‘Somos capazes de tudo’, diz tatuadora trans que fez tratamento hormonal para amamentar bebê

A tatuadora passou pelo mesmo procedimento de mulheres que por algum motivo especifico não conseguem produzir leite para amamentar seus bebês.

Postado em: 10-06-2022 às 16h59
Por: Victória Vieira
Imagem Ilustrando a Notícia: ‘Somos capazes de tudo’, diz tatuadora trans que fez tratamento hormonal para amamentar bebê
A tatuadora passou pelo mesmo procedimento de mulheres que por algum motivo especifico não conseguem produzir leite para amamentar seus bebês | Foto: Reprodução/ Instagram

A tatuadora digital Erika Fernandes, de 28 anos, relatou sobre como é o processo de amamentação e maternidade sendo uma mulher trans. Recentemente, ela e seu parceiro,  Roberto Bete, ex- participante do reality show da Netflix, “O Crush perfeito”, se tornaram pais do Noah.

“Quando a gente planejou essa gestação, fiquei muito preocupada com a alimentação dele. Fui pesquisar e descobri ser possível mulheres trans amamentarem. Tanto que no início da minha transição eu me entupi de hormônio, sem acompanhamento, e acabei produzindo leite”, comentou Erika em uma entrevista ao site Universa – UOL.

Bete, um homem trans, carregou o bebê por nove meses e como o processo da transição de gênero fez com que ele retirasse as mamas, Erika teve que passar pela indução da lactação quando seu parceiro estava no quarto mês de gravidez.

Continua após a publicidade

A tatuadora passou pelo mesmo procedimento de mulheres que por algum motivo especifico não conseguem produzir leite para amamentar seus bebês. Ana Thais Vargas, ginecologista e obstetra, ajudou o casal nesse processo e já havia atendido outras mulheres trans.

“Existe um remédio para o estômago que tem, como efeito colateral, o aumento da produção de prolactina. E junto com a estimulação da mama com a bomba de sucção vamos adaptando o processo de acordo com a pessoa”, explica a profissional. Ela ainda acrescenta que a ideia repassada por muitas pessoas sobre o leite ser uma bomba de hormônio é errônea. “Não estamos colocando hormônio para que ela produza leite. Estamos estimulando o próprio corpo a produzir o seu próprio leite”, argumentou.

A diferença entre o leite de quem engravida e quem não consegue gestar, está no colostro, ou seja, primeiro leite que é produzido quando se começa a amamentar, altamente concentrado, repleto de proteínas e rico em nutrientes. Ele sai nos primeiros cinco dias após o parto. Entretanto, depois desse período, o leite maduro, que também contém proteínas, é caracterizado por ser o mesmo nas duas situações. Por isso, a falta de colostro não prejudica o desenvolvimento da criança.

Apesar do estimulo, ainda há uma possibilidade de não conseguir produzir o leite, mas neste caso, é feito o processo de translação (uma sonda é colocada ao lado do bico do peito, e com uma seringa ela conduz o leite de fórmula ou doado, até a boca da criança).

Erika conta que vem sofrido diversos ataques nas redes sociais, porém, não se abala pois realizou o seu maior sonho: ser mãe. “Esse tratamento foi inventado para mulheres cisgênero, que não produzem o leite ou que adotam. Agora que é feito por mulheres trans a sociedade quer restringir?”, questionou. “A gente é capaz de todas as coisas que uma pessoa cis”, observa Erika sobre o processo de amamentação e maternidade.

Veja Também