Existência e resistência feminina no cangaço brasileiro

‘Donde Estão as Estrelas’ estreia, hoje, e realiza dez apresentações pelas ruas de Goiânia até 21 de dezembro

Postado em: 06-12-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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‘Donde Estão as Estrelas’ estreia, hoje, e realiza dez apresentações pelas ruas de Goiânia até 21 de dezembro

SABRINA MOURA*

As ruas de Goiânia vão ser ocupadas, a partir desta quinta-feira (6), com dez apresentações do novo espetáculo da trupe goiana Teatro que Roda. A estreia de Donde Estão as Estrelas ocorrerá na Avenida Anhanguera, esquina com a Rua Sete. Completando 15 anos de estrada e listando mais de 500 apresentações por quase todas as capitais brasileiras e mais de 50 municípios, o grupo entrega à cidade o seu quinto espetáculo, resultado de um ano de pesquisa e elaboração. 

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Segundo a atriz Ieda Marçal, o espetáculo integra uma trilogia que traz as histórias de Dom Quixote e de Nacumaima na Terra de Pindorama. “Após representar os heróis da literatura, pensamos que o espetáculo deveria ser uma com uma protagonista mulher, como Ana e Maria Bonita”, conta Ieda. “O espetáculo partiu de uma pesquisa que fizemos em cima dessa vivência da mulher no cangaço. Existe uma história de mulheres bravas e violentas, naquela época, mas quando realizamos a pesquisa vimos essas mulheres sofriam com muita violência. Abordamos esse tema, em vários âmbitos no contexto do cangaço, evidenciando a situação da mulher atualmente. Ana e Maria Bonita são duas mulheres contando suas histórias e resistindo em busca da própria liberdade”, completa ela.

Donde Estão as Estrelas conta a trajetória de Ana e Maria, mulheres do cangaço que se reencontram no meio da cidade, após uma emboscada sofrida pelo bando, elas são as últimas sobreviventes de seu grupo. Para se manterem vivas, são obrigadas a fugir da perseguição das ‘forças volantes’ que rodam a região, a caça da cabeça de desordeiros. Em meio a desvios, conflitos e memórias, elas passam por provações, enfrentado seus medos em uma derradeira luta por justiça e liberdade.

Para Ieda, a força da mulher estar na união delas é o que mais o espetáculo quer dizer. “Juntas, vencemos muitas barreiras, e há uma esperança minha de representar as mulheres atuais”, explica a atriz.

Este é o resultado de um trabalho coletivo, que começou no fim de 2016, tendo como ponto de partida estudos de argumento para a dramaturgia: leituras, documentários e iconografias sobre o movimento e fenômeno de banditismo do cangaço brasileiro.

Teatro na rua

Num segundo momento, o grupo desenvolveu estudos teóricos e práticos sobre o processo de pesquisa e criação de dramaturgia pessoal do ator/atriz alinhando a experiência de encenação do teatro de invasão, linguagem já utilizada pelo grupo nos dois últimos espetáculos. O espetáculo não apenas é apresentado na rua, como se aproveita do tecido urbano para criar a atmosfera necessária para sua apresentação.

O espetáculo como conta Ieda, interage com o público sem uma barreira, andando pela cidade e aproveitamos o que ela tem para as cenas. “Em alguns momentos, precisamos de lugares mais intimistas que encontramos no Centro e nos becos. Cada lugar tem sua particularidade; o ambiente, as pessoas e o trânsito interferem como eles agem, e isso nos enriquece”, explica a atriz.

Ao ser questionada sobre como chamar a atenção do público nos espaços urbanos, a atriz explica que estado cênico do ator tem de estar muito presente. “Chamamos a atenção por meio do figurino, em cenários que são cotidianos, o que faz com que o público fique encantado pela história. Falamos diretamente com o público, que é parte do espetáculo. Contamos para as pessoas, e na cara delas”, relata Ieda.“Há, na cidade, regras e convenções de trânsito e ocupação do espaço que são transgredidas pelos atores, convidando o público ao jogo lúdico de interação com os personagens da peça. O público se torna temporariamente um espectador-ator, um cúmplice, podendo também explorar o espaço, transgredir as regras da cidade, podendo participar ativamente do jogo, inclusive intervindo nas falas com os atores”, comenta ela. 

Por trás da peça

Quem está em cena necessariamente participou da criação do espetáculo. A preparação de elenco foi conduzida a partir de pesquisa de movimentação e treinamentos corporais com foco na composição de cenas coletivas e individuais, partindo de jogos e danças dramáticas tiradas das danças populares tradicionais brasileiras, em especial as nordestinas e sertanejas: coco, jongo, maracatu rural, cavalo marinho.

A pesquisa para composição de personagens também exigiu dos atores um trabalho autoral, com um viés na criação ficcional de figuras, a partir da observação de pessoas, entrevistas, fotografias, documentários, videografias, biografias, histórias e narrativas registradas, improvisação de situações e cenas em confronto com a realidade da cidade.

Para situar a plateia flutuante na paisagem estética e sonora de um lugar do sertão, o espetáculo encontra alicerce na música da cultura popular brasileira. Assim, ritmos como aboios, cocos, baião e ladainhas servem de bases para as composições originais da peça. Além de outros ritmos, canções e sonoridades intuitivas criam um pano de fundo poético à história e fortalecem a estrutura narrativa musical enriquecendo a ação dramatúrgica e a encenação.

Concebido sob a poética do teatro de rua e de invasão, o espetáculo será apresentado, por mais nove vezes, até 21 de dezembro, em diferentes pontos da Região Metropolitana. Todas são gratuitas, contando com apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura. A peça também passará pelas Praças Universitária e Joaquim Lúcio, Conjunto Itatiaia, Crimeia, Jardim Tiradores e Nova Esperança. 

*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE sob orientação da editora Flávia Popov

SERVIÇO

Estreia do Espetáculo ‘Donde Estão as Estrelas’

Quando: quinta-feira (6)

Onde: Av. Anhanguera, esquina com Rua 7, Centro de Goiânia

Horário: 15h30

PROGRAMAÇÃO

Sexta-feira (7), 10h

Av. Anhanguera esquina com Rua 7, Centro

Domingo (9), 17h

Praça Universitária, Programação do Fuga (Festival Universitário)

Segunda-feira (10), 15h30

Av. Anhanguera esquina com Rua 7, Centro

Terça-feira (11), 10h

Conjunto Itatiaia (em frente à Escola Valdemar Mundim)

Sábado (15), 16h

Jardim Tiradentes

Segunda-feira (17), 15h30

Jardim Nova Esperança, próximo ao Ponto de Cultura Eldorado

Terça-feira (18), 15h30

Praça Joaquim Lúcio

Quarta-feira (19), 19h

Crimeia Leste, próximo à Cia. Novo Ato

Sexta-feira (21), 15h30h

Av. Anhanguera, esquina com Rua 7, Centro

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