Teto de voto reflete o momento

Cientistas políticos explicaram como analisar o teto de intenção de voto de candidatos a cargos eletivos e quais cenários podem alterar essa previsão eleitoral

Postado em: 30-06-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
Imagem Ilustrando a Notícia: Teto de voto reflete o momento
Cientistas políticos explicaram como analisar o teto de intenção de voto de candidatos a cargos eletivos e quais cenários podem alterar essa previsão eleitoral

Rafael Oliveira*


Continua após a publicidade

Em período eleitoral, de pré-campanha e campanha oficial, muito se fala em teto de intenção de voto de certo candidato. Mas o que significa esse teto de intenção de voto que o candidato atinge? O cientista político e professor de Ciência Política da Universidade Federal de Goiás (UFG), Robert Bonifácio, explica que o teto é uma previsão de desempenho de certo candidato. 

O professor pontua que certos institutos de pesquisas chegam a elaborar até dez cenários diferentes de intenção de voto. “O especialista observa os diferentes cenários apresentados e o período de tempo; se o candidato não tem alteração na sua pontuação nesses quesitos analisados, entende-se que o pesquisado chegou ao seu teto de intenção de voto. Mas ele reflete muito a pulverização de um certo nome na sociedade”. 

Para o professor de Ciência Política da Universidade Federal de Brasília (UnB), David Fleischer, o teto de intenção reflete apenas o desejo do eleitor no momento em que a pesquisa foi concebida. “Existem diferenças significativas entre uma amostragem e outra, de institutos diferentes e períodos diferentes. A vontade do eleitor pode mudar a cada dia”, analisou Fleischer. 

O pré-candidato ao governo de Goiás, senador Ronaldo Caiado (DEM), atingiu seu teto de intenção de voto nos 34,3%, segundo a base de análise apresentada pelo professor Bonifácio. Na primeira rodada de pesquisas do Instituto Directa/O Hoje/Jovem Pan, em dezembro passado, o democrata pontuou 32,7%, na pesquisa de abril deste ano ele registrou 35,7% e na última da semana passada chegou aos 34,6%. Ou seja, somam-se os percentuais das três pesquisas e divide-se por três para chegar ao resultado final. Como não houve oscilação significativa, o senador patina no seu teto de intenção de voto. 


Nacional

O presidenciável pelo PSL, deputado federal Jair Bolsonaro (RJ), aparece cristalizado na casa dos 20% das intenções de votos, em cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso na Operação Lava Jato. A pesquisa utilizada para análise é da Confederação Nacional dos Transportes (CNT/MDA), publicada na segunda semana deste mês. 

O nível mais alto de intenção de voto de Bolsonaro é de 20,7%, caso disputasse o Planalto com ex-senadora Marina Silva (Rede-AC), que está com 16,4%, seguida por Ciro Gomes (PDT-CE) com 12%. 

Desde que Lula não participe da eleição, Marina é a pré-candidata que teria melhor desempenho em eventual segundo turno contra Bolsonaro. Ambos empatariam com 27,2%. O deputado carioca, no entanto, venceria em todos os outros cenários de segundo turno testados sem a presença de Lula. 

No entanto, diz Robert Bonifácio, o desempenho de Bolsonaro é suficiente para levá-lo ao segundo turno. “Tudo indica ser o teto dele [Bolsonaro], mas esse teto não o tira do segundo turno”, analisou.  


Teto eleitoral tem relação ao conhecimento do candidato pelo eleitor 

O professor de Ciência Política da Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Wilson Cunha, esclarece que as pesquisas eleitorais mostram uma possibilidade de votação, onde leva-se em conta o conhecimento que a população tem dos candidatos. “Isso é uma amostra pré-eleitoral, que a pessoa declara o voto em certo candidato e depois a pessoa vota efetivamente nele. Mas, ainda não se pode afirmar que a pesquisa reflete o voto no estado como um todo. A pesquisa mostra uma possibilidade de votação. Tem várias projeções que devemos fazer também. Existe uma desesperança em relação à política no País. No Tocantins, por exemplo, os votos brancos e nulos chegaram aos 52%. Isso mostra a relação do brasileiro com o engajamento político”. 

