HQ criada por professor da UFG reflete a vida na pandemia

O professor da Faculdade de Artes Visuais (FAV) da UFG e quadrinista, Edgar Silveira Franco, também conhecido como Ciberpajé, é o autor

Postado em: 06-06-2021 às 14h26
Por: Alice Orth
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Em coletânea de 13 quadrinhos, Edgar Silveira Franco lida com o luto pela morte do pai e a esperança da “poesia do instante”. Foto: Divulgação

O professor da Faculdade de Artes Visuais (FAV) da UFG e quadrinista, Edgar Silveira Franco, também conhecido como Ciberpajé, é o autor de uma coletânea de HQs inspirada na pandemia. Renovaceno, título da série, foi lançado no último mês de maio e se inspira na realidade que, segundo ele, “parece um roteiro de ficção científica”.

A obra tem tiragem limitada e reúne 13 quadrinhos em 68 páginas. Ela é um dos resultados do Grupo de Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Cria_Ciber, que faz parte do Programa de Pós-graduação em Arte e Cultura Visual da Faculdade de Artes Visuais da UFG, coordenado pelo professor há 11 anos. 

“O álbum trata desse momento dramático que estamos vivendo somado ao debate da aceleração hipertecnológica”, explicou Edgar. “Ao mesmo tempo, estamos sendo governados pela anti-intelectualidade. Estamos vivendo uma distopia. Assistimos ao noticiário e parece que estamos dentro de um roteiro de ficção científica, de um surrealismo absurdo”.

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A primeira história apresentada na coletânea foi motivada pela própria experiência do autor, que perdeu o pai de 80 anos, uma prima e dois amigos próximos para a Covid-19.  “A morte de meu pai me fez pensar no meu próprio enterro. E nesse meu enterro como uma forma simbólica de reconexão com o planeta”, contou. “É como se a transformação começasse na autotransformação”.

Ciberpajé revelou que esteve com o pai durante todo o processo da doença, desde a crise respiratória até o funeral, que exigiu que o caixão estivesse fechado. “Eu era apaixonado pelo meu pai. Perdi o meu maior mentor. O meu amigo, com quem conversava, inclusive, sobre os destinos da humanidade. Espero superar isso e carregar a memória dele de forma positiva”, lembrou ele.

O título escolhido foi influenciado pelo livro do pesquisador e ambientalista James Lovelock conhecido como criador da Teoria de Gaia, que propõe que a Terra seja um único organismo vivo que busca o equilíbrio. Em sua obra, ele discute um futuro em que a inteligência artificial superou a humanidade de tal maneira que o homem é visto como uma criatura lenta e ultrapassada, embora todos convivam em harmonia.

Em Renovaceno, Edgar Franco imagina qual seria o próximo passo após o Novaceno. “O que faço é pensar no retorno da eutopia, no momento em que estamos vivendo uma distopia. Em um tempo em que milhares de pessoas abandonaram seus corpos orgânicos por novas interfaces robóticas, imaginei um futuro em que a transferência da consciência humana para chips de computador é possível, em que a bioengenharia avançou de tal forma que a hibridização genética entre humanos, animais e vegetais se torna possível. E esses seres antropomórficos remetem às figuras mitológicas”, esclareceu.

De acordo com Franco, a coletânea busca transitar entre o dualismo sentido pelo indivíduo contemporâneo: a experiência do “agora” e a sua relação com o passado e o futuro. Na ansiedade gerada pela indefinição, a origem vem da “dor insuportável da pandemia. E, nela, a gente sempre acaba buscando culpados, e eu acho que se não fosse esse governo com essa necropolítica talvez meu pai estivesse aqui. Tem o fato e a ansiedade de eu não estar vacinado, minha esposa não estar vacinada. Então, a sensação é a de que a humanidade faliu”.

Por outro lado, o “agora” é mais otimista: “vem o outro dia, vejo minha mulher, meus animais, saboreio uma boa comida, vivencio o agora. A vida é a poesia do instante”, contemplou. “Se penso no passado ou no futuro, fico triste. Mas tento focar no ‘agora’. O ato criativo é vivenciar a experiência do instante. A minha positividade vem no sentido de que é possível ser alegre no agora”.

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