Diretor de série sobre o Ninho do Urubu busca manter viva a memória sobre a tragédia

Em três episódios, Pedro Asberg, diretor da sériem fez um background dos atletas, trazendo entrevistas e vídeos antigos, além de um bate-papo com as famílias

Postado em: 17-03-2024 às 10h01
Por: Cecília Epifânio
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Diretor de série sobre o Ninho do Urubu busca manter viva a memória sobre a tragédia | Foto: ReproduçÃo / Divulgação

A dada 8 de janeiro de 2019 mudou para sempre a vida de 10 famílias de jovens que jogam pela base do Flamengo e de várias outras que também estavam no alojamento. O incêndio do Ninho do Urubu deixou marcas permanentes e que ainda percorrem na Justiça. Essas marcas também estão no muro de um bairro no Rio de Janeiro e é cantado no minuto 10 dos jogos do time Rubro-Negro.

E é com a música ‘Azul da cor do Mar’, de Tim Maia, que a torcida homenageia os meninos de 14 a 16 anos que perderam a vida na tragédia. “Ah, como eu queria ter vocês aqui/ honrando o manto do Mengão, com raça e paixão/ Mas essa nação jamais vai esquecer/ O Flamengo vai jogar, para sempre por vocês”, é parte do cântico.

E foi no documentário ‘Ninho: Futebol e Tragédia’ que a Netflix trouxe todas as sensações dos familiares e torcedores, a respeito da tragédia. Em três episódios, Pedro Asberg, diretor da sériem fez um background dos atletas, trazendo entrevistas e vídeos antigos, além de um bate-papo com as famílias.

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Segundo o cineasta, a série foi feita com o objetivo de jogar um holofote no caso, para que a tragédia não fosse esquecida. “E Entre tantas razões, a de querer acreditar que essa série pode gerar, de alguma forma, alguma mobilização para gente entender que, cinco anos depois, o processo não foi concluído, pessoas ainda não foram julgadas, não houve qualquer tipo de responsabilização pela morte de 10 jovens”, disse o diretor, em entrevista ao portal Metrópoles.

Asberg também citou que em breve o crime será prescrito e que esse trabalho pode ser a solução do processo perante a tragédia. A série mistra como o Flamengo sabia que o local não estava apto para funcionar como um alojamento, e era por isso que as janelas continham grades, e a tragédia poderia ter sido evitada.

Em um dos episódios, existe uma troca de e-mails entre dirigentes do clube co alertas sobre a utilização do “alojamento”. Auditoria interna, Ministério Público, prefeitura do Rio de Janeiro e o Corpo de Bombeiros avisaram sobre as diversas falhas nos contêineres. Junto a esses documentos e comprovações, a participação de alguns familiares e depoimentos.

“Esses depoimentos de pais e mães que perderam seus filhos é, de alguma forma, aproximar do espectador uma dor que a gente, às vezes, não consegue imaginar”, disse o diretor. As famílias receberam um quadro com uma arte, feito em um muro em um bairro no Rio de Janeiro, como uma forma de homenagear os garotos, feita pela Flamengo da Gente, grupo de ajudou Pedro Asberg a se aproximar das famílias.

As entrevistas foram feitas para trazer rostos, nomes e voz para vítimas que, muitas vezes, são tratadas apenas como números. “De alguma forma, esses recursos ajudam os espectadores a se aproximarem daquelas pessoas e esse era um dos grandes pontos. Na maior parte das vezes, a gente não conhece essas pessoas e a gente precisa saber, da onde elas vieram, para sentir mais a dor dessa perda, desse fim de sonho, desse sonho interrompido”, contou. Dentre esses artifícios, foram utilizados vídeos e fotos antigas dos atletas.

Além de trazer uma memória da tragédia, Pedro ressaltou a importância de mostrar o lado de alguns sobreviventes, como os atletas Wendell e Felipe, e o segurança que ajudou a salvar três vidas, o Benedito.

“(Eles) também vão carregar dores e traumas. São pessoas que estavam ali naquela madrugada e que tem que agradecer todos os dias por estarem vivos, mas isso não quer dizer que eles não tenham sequelas emocionais dos mais variados tamanhos”, explicou.

O segurança teve um laudo médico divulgado recentemente, que comprovou que ele não pode mais exercer essa função por conta do trauma vivido na noite do ocorrido. Inclusive, ele está com um processo na Justiça do trabalho até hoje contra o Flamengo por conta da situação.

Resposta do Flamengo

Pedro Asberg ouviu o lado das famílias e de sobreviventes, mas não mostrou o lado do clube, já que eles optaram por não se manifestar. Ele tentou, não só pessoas da diretoria atual, como também das antigas.

“Infelizmente, eu não ouvi nada, a gente tentou formalmente conversar e ninguém quis falar. Então, ficou de alguma forma uma lacuna, eu sinto muito por isso, eu adoraria ter conseguido conversar com essas pessoas”, completou.

O clube sabia dos riscos, como foi abordado na série, mas optou por manter os garotos naquele local.

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