assumiu o mandato em julho de 2012 com a cassação do então senador Demóstenes Torres, que era filiado ao DEM e hoje está no PTB. Torres perdeu o mandato por quebra de decoro parlamentar, acusado de favorecer o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

Já nas oposições, o dilema gira em torno da união entre Caiado e Daniel Vilela. O próprio PMDB se divide entre os dois pré-candidatos. Enquanto, por exemplo, o ex-governador e ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela, não abre mão da candidatura do seu filho Daniel, Iris Rezende ainda não fechou questão sobre o nome do seu partido.

Iris continua no processo de convencimento em seu partido para apoiar Caiado, que integrou a chapa majoritária da legenda, em 2014. Além da gratidão, considera o democrata mais experiente e mais conhecido do eleitorado. Portanto, com maior chance de vitória.

Como retribuição, Caiado apoiou o peemedebista nas eleições de 2016, em Goiânia, e ainda teve a sua filha, a advogada Anna Vitória Gomes Caiado, indicada para o comando da Procuradoria Geral do Município. Na presença de Caiado e Daniel, em evento da prefeitura, na semana passada, Iris voltou a defender um acordo entre os dois. “É momento de reflexão e humildade e que o espírito público prevaleça”, apelou. “Temos que fazer política movidos pelo espírito público”, disse em entrevista à imprensa.

Diante da boa vontade do prefeito, Caiado defende que Iris seja o timoneiro para conduzir o processo sucessório no campo das oposições e, ao final bater o martelo sobre quem será o candidato a governador. “A figura dele (Iris) é balizadora do processo de 2018”, pondera o democrata.  “Não existe candidatura sem unidade e sem o Iris sendo o timoneiro do processo”, disse no encontro com o prefeito e Daniel, deixando Maguito para escanteio.

Mas, por enquanto, o equilíbrio e a sensatez que Iris e Caiado defendem, e a reciprocidade que Daniel Vilela almeja para 2018, ainda estão longe de serem alcançados. 

No cenário político nacional, observa-se um embate entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC). Os dois, nessa sequência, lideram as pesquisas eleitorais, e se as eleições fossem hoje estariam no segundo turno.

No caso de simulação sem Lula na disputa, Bolsonaro disputaria o segundo turno com Marina Silva (Rede). O procedimento tem sido feito pelos institutos de pesquisa diante da possibilidade de o petista ficar fora da sucessão de Michel Temer (PMDB).

Em julho deste ano, Lula foi condenado pelo juiz Sergio Moro, a nove anos e seis meses de prisão pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá. Ele recorreu da sentença e aguarda para janeiro do ano que vem o julgamento, em segunda estância, pela 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), com sede em Porto Alegre.

O PSDB praticamente já fechou questão sobre o candidato a presidente. Trata-se do governador Geraldo Alckmin, que vinha travando disputa com o prefeito de São Paulo, João Doria. No entanto, o partido ainda não está pacificado, mesmo depois de Alckmin ter sido eleito presidente do diretório nacional da legenda.

É que o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, continua avisando que vai disputa as prévias na convenção que irá definir o nome do candidato tucano.

Por sua vez, o PSD não descarta lançar como candidato a presidente o ministro da Fazenda Henrique Meirelles. O presidente da legenda, Gilberto Kassab, que é ministro de Ciências e Tecnologia do Governo Temer, diz que Meirelles é presidenciável. 

PT como coadjuvante no processo sucessório 

O Partido dos Trabalhadores mais uma vez participará do processo sucessório em Goiás como coadjuvante. Em 2014, a legenda lançou a candidatura de Antônio Gomide, que havia renunciado ao mandato de prefeito de Anápolis, ficou na quarta coligação.

Como resultado dos escândalos envolvendo o partido, o PT viu sua representatividade despencar, a partir do mensalão, escândalo no governo Lula, em 2006, e depois com o impeachment da presidente Dilma Rousseff, em agosto de 2016. Nas eleições municipais, foram eleitos apenas dois prefeitos no Estado. Na capital, o partido ficou sem representante na Câmara de Vereadores.

Rompido com o PMDB desde a segunda gestão de Paulo Garcia, nenhum nome do PT aparece nas pesquisas de intenções de voto para 2018. Sem opção de coligação, tudo indica que a legenda vai lançar candidatura própria, mas ciente de que dificilmente terá condições de chances reais de vitória. Até o momento, ninguém se apresentou como pré-candidato.

O partido tem reserva de nomes para a disputa, como os ex-deputados federais Pedro Wilson e Marina Sant’Anna, e o próprio Antônio Gomide. Rubens Otoni deve partir mais uma vez para a reeleição a deputado federal. Da mesma forma, os deputados estaduais Humberto Aidar, Luis Cesar Bueno e Adriana Accorsi vão tentar se reeleger. 

Veja Também