Renato Russo: Filho da revolução

Ele continua nos ensinando que é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã

Postado em: 01-04-2023 às 11h50
Por: Lanna Oliveira
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Álbum clássico ‘Stonewall Celebration Concert’ ganha edição especial e comemorativa em vinil duplo e colorido | Foto: Reprodução

Anseios juvenis, rebeldia política e estados nublados da alma, eram características frequentes nas composições de um dos maiores de todos os tempos. Renato Russo era aquele jovem incompreendido que na mesma proporção se fazia entender por meio do rock. Essa dualidade o cercou durante sua carreira que marcou gerações e agora ganha um novo capítulo. O álbum clássico ‘Stonewall Celebration Concert’ ganha edição especial e comemorativa. Este é o primeiro disco solo do músico, gravado em 1994.

Certa vez, ao ser questionado o que Legião Urbana significava, Renato Russo disse que eles eram apenas uma banda de rock. Mas sem entender a grandeza do que construíra, o cantor revelou ali uma humildade quase inocente que percebe-se também em suas músicas utópicas. Sempre reflexivas, seja no engajamento político e social ou nas suas frustrações amorosas e suas inquietações mais profundas, suas composições levam gerações a uma consciência da juventude da época gerando grande apelo. 

Após 27 anos de sua morte, Russo ainda é reconhecido como um dos artistas nacionais de maior expressão dos últimos tempos. Nesta semana, dia 27 de março, ele completaria 63 anos e em homenagem a data, acaba de ser lançado pela gravadora Universal Music o vinil de ‘Stonewall Celebration Concert’. Esse clássico, gravado em 1994, foi inspirado nos 25 anos da rebelião de Stonewall, ocorrida em 1969 na cidade de Nova Iorque. Esse foi o primeiro disco solo logo depois de deixar a banda Legião Urbana, nacionalmente conhecida e aclamada pelo público.

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Essa edição super especial feita em vinil duplo e colorido, conta com 21 canções norte-americanas, entre elas standards como ‘Say it Ins’t So’ (Irvin Berlin, 1932), ‘I Get Along Without You Very Well’ (Hoagy Carmichael, 1939), ‘Miss Celie’s Blues – Sister’ (Lionel Richie, Quincy Jones e Rod Temperton, 1985), entre outras. O artista gravou o álbum de forma bem intimista, utilizando apenas voz, violão e teclado. O trabalho é um marco na transição que Renato vivia naquele momento e representa toda as conquistas que viria adiante.

Sua trajetória impacta ainda hoje quando vemos jovens que não viram ele nos palcos sendo tocados por suas músicas. Prova disso é uma plateia de todas as idades no show da turnê ‘As V Estações’ promovida por Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, originários da banda que projetou Renato. A primeira apresentação ocorreu em Goiânia no Flamboyant In Concert e foi lindo ver o público cantando em um único coro todas as músicas. Relevantes e necessários, é o que define esse projeto desses dois artistas que continuam mergulhando nesse mar da música brasileira.

Para acompanhá-los em mais 11 shows pelo Brasil, André Frateschi (vocal), Lucas Vasconcellos (guitarra), Mauro Berman (diretor musical e baixista) e Pedro Augusto (teclados). A banda os acompanha desde 2015, quando houve o primeiro encontro em celebração aos 30 anos do álbum de estreia dos músicos com a banda, o disco ‘Legião Urbana’, de 1985. Sorocaba, São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Curitiba, João Pessoa, Recife, Manaus, Belém, Teresina e Fortaleza também recebem a apresentação.

Renato Russo e Legião Urbana são como um signo da cultura contemporânea brasileira, é um bem cultural imprescindível para a construção da nossa identidade como nação. Já que nossa individualidade começa pelas nossas influências musicais e passa pelo todo. Personificando uma personalidade insurgente, ele se estabeleceu como voz privilegiada e catalisadora de anseios juvenis nos anos 1980 a partir de suas experiências urbanas. Portanto, sua musicalidade transcorre por sua própria vivência.

Renato Russo cantava sobre ele próprio, suas dores e percepções de mundo, e encontrava eco em outras pessoas que compartilhavam valores e noções próximas a ele, principalmente nos ‘filhos da revolução’ que, nos anos 1980, experimentaram a redemocratização brasileira, aliada às contradições sociais alargadas nesse período. Mesmo após 27 anos de sua morte, suas canções encontram coro em outras gerações. Renato Russo é um dos porta-vozes de um momento da história do nosso País e a memória desse artista permanece viva.

Curiosidades sobre o ícone

O nome de batismo de Renato Russo era Renato Manfredini Júnior. O sobrenome, Russo, foi inspirado nos filósofos Jean-Jacques Rousseau, Bertrand Russel, e também no cineasta Ken Russel. Mesmo após receber o diagnóstico de HIV positivo em 1989, Renato Russo continuou suas atribuições como vocalista da Legião Urbana por mais sete anos. Mesmo com o fim do grupo, a banda ainda é a terceira do catálogo da gravadora EMI que mais vende discos no mundo. A banda vende, em média, 250 mil cópias por ano. 

A Legião Urbana, depois de um show cheio de problemas, em Brasília, prometeu nunca mais se apresentar na cidade. E nunca mais retornou. Sobre a música ‘Índios’, pessoas que conheceram Renato afirmam que ela foi escrita após o músico ter cortado os pulsos em uma tentativa de suicídio. A Legião Urbana é a 11ª colocada na lista de artistas brasileiros que mais venderam discos na história, com mais de 25 milhões de cópias. O último álbum da banda foi ‘A Tempestade Ou O Livro dos Dias’, lançado um mês antes da morte de Renato Russo.

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