Hacker diz que Bolsonaro lhe propôs indulto para assumir grampo contra Moraes

Declaração ocorreu na manhã da última quinta-feira em meio à série de depoimentos que apuram as responsabilidades pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro

Postado em: 18-08-2023 às 08h30
Por: Redação
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Delgatti relatou que encontrou a deputada Carla Zambelli num posto de gasolina e que ela inseriu um chip num celular "aparentemente novo" | Foto: Lula Marques/ABr

Felipe Cardoso e Ícaro Gonçalves

Em depoimento à CPMI do 8 de janeiro, o hacker Walter Delgatti Neto afirmou aos deputados que teria recebido uma ligação do então presidente Jair Bolsonaro (PL), que o pediu para assumir um suposto grampo telefônico contra o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes. As falas ocorreram na manhã da última quinta-feira (17), em meio à uma série de depoimentos que apuram as responsabilidades e envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro.

Delgatti relatou que encontrou a deputada Carla Zambelli (PL-SP) num posto de gasolina e que ela inseriu um chip num celular “aparentemente novo”. Em seguida, a parlamentar ligou para o então presidente da República. O então presidente disse ao hacker que o grampo já havia sido realizado, “com conversas comprometedoras do ministro”. “Eles queriam que eu assumisse a autoria desse grampo, lembrando que à época eu era o hacker da Lava Jato”, detalhou aos congressistas. 

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O hacker afirmou ainda que Bolsonaro lhe contou que o grampo havia sido realizado por agentes de outro país e lhe disse: “Fique tranquilo, se por acaso alguém lhe prender eu mando prender o juiz”, e deu risada. Delgatt disse ter concordado em assumir o grampo, porque era um pedido do presidente da República.

Ainda segundo Walter Delgatti Neto, a deputada também pediu para ele invadir algum site da Justiça para mostrar a suposta fragilidade do sistema e criar uma forma de provar que as urnas eletrônicas não eram confiáveis.

“A ideia era falar sobre as urnas, e a conversa foi técnica até que o presidente me disse: ‘A parte técnica eu não entendo. Então, eu irei enviá-lo ao Ministério da Defesa e com os técnicos você explica tudo isso’. A conversa se resumiu a isso. E ele pediu que eu fizesse o que o Duda [Lima] havia dito sobre o 7 de setembro”, declarou Delgatti.

Delgatti informou ainda que, no dia 9 de agosto do ano passado, participou de duas reuniões. Uma com o presidente do PL, Waldemar Costa Neto, os advogados dele, o irmão e o marido de Carla Zambelli em que trataram de assuntos “técnicos”. E outra com o marqueteiro Duda Lima, em que eles teriam discutido ações para colocar em dúvida a credibilidade das urnas eletrônicas, mostrando, por exemplo, que era possível apertar um voto e sair impresso outro.

Em outra ocasião, Delgatti afirmou que se reuniu com Bolsonaro, Zambelli, o ajudante de ordens do presidente Mauro Cid e o general Marcelo Câmara ainda para discutir a fragilidade das urnas eletrônicas. Bolsonaro, segundo o hacker, lhe garantiu que receberia um indulto se fosse preso por ações relativas à urna eletrônica.

O ex-presidente pediu a Marcelo Câmara, segundo o depoente, que o levasse ao Ministério da Defesa para conversar com os técnicos. O hacker disse aos parlamentares que, ao todo, foi cinco vezes ao ministério. A ideia inicial era ele mesmo inspecionar o código-fonte das urnas, mas apenas servidores do ministério tinham acesso, então eles iam até o TSE e repassavam informações para o hacker.

Delgatti também confirmou informações dadas em depoimento à Polícia Federal, de que recebeu cerca de R$ 40 mil da deputada Carla Zambelli pelos serviços prestados. O dinheiro teria sido entregue pelo motorista dela. Ele disse que parlamentar lhe ofereceu um emprego, mas lhe enviou os valores até que o emprego fosse viabilizado. 

O depoente também disse que aceita participar de acareação com o ex-presidente para comprovar informações fornecidas à Comissão. Ele foi questionado sobre a possibilidade pelo senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB) e respondeu que sim, “de forma tranquila”. Acareação, vale lembrar, é a forma de apurar a verdade de declarações ou depoimentos, confrontando duas pessoas frente a frente.

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