Por regulação das redes, Moraes resgata regime nazista
Período marcado pelo controle da informação por parte do governo e o desencorajamento do debate, no que resultou em ausência de controle social


O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, tem se projetado como uma voz pela regulação das redes sociais no Brasil e no mundo. Em declarações recentes à revista norte-americana The New Yorker, o magistrado fez críticas ao excesso de desinformação que permeia o mundo digital. Moraes afirma que “se Goebbels estivesse vivo e tivesse acesso ao X, os nazistas teriam conquistado o mundo”. E ao se referir às big techs, aponta que “eles não querem respeitar a jurisdição. O objetivo é se tornarem imunes às nações”. Ainda argumenta que “a extrema-direita quer tomar o poder” em um processo de ataque às instituições democráticas, alegando que “são fraudadas”. Os comentários do ministro tocam em temas sensíveis e dividem opiniões nas redes sociais, surgindo, inclusive, dúvidas do período histórico e do personagem citados.
Após falas, Google registra alta nas pesquisas sobre o nazismo e Joseph Goebbels. Demonstrando que apesar dos horrores causados pela ideologia na Alemanha e no mundo, entres os anos de 1933 a 1945, a história ainda não é plenamente conhecida. Para compreender os argumentos de Moraes e suas comparações com o mundo atual, algumas frases ditas pelos nazistas e seus respectivos advogados – dos julgamentos que se seguiram no pós-guerra – podem elucidar quem eram e no que acreditavam.
Na famosa obra, da filosofa e jornalistas Hannah Arendt, ‘Eichmann em Jerusalém: Um Relato sobre a Banalidade do Mal’, narra o primeiro julgamento de um nazista em Israel. Adolf Eichmann especificamente era responsável pela logística –levar os judeus e outras minorias aos campos de extermínio. O seu advogado, Robert Servatius, disse à imprensa que “Eichmann se considera culpado perante Deus, não perante a lei”.
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Além disso, Servatius apontou que as acusações contra o seu cliente não constituíam crimes, mas “atos de Estado”, “somos condecorados se vencemos e condenados à prisão se perdemos”. O contexto compõe o argumento fundamental das defesas dos que fizeram parte do que foi registrado nos anais da história como a ‘Solução Final’ – a tentativa de extinguir o que era compreendido como judeus e outras ‘raças inferiores’.
Para eles, estavam apenas seguindo a lei, que não podiam ‘contestar’, tendo em vista que ‘contestar’ a lei era o mesmo que ‘contestar’ o seu líder supremo, Adolf Hitler. Esse linguajar que compreendia os atos dentro de uma dimensão estatizante, estava presente em um dos personagens mais importantes desta reportagem, o ministro da Propaganda do regime nazista, Joseph Goebbels, que afirmou em 1943: “ficaremos na história como os maiores estadistas de todos os tempos ou como seus maiores criminosos”.
Goebbels era responsável por criar a propaganda nazista e, para isso, adotava técnicas de manipulação social. Diziam que iam fazer algo e faziam o oposto, de modo recorrente. Dessa forma, o regime é concebido, hoje, como mentiroso, uma vez que antes de enganar o mundo, enganou o seu próprio povo. Nesse sentido, o ministro Alexandre de Moraes explica que o atual avanço da extrema-direita (em uma referência à ideologia extremista do século XX) é legitimado pelo grau de liberdade de expressão que existe nas redes sociais. E que se existisse tal ferramenta nos anos 30, os nazistas dominariam o mundo.
O que se pode ponderar, no entanto, é que a moderna sociedade da informação criou mecanismos de verificação e de autorregulação. Na primeira metade do século XX, o único meio de comunicação de massa era o rádio, que em um certo momento foi controlado pelo regime. Hoje, há vários meios, e apesar da desinformação persistente, o fenômeno compõe o processo democrático de discussão e controle social. O oposto do que ocorria, que era o controle da informação por parte do governo e o desencorajamento do debate, no que resultou em ausência de controle social.
Nacional-Socialista
A ideologia de extrema-direita se opunha ao marxismo, tinha o seu próprio projeto de Estado. Um número conservador considera que assassinou 6 milhões de judeus. Era belicoso e expansionista. Foi responsável pela Segunda Guerra Mundial e é lembrado como um dos regimes mais cruéis que já existiu.