Caiado diz que fala de Zema não foi feliz e que Goiás não avançará em “sentimento separatista”

"Nossas diferenças não precisam ser sinônimo de divergência”

Postado em: 07-08-2023 às 10h01
Por: Francisco Costa
Imagem Ilustrando a Notícia: Caiado diz que fala de Zema não foi feliz e que Goiás não avançará em “sentimento separatista”
"Nossas diferenças não precisam ser sinônimo de divergência” (Foto: Wesley Costa/Governo de Goiás)

O governador Ronaldo Caiado (União Brasil), ainda na tarde de domingo (6), se posicionou contra a fala do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que defendeu maior protagonismo econômico e político dos estados do Sul e Sudeste, além de comparar a região Nordeste com “vaquinhas que produzem pouco”. O goiano disse que o posicionamento não foi feliz e que deu margem “a todas essas interpretações que estão circulando”.

Além disso, aproveitou para alfinetar, dizendo que o Centro-Oeste, “no que depender de Goiás, será sempre este elo forte pra nunca deixar avançar nenhum sentimento separatista, o que é responsabilidade de todos nós, governadores e governadoras. Nossas diferenças não precisam ser sinônimo de divergência”.

Vale citar, ambos são cotados para a disputa pela presidência em 2026 e, neste embate, o goiano adotou tom completamente diferente. Sobre a fala, o mineiro defendeu, na última semana, a união de estados do Sul e do Sudeste para barrar projetos que possam favorecer outras regiões do Brasil. A declaração ocorreu em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo. Na ocasião, Zema defendeu a atuação do Consórcio Sul-Sudeste (Cossud), atualmente presidido pelo governador Ratinho Júnior (PSD-PR), para buscar “protagonismo político”.

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O governador de Minas Gerais criticou, principalmente, as regiões Norte e Nordeste. Segundo ele, estados do Sul e Sudeste arrecadam muito mais para a União e recebem muito menos de volta. “Se não você vai cair naquela história, do produtor rural que começa só a dar um tratamento bom para as vaquinhas que produzem pouco e deixa de lado as que estão produzindo muito. Daqui a pouco as que produzem muito vão começar a reclamar o mesmo tratamento”, disse.

“Temos 256 deputados – metade da Câmara – 70% da economia e 56% da população do país. Não é pouco, né? Já decidimos que, além do protagonismo econômico que temos, nós queremos – que é o que nunca tivemos – o protagonismo político”, continuou. Para o governador, esse protagonismo político já ficou explícito nas discussões da Cossud em relação à reforma tributária. Caiado, como já mencionado, se posicionou contra qualquer “sentimento separatista”.

Nomes da direita

Tanto Caiado como Zema são apostas para a disputa pela presidência em 2026. Neste momento, analistas argumentam que a capilaridade de um Estado como Minas Gerais é uma vantagem, mas Caiado tem despontado com narrativas mais certeiras. Entre elas, a posição do goiano em relação a reforma tributária e o “discurso de campanha” na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Federal que investiga o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Cientistas políticos, inclusive, já enumeraram os desafios do goiano para entrar no páreo. “Caiado é de longe o nome goiano mais reconhecido no cenário nacional. A atuação dele no Congresso sempre foi muito contundente. Uma imagem consolidada nos grandes centros, tem uma visibilidade boa”, começa Marcos Marinho, professor e cientista político.

Apesar disso, ele observa que Goiás não pauta o País. Então, para Caiado fazer algo no governo que reverbere na esfera nacional, tem que ser algo realmente muito interessante. “Precisa fazer um governo de muita visibilidade, para extrapolar as fronteiras”, reforça e completa: “Além disso, ele precisa se consolidar no campo da direita. Aglutinar a direita moderada, centro-direita e um pouco da extrema-direita, ou seja, o bolsonarismo.”

“Em relação a partido, o União Brasil é grande e possui uma grande bancada no Congresso. Se o partido comprar a ideia, tem estrutura para uma campanha presidencial. Mas Caiado precisa se tornar o principal player desse espectro político. Conseguindo fazer isso – nos próximos anos –, se torna um candidato interessante.”

Marinho lembra, ainda, que o governador de Goiás tem histórico combativo em relação a Lula e o PT, enquanto deputado federal e Senador. Assim, se superar os obstáculos e emplacar o nome como escolhido do grupo das direitas, fica competitivo. “Não é fácil, mas não é impossível.”

Fora tudo isso, ele tem não só Zema, mas outro nome de peso, como o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como adversário na direita. Caiado, contudo, é mais experiente e não tem errado. Só virou mídia nacional em destaques positivos, até o momento, diferente dos adversários. Tem feito o dever de casa.

Pegou mal

Mas além de Caiado, o consórcio de governadores da região Nordeste também rebateu as falas de Zema, no domingo. O grupo, que é presidido pelo governador da Paraíba, João Azevêdo, disse que o discurso representa “um movimento de tensionamento com o Norte e o Nordeste”. Além disso, citou que as regiões que representa vêm sendo “penalizadas ao longo das últimas décadas” nos projetos nacionais de desenvolvimento.

Ele também criticou o “lampejo separatista”. “Negando qualquer tipo de lampejo separatista, o Consórcio Nordeste imediatamente anuncia em seu slogan que é uma expressão de ‘O Brasil que cresce unido’. Enquanto Norte e Nordeste apostam no fortalecimento do projeto de um Brasil democrático, inclusivo e, portanto, de união e reconstrução, a entrevista parece aprofundar a lógica de um país subalterno, dividido e desigual.”

Para o consórcio, as falas de Zema apontam “uma guerra entre as regiões”. “É importante reafirmar que a união regional dos estados Nordeste e, também, os do Norte, não representa uma guerra contra os demais estados da federação, mas uma maneira de compensar, pela organização regional, as desigualdades históricas de oportunidades de desenvolvimento.”

Mineiro, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), também criticou Zema. Segundo ele, o estado não pratica a “cultura da exclusão”. “Não cultivamos em Minas a cultura da exclusão. JK, o mais ilustre dos mineiros, ao interiorizar e integrar o Brasil, promoveu a lógica da união nacional. Fiquemos com seu exemplo. Ao valoroso povo do Norte e Nordeste, dedico meu apreço e respeito. Somos um só País.”

Zema se defende

Pelas redes sociais, Zema justificou a fala. “A união do Sul e Sudeste jamais será pra diminuir outras regiões. Não é ser contra ninguém, e sim a favor de somar esforços. Diálogo e gestão são fundamentais pro país ter mais oportunidades. A distorção dos fatos provoca divisão, mas a força do Brasil tá no trabalho em união”, escreveu.

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