Para Cunha, o alto índice de intenção de votos no senador Ronaldo Caiado (DEM), por exemplo, reflete a falta de história política dos demais pré-candidatos. “Os outros candidatos não têm a trajetória política do Ronaldo Caiado. Em relação ao José Eliton, a força do Poder do Executivo pode mudar a projeção de votos. Mas isso não é 100% comprovado. Apesar de Eliton estar presente em muitos municípios com agenda governamental, isso não representa o resultado eleitoral dele”, avaliou o professor. 

O especialista também analisou o perfil dos pré-candidatos. Em sua visão, Caiado tem força política orgânica, natural do candidato. Já Daniel Vilela e José Eliton foram arrastados ao meio político, diferente dos seus padrinhos Marconi Perillo, Iris Rezende e Maguito Vilela. “O Marconi e o Iris não conseguiram fazer um sucessor à altura deles. Eles têm uma força política natural. Quando a campanha eleitoral começar efetivamente, algumas coisas podem mudar. E essas mudanças vão passar pelo enfrentamento de projetos e metas para o Estado. 


Ascenção e queda

Mas esse teto pode mudar durante a campanha oficial, aquela em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) começa a fiscalizar os atos dos candidatos. Isso porque, segundo Bonifácio, o eleitor recebe uma enxurrada de informações de centenas de concorrentes. “Na campanha regulamentada pelo TSE entra o horário eleitoral na televisão e os debates entre os candidatos. Então o expectador recebe uma massa de informações que não recebia antes”, explicou o professor. 

Desta forma, o pré-candidato à reeleição, José Eliton (PSDB), e o pré-candidato pelo MDB, deputado federal Daniel Vilela, podem ter chances de galgar pontos nas pesquisas a serem realizadas durante o período oficial. 

O emedebista Daniel Vilela, apesar de perder quase cinco pontos na última pesquisa Directa/O Hoje,de 14,4% para 9,8%, começou a distribuir seu material de campanha nas redes socais, onde tenta despolarizar a disputa entre Caiado e Eliton. 

Apesar de Daniel e Eliton aproveitarem a pré-campanha no aperto de mão com o eleitor, apenas o tucano subiu quase dois pontos percentuais na mesma pesquisa; ele conquistou 24,1% dos goianos.“Isso tende a mudar o voto, além de apoios partidários que são costurados com o tempo”, acrescentou Bonifácio. 

A pré-candidata petista Kátia Maria também conseguiu conquistar mais eleitores com o uso da estrutura partidária, que possibilitou o encontro direto com o seu público. Nas duas últimas pesquisas citadas anteriormente, Kátia saltou de 1,2% para 3,2%. 

Outro pré-candidato beneficiado pelo corpo a corpo foi o professor Weslei Garcia, pré-candidato pelo Psol. Na primeira pesquisa, quandoWeslei não era candidato, o policial rodoviário federal Fabrício Rosa (Psol), pré-candidato até então,pontuou 0,8%. Na última pesquisa Weslei alcançou 1,2%. 

A Rede Sustentabilidade, partido fundado pela ex-petista Marina Silva, tem chances de aparecer nas próximas pesquisas, já que seu pré-candidato Edson Braz lançou seu nome na disputa há poucas semanas. 

O professor David Fleischer explica que a conjuntura política pode alterar o teto de votos dos candidatos, seja para menos ou para mais. “Às vezes um candidato fala alguma coisa em uma entrevista que não agradou ao público e imediatamente ele perde intenções de votos. Ou ele pode se aliar a um outro político que não agrada o seu simpatizante e ele também perde voto”. 

Mas, para Fleischer, o fator mais importante para crescer ou cair em pesquisas eleitorais é a escolha do candidato a vice, seja em uma chapa para governador ou presidente. “A escolha do vice altera significativamente a percepção que o eleitor tem do candidato. O vice pode atrair votos ou afastar votos”. (*Especial para O Hoje) 

Veja Também