Como repórter do jornal O Hoje descobriu venda de diploma falso na Câmara
Ligação anônima de fonte leva a mais elementos sobre caso tratado como isolado na Câmara e na Prefeitura de Goiânia.
Era quinta-feira, dia 12 de maio, às 20h50. Enquanto eu falava com um político que me passava informações sobre um pré-candidato a deputado federal para a coluna Xadrez, da qual sou responsável, uma mulher ligou no meu telefone. Não atendi e ela deixou um recado: “Me liga, tenho uma bomba”. Quando um repórter lê isso, pode ter certeza: tem um furo jornalístico. Retornei.
Em cerca de 10 minutos, ela deu detalhes de como funcionava o esquema que expôs a atuação de uma assessora comissionada dentro do gabinete do vereador Kleybe Morais, do MDB, partido presidido por Daniel Vilela.
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Quando a mulher começou a falar, parecia uma denúncia sem fundamento. Mas o método com que a fraude era cometida não parecia complicado. Ao meu lado, o fotógrafo Pedro Pinheiro percebeu minha tensão. Coloquei no viva voz e ele começou a gravar.
Essa fonte soube que um professor havia ido ao gabinete do vereador Kleybe Morais na Câmara de Goiânia e, ao pagar, via pix, R$100, havia recebido, em menos de uma hora, um diploma falso de pós-graduação para convocados para processo seletivo da Secretaria Municipal de Educação. Ele era um dos 1.200 convocados para um dos cargos de professor e administrativo da rede.
Sob anonimato, a mulher disse que o professor se manifestou desesperadamente em um grupo atrás de um certificado. “E eu mesma disse que ele poderia procurar o gabinete porque sabia que o vereador tem muita influência e poderia ajudar”, ela me contou.
Como o prazo de entrega de documentos para que professores assumissem a respectiva vaga no processo seletivo venceria no dia seguinte, sugeri a pauta aos editores, que aceitaram a história.
No início da tarde da sexta-feira, dia 13, orientei e monitorei a ida do repórter Lorenzo Barreto e do fotógrafo Pedro Pinheiro ao gabinete. Lorenzo voltou com uma negociação do jeito que a fonte havia me contado. O pagamento do pix de R$100 foi efetivado e, em dois minutos, recebemos o documento pelo WhatsApp .
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Bastou fazer a leitura do QR Code para que a gente percebesse que os dados não batiam com os que foram informados à assessora. O diploma era, de fato, de uma professora universitária, com dados manipulados, inclusive a carga horária e a data, como a própria comissionada sugeria no áudio gravado pelo repórter.
A fonte que contou a história para mim ainda disse que, além do uso do modelo do Instituto Nacional de Aperfeiçoamento Profissional, que administra o site Só Educador, com sede em Barbalha, no Ceará, ainda usava outros sites. Para averiguar a veracidade das informações, conversei com o dono da instituição, Carlos Henrique de Sousa Barros, que confirmou a falsificação do documento.
A fonte que levou o jornal ao gabinete disse que, para a servidora tentar despistar, ainda usava outros sites para falsificação. Por conta do tempo, a gente não conseguiu averiguar. Antes da reportagem ser publicada, a gente procurou a Secretaria Municipal de Educação que se comprometeu a averiguar a documentação dos candidatos que se beneficiaram do esquema, mas apenas aqueles que apresentaram certificados do site Só Educador.
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