Segunda-feira, 08 de julho de 2024

Bicicletas disputam tempo com Internet

A tecnologia que tirava os jovens de atividades físicas virou motivo para os pais estimularem seus filhos à prática de esporte - Foto: Wesley Costa

Postado em: 19-10-2019 às 06h00
Por: Leandro de Castro Oliveira
Imagem Ilustrando a Notícia: Bicicletas disputam tempo com Internet
A tecnologia que tirava os jovens de atividades físicas virou motivo para os pais estimularem seus filhos à prática de esporte - Foto: Wesley Costa

Igor Caldas

Um Levantamento feito pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), com mais de 2 mil adolescentes, mostra que 25,3% são dependentes de Internet. A tecnologia que tirava os jovens de atividades físicas virou motivo para os pais estimularem seus filhos à prática de esporte. De acordo com o proprietário de uma das lojas mais tradicionais de ciclismo de Goiânia, Fernando Francisco Araújo, a venda de bicicletas para crianças e adolescentes cresceu em média 30% no período de férias escolares e Dia das Crianças.

Ele diz que a tecnologia que estava roubando a cena do ciclismo se transformou em motivação para aquisição da bicicleta, principalmente para os jovens. “Muitas pessoas se conscientizaram que pedalar traz mais qualidade de vida. Os pais enxergam no esporte uma oportunidade de tirar um pouco os filhos do celular”. Ele afirma que muitos adultos que começam a pedalar, também compram bicicleta para seus filhos. “Alguns pais que têm filhos pequenos só compram a bike que tiver possibilidade de instalação de cadeirinha para bebês para a criança já ir acostumando”.

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A intenção da compra, segundo o proprietário, é fazer do ciclismo uma atividade de lazer em família. Ele ainda afirma que a venda de bicicletas para crianças teve alta no mês de julho e outubro, por causa das férias escolares e Dia das Crianças. “O mês de julho, quando teve férias escolares teve o maior faturamento da loja desde 2015. A gente teve um aumento de 30% das vendas. Em outubro foi um pouco menos, mas também foi muito bom por causa do Dia das Crianças”.

Mobilidade urbana

Fernando diz que a estrutura para uma melhor mobilidade urbana está muito aquém do que deveria ser. Ele não vê muitas vendas saindo de pessoas que querem usar a bicicleta como transporte urbano. “O trânsito está uma loucura e a cidade não tem estrutura para bicicletas. Isso faz com que optar pelo ciclismo como transporte na cidade seja perigoso. A pessoa acaba arriscando a vida todos os dias no tráfego intenso”. Ele afirma que a infraestrutura da cidade deve melhorar muito para garantir segurança aos ciclistas.

O motorista Wilson Inácio estava na loja buscando uma bicicleta para afastar sua filha da Internet. “Minha filha tem 14 anos e passa o dia inteiro no celular. Ela fica com o aparelho na mão até quando faz a tarefa de escola”. Ele afirma que prometeu a filha que compraria uma bicicleta e ela se entusiasmou. “Eu falei para ela que compraria uma bike e ela animou. Vamos ver se ela sai pelo menos um pouco do celular para pedalar”. O motorista afirma que não pedala há muito tempo e que muita coisa mudou em uma loja de bicicletas desde que ele parou de andar.

“Antes, comprar bicicleta era muito mais fácil. Hoje a gente entra nessa loja aqui e vê muita diversidade. A tecnologia avançou muito e também puxou os preços lá para cima. Tem bicicleta que custa a mesma coisa que um carro luxuoso”. Wilson diz que pretende pagar à vista. No entanto, Fernando afirma que a facilidade do pagamento à prazo conseguiu manter o mercado aquecido, mesmo durante a crise. “A concorrência das empresas que oferecem o serviço de pagamento para os comerciantes fez elas diminuírem as taxas. Eu consigo parcelar tudo em 12 vezes sem juros aqui na loja”.

Mercado aquecido

De acordo com o comerciante, o mercado de bicicletas encontra-se no seu auge, mas poderia ficar ainda melhor se o preço do dólar se estabilizasse. Ele afirma que apesar das montadoras das marcas mais vendidas no país estejam em território nacional, a maioria das peças são fabricadas no exterior. “É no polo industrial de Manaus que está a maior parte das montadoras, mas 90% das peças que são usadas para montar uma bicicleta são fabricadas fora. O Brasil tem uma produção alta na montagem, mas não tem tecnologia para produzir as peças”, afirma o vendedor.

