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TOC

Transtorno obsessivo-compulsivo compromete rotina de milhões no Brasil

Segundo especialista, as causas do TOC envolvem uma combinação de fatores neurobiológicos, ambientais e cognitivos

Leticia Mariellepor Leticia Marielle em 24 de maio de 2025
Transtorno obsessivo-compulsivo compromete rotina de milhões no Brasil. | Foto: Reprodução/Istock

No Brasil, estima-se que uma em cada 50 pessoas conviva com o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), embora aproximadamente 30% delas resistam a buscar tratamento especializado. Esse transtorno se manifesta por meio de comportamentos e pensamentos que afetam diretamente a rotina do indivíduo, impondo padrões repetitivos difíceis de controlar.

O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) se manifesta por meio de obsessões e compulsões, explica o psicólogo Bruno Fernandes. “As obsessões são pensamentos, impulsos ou imagens mentais recorrentes, intrusivos e indesejados. Já as compulsões são comportamentos repetitivos ou atos mentais que a pessoa sente necessidade de realizar para aliviar a ansiedade provocada pelas obsessões ou até para tentar prevenir algum evento temido, mesmo quando não há uma relação lógica entre eles”, detalhou o especialista.

Entre as obsessões mais frequentemente relatadas estão aquelas relacionadas à limpeza e higiene, à organização simétrica de objetos, à autoimagem, a conteúdos de natureza sexual e à dificuldade em se desfazer de pertences. Já as compulsões podem se apresentar em ações como lavar as mãos diversas vezes ao dia, repetir certos rituais ao caminhar pelas ruas, como evitar pisar em rachaduras ou checar repetidamente se portas e janelas estão devidamente trancadas.

TOC x Manias: diferenças fundamentais

Muitas vezes, o TOC é confundido com manias, o que pode dificultar a identificação correta do problema. No entanto, há diferenças importantes entre ambos. As manias, ao contrário do TOC, costumam ser traços da personalidade, maneiras preferenciais de agir que, embora nem sempre saudáveis, não configuram um transtorno. O que mais distingue uma condição da outra é a frequência e a intensidade com que esses comportamentos ocorrem.

Enquanto no TOC os pensamentos obsessivos e os rituais compulsivos tomam grande parte do tempo da pessoa, comprometendo áreas essenciais da vida como o trabalho e os relacionamentos, as manias não costumam ser seguidas de forma tão rígida. A pessoa que tem manias pode manter determinados hábitos ou preferências, mas não os executa como regras inquestionáveis nem sente angústia extrema ao não cumpri-los.

Além disso, quem apresenta apenas manias tende a preservar sua rotina sem grandes prejuízos, o que não acontece com quem sofre de TOC. Nesse caso, a repetição constante dos comportamentos e a ansiedade gerada pela tentativa de controlá-los acabam afetando diretamente a qualidade de vida.

Causas multifatoriais do TOC

Muitas vezes, o TOC é confundido com manias. | Foto: Reprodução/Istock

Segundo o psicólogo, as causas do transtorno obsessivo-compulsivo envolvem uma combinação de fatores genéticos, neurobiológicos, ambientais e cognitivos. Do ponto de vista genético e neurobiológico, destaca-se a hereditariedade, além de disfunções em circuitos cerebrais específicos que podem estar relacionados ao surgimento do transtorno.

No campo ambiental e psicossocial, o especialista aponta que situações de estresse intenso ou eventos traumáticos como lutos, doenças ou separações marcadas por grande sofrimento, podem funcionar como gatilhos. Além disso, uma criação marcada por rigidez ou por um ambiente familiar excessivamente controlador, especialmente quando envolvido por regras religiosas severas, também pode influenciar no desenvolvimento do TOC.

Há ainda fatores cognitivos relevantes, como a presença de crenças disfuncionais. Entre elas, estão a supervalorização de pensamentos, a intolerância à incerteza e um senso de responsabilidade exagerado.

O psicólogo ressalta, ainda, que condições como ansiedade, depressão e tiques podem não apenas coexistir com o TOC, mas também contribuir para seu agravamento, tornando o quadro mais difícil de ser controlado sem intervenção adequada.

De acordo com uma pesquisa realizada pela Pfizer, entre 70% e 80% das pessoas diagnosticadas com transtorno obsessivo-compulsivo também enfrentam episódios de depressão. Essa associação pode estar diretamente ligada ao medo constante de julgamento por parte dos outros, o que leva muitos pacientes a ocultarem seus sintomas. Como consequência, há uma tendência a evitar a procura por ajuda médica, o que dificulta ainda mais o diagnóstico e o tratamento adequados.

Caminhos terapêuticos

Após o diagnóstico médico do transtorno obsessivo-compulsivo, diversas possibilidades terapêuticas podem ser adotadas conforme a necessidade de cada paciente. O psicólogo Bruno Fernandes explica que o tratamento do TOC é abrangente, podendo incluir o uso de medicamentos, como antidepressivos, além da psicoterapia. Em casos mais complexos, classificados como refratários, quando não há resposta aos métodos tradicionais, pode-se recorrer à estimulação magnética transcraniana, também chamada de neuromodulação, e, em situações extremas, até à neurocirurgia.

O especialista ressalta que o tratamento deve ser sempre individualizado, levando em consideração a intensidade dos sintomas, a presença de outros transtornos associados e as respostas obtidas com tratamentos anteriores. Segundo ele, “a combinação de Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e farmacoterapia é frequentemente mais eficaz do que qualquer abordagem isolada. Todavia, outras abordagens dentro da psicologia também demonstram resultados satisfatórios, quando combinadas com outros tratamentos”.

Na aplicação da TCC, o processo se inicia com uma avaliação detalhada dos sintomas apresentados por cada indivíduo. Em seguida, é realizada uma etapa de psicoeducação, considerada fundamental para que a pessoa compreenda o transtorno e consiga identificar com mais clareza os próprios pensamentos e comportamentos. A partir desse ponto, são introduzidas técnicas específicas voltadas à identificação e ao questionamento dos pensamentos disfuncionais relacionados às obsessões, com o objetivo de substituí-los por interpretações mais realistas e funcionais.

O psicólogo enfatiza que, durante o tratamento, são incluídos exercícios de exposição às situações que despertam obsessões e compulsões, juntamente com técnicas de prevenção das respostas compulsivas. Segundo ele, esse processo deve ser conduzido, sobretudo no início, sob a supervisão de um profissional experiente na área, garantindo maior controle e eficácia na intervenção.

Com o avanço do tratamento, o foco passa a ser o fortalecimento da autonomia do paciente. Nesse estágio, são ensinadas estratégias para lidar com possíveis recaídas e promover a autopercepção, estimulando a aplicação independente das técnicas aprendidas ao longo da terapia. Dessa forma, o processo é gradualmente conduzido com vistas à alta clínica, preparando o indivíduo para gerenciar seus sintomas de forma mais autônoma e sustentável.

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