10 hits que vão bombar no Carnaval 2017

Júnior Bueno

As marchinhas já eram. Apesar de serem eternas nos Carnavais pelo Brasil afora, as canções bem-humoradas, que datam do meio do século passado, possuem conteúdos para lá de ultrapassados – como as homofóbicas Cabeleira do Zezé e Maria Sapatão e a ultrajante e racista O teu Cabelo não Nega. Mesmo que algum tema sempre gere alguma marchinha a cada ano, como a atual que foi inspirada em João Dória, as marchinhas mais novas não possuem força para seguir no tempo. E o mercado radiofônico possui, desde a década de 1990, outras receitas para marcar cada reinado de Momo. Axé, funk e música sertaneja dominam a fábrica de ‘hits do Carnaval’, que grudam feito cola na cabeça e somem com a mesma rapidez nos meses que se seguem. O Essência preparou uma lista com as dez candidatas a hino deste ano. Confira.

‘Me Libera Nega’ (Mc Beijinho) – Há coisas que só acontecem no Brasil. A história desse hit é um exemplo disso: a música surgiu num momento delicado de MC Beijinho. O cantor baiano foi preso em flagrante ao tentar roubar um celular e, no porta-malas da viatura, começou a criar a música. Filmado pelo programa Balanço Geral, afiliada da Record na Bahia, ele não teve dúvidas e começou a cantar: “Me libera, nega; deixa eu te amar. Me libera, nega; vem pro Olodum”. A música conquistou o público baiano e, após os dois dias em que o MC ficou em detenção, ele já era famoso na cidade. Neste verão, diversos cantores incluíram Me Libera, Nega em seus shows – como Luan Santanna e Simone e Simaria. A prova que o hit ultrapassa barreiras veio com o vídeo de Caetano Veloso cantando os versos de Mc Beijinho

‘Deu Onda’ (MC G15) – Lançada em dezembro de 2016, o hit literalmente deu fama ao, até então desconhecido, MC G15. Segundo o próprio artista, a canção foi inspirada em sua namorada e no filme de terror Invocação do Mal (a inspiração pode vir de onde menos se espera, não é?). A canção foi a música mais executada no Réveillon de 2016, nas plataformas Spotify, Apple Music e Deezer, além de ter sido a mais vendida no iTunes no País neste período. Em 3 de janeiro de 2017, tornou-se a canção mais executada na playlist mundial do Spotify. Mas vamos combinar que, apesar de ser uma declaração de amor pouco ortodoxa, onde partes pudendas possuem sentimentos, não é uma música para se executar na frente de crianças. Existe, inclusive, uma versão mais ‘light’, trocando os palavrões por outras coisas. 

‘Ó o Gás!’ – É um remix inusitado que une elementos da música eletrônica, do funk e da famosa chamada de ‘carros de som’, responsáveis por vender distribuir botijões de gás de cozinha. Ele viralizou na internet pelo aspecto irreverente e acabou tornando-se meme. O áudio do funk, criado por Alessandro Santos e divulgado pelo seu amigo Renan Vinícius, foi sobreposto em diversos contextos diferentes como festas, shows e raves, e ganhou até versões feitas por famosos personagens. O vídeo original foi feito por amigos de Cubatão, em São Paulo, e já acumula mais de 3,2 milhões de visualizações, 36 mil likes e quase 30 mil compartilhamentos no Facebook. Ganhou ainda mais força depois que os funcionários de uma companhia de gás apareceram dançando a música na internet. 

Loka (Simone e Simaria com participação de Anitta) – A dupla baiana e a funkeira uniram seus empoderamentos e elevaram a expressão ‘miga, sua louca’ a outro patamar. As nossas Kardashians, como muita gente chama Simone e Simaria e Anitta, cantam sobre esquecer os caras safados e sair para curtir a vida. Certíssimas elas. O clipe é uma superprodução com direito a um ferro-velho em chamas e modelitos bem ousados. Loka mistura os ritmos sertanejo e funk com uma batida bem dançante e fala sobre uma noite de superação de mulheres que tiveram o coração partido. “E bota uma moda boa, vamos curtir a noite de patroa. Azarar ‘os boy’, beijar na boca. Aproveitar a noite e ficar louca”, diz o refrão.

‘Todo Dia’ (Pablo Vittar e Rico Dalasan) – Uma das maiores referências pop LGBT no Brasil, a drag queen Pablo Vittar aposta nesse hit para transcender o nicho e chegar às grandes massas. Falando sobre serem donos de seus corpos, Pablo e Dalasan (primeiro rapper assumidamente gay do Brasil) dão um tapa na cara de quem acha que pode reprimir os desejos de quem quer que seja. Recentemente, Pablo lançou seu primeiro trabalho autoral, depois de tocar de norte a sul, diversas versões abrasileiradas de músicas mundialmente conhecidas no mercado pop. Vai Passar Mal já é hit no Spotify e queridinho dentro e fora da cena LGBT.

‘Louca’ (Alice Caymmi) – Não confundir com Loka, citada acima. Aqui, a neta de Dorival e queridinha da nova safra da MPB mostra que fazer dançar também é com ela. O single foi lançado há uma semana, nas plataformas digitais, e é uma versão em português – lançada como brega pela pernambucana Banda Kitara – de Loca, sucesso da cantora, compositora e atriz mexicana Thalía. A pegada da música e versos como “porque a história de nós dois são suficientes para o meu delírio”, assim com erro de concordância e tudo faz da música um dos hits mais deliciosos deste Carnaval.

‘Eu Tô Com Ismo’ (Maykow & Bruno com participação de Marília Mendonça) – Vale tudo no esquema que move no Brasil a máquina da música sertaneja. Vale até uma cantora e compositora associada à sofrência gravar participação em música candidata a hit do Carnaval de 2017 para se manter em evidência na pré-temporada da folia. A goiana Marília fez uma participação especial na nova versão de Eu Tô Com Ismo, single da dupla Maykow e Bruno, que já é conhecido por aí na internet.

‘Melô da Batedeira’ (É o Tchan) – Compadre Washington e Beto Jamaica nunca se recuperaram do sucesso que o grupo fazia no fim dos anos 1990, quando, acompanhados de Carla Perez, das Sheilas e de Jacaré, eram onipresentes nos rádios e na TV. Mas todo ano eles tentam emplacar um hit de Carnaval em Salvador, a cidade sagrada do axé. Em 2017, eles apostam em uma dancinha (mais uma) inspirada em objetos inanimados. “Eu vou mostrar para vocês uma nova swingueira. Vocês ficam de frente e fazem a batedeira”. Lembrou da Brincadeira da Tomada?

Doce (Ivete Sangalo) – Ivetão é dona do Brasil e, quando se fala em Carnaval, ela não pode ficar de fora, não é mesmo? Neste ano, a cantora puxará dois blocos na capital baiana: o Coruja, na segunda-feira, no Circuto Barra/Ondina, e no Cerveja e & Cia, no sábado, no mesmo local. Para a festa na Bahia, Ivete aposta na música O Doce como música de trabalho. E, para ela, tem tudo para ser bastante tocada. 

‘O Magnata Faz Oeêh’ (La Furia) – Até o bordão Ma ôeee, de Silvio Santos, virou refrão na música O Magnata Faz Oê, da banda La Furia. A música tem uma letra bastante repetitiva e pede para o público cantar “oêee” toda vez que uma frase for cantada. “Nos EUA, até Obama faz… oê”, canta o vocalista do grupo, Bruno Magnata. Não é nenhum ‘lepo lepo’, nenhum ‘trá trá trá trá’, mas é o que tem para hoje.