De acordo com o proprietário, o maior concorrente da loja é a Internet. Ele afirma que peças e acessórios mais baratos são trazidos do Paraguai por pessoas que moram próximo da fronteira e vendem os produtos por meio de sites especializados em vendas na Internet. “Quando você vê um produto abaixo do preço de mercado na Internet, é porque veio do Paraguai. São produtos que não têm nota fiscal. Você pode ver que essas peças saem de estados que fazem fronteira com o outro país, como o Paraná”.

Segundo dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), a produção de bicicletas está em alta. A fabricação de bicicletas em setembro cresceu 35,5% em relação ao mesmo período em 2018. No comparativo acumulado, a produção anual de bicicletas cresceu 21,7% em relação ao último ano. A associação prevê um crescimento de 10,8% na produção até o fim deste ano. O empresário montou a loja de bicicletas em 1993 e desde que começou a vender bicicletas viu o mercado se transformar.

Bicicletas aquecem mercado e qualificação profissional

“De oito anos para cá, andar de bicicleta virou febre. A tecnologia desenvolveu tanto nos acessórios quanto nas bicicletas”. Ele afirma que as últimas novidades têm sido capacetes com tecnologia anti-impacto, passadores de marcha eletrônicos e com tecnologia wireless. “Hoje tem bicicleta tão leve que você levanta com um dedo. Tudo feito com fibra de carbono. Tem capacete que possui tecnologia de leitura de impacto e que avisa até cinco celulares diferentes em caso de acidente. Tudo por satélite”.

No entanto, toda essa tecnologia tem um preço. Outra mudança que Fernando percebeu foi a chegada de bicicletas sofisticadas, com alto valor agregado. Algumas podem chegar ao preço de um carro de luxo.  Em sua loja, ele vende modelos que custam de R$ 500 até R$ 58 mil. Os acessórios para bicicletas também têm muito valor agregado. O preço pode chegar lá em cima. Alguns chegam a R$ 15 mil. O comerciante revela que os acessórios correspondem a 60% do faturamento da empresa.

Seguros 

Um dos setores que também aqueceu com o aumento de preço das bicicletas foi o setor de seguros. De acordo com o vice-presidente de Relações Institucionais do Sindicato dos Corretores e Empresas Corretoras de Seguros no Estado de Goiás (SINCOR-GO), Vinicius Porto, o seguro anti roubo e acidentes de bicicletas se torna imprescindível para quem investe em uma bike de alta performance. “As bicicletas estão com preços semelhantes a um carro de luxo e já existe cobertura de seguros contra roubos, acidentes e até para terceiros, em caso de haver um acidente que envolve outra pessoa”, afirma.

Ele afirma que o seguro de bicicletas começou a ter uma procura maior há cerca de três anos, principalmente devido a falta de segurança nas cidades. Hoje existem empresas que oferecem seguros para bicicletas de R$ 2 mil a R$ 70 mil. O mercado para esse tipo de serviço cresceu aproximadamente 20% em relação há quatro anos atrás. As bicicletas têm um valor agregado alto e existe um mercado clandestino para peças roubadas, então quem investe alto nesse tipo de veículo se preocupa em resguardá-lo. 

Qualificação

Na loja de Fernando, também funciona uma oficina de bicicletas. Alguns de seus mecânicos trabalham com ele há mais de 10 anos. Eles também precisaram se atualizar com cursos profissionalizantes para conhecer as novas peças sofisticadas no mercado. “Grande parte dos funcionários aqui trabalham comigo há mais de uma década. Eles tiveram que fazer qualificação profissional em cursos em São Paulo para aprenderem sobre as novas tecnologias que chegaram ao mercado do ciclismo”.

O empresário aposta que o futuro das bikes pertence a tecnologia da pedalada assistida, a bicicleta elétrica. No entanto, ele explica que esse tipo de veículo não é para gente preguiçosa. “Eu vejo a tecnologia da pedalada assistida como promissora. São aquelas bicicletas elétricas que possuem um pequeno motor leve para ajudar na propulsão do veículo. É como se o ciclista precisasse de menos esforço para percorrer as distâncias. Acredito que muitas pessoas vão optar por esse tipo de veículo como transporte para ir ao trabalho porque elas vão poder fazer o caminho sem suar”.

 

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