Memorial da Pandemia de Covid-19

Cultura e Saúde se unem para a criação de espaço que relembre a dimensão da doença que matou mais de 710 mil brasileiros, segundo Ministério da Saúde

Postado em: 13-03-2024 às 10h00
Por: Letícia Renata
Imagem Ilustrando a Notícia: Memorial da Pandemia de Covid-19
No futuro, o memorial deverá abrigar, em suas instalações, uma exposição de longa duração que relatam todos os episódios marcantes da pandemia, desde as primeiras notícias ao lockdown | Foto: Julia Prado/MS

O ano era 2020, e a Organização Mundial da Saúde (OMS), declarava o cenário de Covid-19 no mundo como pandemia. Quatro anos depois, o Ministério da Saúde juntamente com o apoio do Ministério da Cultura (MinC), anuncia a criação do Memorial da Pandemia de Covid-19, para lembrar a dimensão da pandemia da Covid-19, que tirou a vida de mais de 700 mil pessoas no Brasil e estimular a reflexão sobre a importância da ciência e do Sistema Único de Saúde (SUS).

O seminário aconteceu na última segunda-feira (11), e contou com a participação de autoridades do governo federal, gestores de políticas públicas de saúde e cultura, parlamentares, representantes da ciência, de instituições de pesquisa e da sociedade civil, o evento seguiu até a terça-feira (12), quando ocorrerá a assinatura de um Memorando de Entendimento entre as duas pastas para a concretização dessa parceria. A expectativa é que o Memorial seja instalado no Centro Cultural do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro.

De acordo com o MS, um edital público vai mobilizar artistas, arquitetos e outros profissionais a se engajarem na proposta. No futuro, o memorial deverá abrigar, em suas instalações, uma exposição de longa duração que relatam todos os episódios marcantes da pandemia, desde as primeiras notícias ao lockdown, os estudos científicos para o conhecimento do vírus e as mortes, mas também os momentos de êxito e descoberta como as primeiras vacinas, o mapeamento genético do vírus, as ações de solidariedade para disseminação das melhores práticas sanitárias e do combate à fome e ao desemprego, até o avanço das soluções digitais para iniciativas médicas, sociais e culturais.

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Será um espaço de superação, de destaque da ciência, da força do SUS, de solidariedade e uma oportunidade de estimular a reflexão dos visitantes sobre a saúde. A ideia é que o Memorial da Pandemia de Covid-19 seja um museu vivo e em constante mutação.

Segundo a ministra da Saúde, Nísia Trindade, as duas pastas têm o desafio de criar uma política de memória para todo o país. “Agradeço a todos que atenderam ao nosso chamamento para juntos pensarmos nesse memorial. Sempre defendemos o encontro entre a saúde e a cultura. É preciso pensar a saúde como parte da cultura”, afirmou. A ministra lembrou ainda a importância de se debater nesse processo aprendizados que contribuam para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde e da democracia. “Só um sistema potente e resiliente pode fazer frente a possíveis futuras pandemias. Ao falarmos do memorial, falamos da importante relação entre memória e história. Não circunscrevemos ao passado, mas pensamos também em que projeto nós queremos para a saúde, para o Brasil, para a democracia e para o mundo”, finalizou.

A secretária de Cidadania e Diversidade Cultural (SCDC) do MinC, Márcia Rollemberg, destacou que esse projeto permitirá a preservação da história recente. Na ocasião, também homenageou o escritor Aldir Blanc e o ator Paulo Gustavo, vítimas da pandemia e que inspiraram as atuais leis de financiamento da cultura no país. “O Memorial nos faz pensar, refletir e lembrar de tudo o que vivemos. Não foi fácil o que vivemos. Essa iniciativa materializa a recente história, traduz a dimensão simbólica das profundas perdas e sequelas que sofremos e ainda vivemos. Se apresenta como um ato de respeito, de solidariedade, como um permanente alerta”, disse emocionada. E completou: “Todos nós poderemos refletir sobre o significado da pandemia para o país e para o mundo, o papel e a resposta da ciência à pandemia, a ciência que viveu e ainda vive o negacionismo, o direito do acesso à informação e a comunicação em saúde”.

Já na avaliação da presidenta do Instituto Brasileiro de Museu (Ibram), Fernanda Castro, o memorial também será um espaço de educação cidadã. “Trazer memórias, mesmo que traumáticas, é muito importante para que a gente trabalhe na educação da população, uma educação científica, cidadã e que visa construir a democracia. Ter esse memorial vai ser muito importante para a gente seguir adiante. É, na verdade, uma ferramenta de construção da cidadania e de fortalecimento da democracia”, explicou.

A pandemia deixou marcas de profundo sofrimento na população brasileira. De acordo com a representante da Rede Nacional das Entidades de Familiares e Vítimas da Covid, Rosângela Dornelles, o memorial terá um papel crucial para recompor a verdade sobre essa tragédia e na reparação de suas consequências. “A construção coletiva desse espaço para homenagem às vítimas, aos profissionais de saúde e à sociedade civil que atuou no enfrentamento à pandemia será um elo para conscientização dos novos parâmetros educacionais, científicos e de controle social. Surge uma nova esperança de responsabilização daqueles que deixaram acontecer e que promoveram maiores consequências da pandemia. Precisamos escutar as vítimas para termos a noção necessária da dor que ficou em todos nós”, salientou.

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