Música, dança e atuação

‘Ópera do Malandro’, de Chico Buarque, integra formatura de estudantes do Basileu França nesta noite

Postado em: 12-12-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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‘Ópera do Malandro’, de Chico Buarque, integra formatura de estudantes do Basileu França nesta noite

GUSTAVO MOTTA*

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A tradicional Ópera do Malandro, de Chico Buarque, compõe a programação desta terça-feira (12), às 20h, no Teatro Basileu França, em Goiânia. A apresentação ocorre durante a cerimônia de formatura de alunos do curso Técnico em Música do Basileu França, mas também conta com a participação de artistas que foram selecionados, no começo do ano, com apoio da professora Sarah Moraes.

Pela primeira vez, o instituto realiza uma apresentação na qual o elenco canta, dança e atua ao mesmo tempo. “Foi um grande desafio essa integração de atividades”, aponta a diretora-geral do espetáculo, Nataly Brum. Os arranjos musicais foram organizados por Marcos Rossetti, que é o regente da orquestra, enquanto que a preparação vocal dos artistas ficou por conta de Marco Antônio Izzo, com direção cênica de Lorenzo Silva. 

“Estamos projetando essa apresentação com muito amor, carinho e dedicação”, afirma Nataly Brum. A professora do Basileu destaca que, pela primeira vez, o coletivo de artistas deve apresentar uma produção nacional. “Estamos em busca de uma identidade que seja nossa”, ressalta a organizadora. “A criação de Chico Buarque foi escolhida justamente por representar muito da nossa realidade”, destaca.

Reflexão

As canções do repertório que compõem a Ópera do Malandro incluem sucessos como Geni e o Zepelim, Pedaço de Mim e Folhetim. Entre os temas explorados na obra, estão as desigualdades econômicas, a exploração humana e a marginalização social vivida durante o Regime Militar (1964-1985), mas tendo como pano de fundo o cenário da década de 1940, escolhido pelo autor para escapar da censura. 

Uma das personagens de maior destaque na peça é a travesti Geni, vítima do preconceito e da violência. “Ainda hoje, a transfobia é muito presente, assim como a exploração sexual da mulher, a cultura do estupro e o feminicídio”, destaca Brum. O Brasil é o País que mais mata transexuais no mundo, onde a expectativa de vida média dessa população chega aos 35 anos. “São temas que a peça traz consigo e que são visíveis ainda nos dias de hoje”, aponta.

“O objetivo do teatro político é fazer com que, por meio da arte, as pessoas possam desenvolver o pensamento crítico”, afirma a professora. Em 1979, Chico Buarque lançou a trilha sonora da peça com inspiração na Ópera dos Três Vinténs, de coautoria do alemão Bertolt Brecht, considerado uma referência no teatro crítico. O europeu acreditava que, ao invés de transportar o espectador a outros mundos, a peça teatral deveria despertá-lo a refletir a sua realidade.

Engajamento

“Os alunos estão muito engajados no espetáculo”, comemora Nataly Brum. A diretora da peça afirma que os membros do elenco foram proativos com o projeto desde o início do ano. “Eles são os donos do processo de criação, e nós professores apenas fornecemos as ferramentas necessárias”, afirma.

“Aconteceram muitos ensaios, inclusive aos sábados e domingos, e por isso temíamos que os estudantes ficassem tensos e estressados”, avalia. O preparador vocal da apresentação, Marco Antônio Izzo, chegou a realizar sessões de massagem para tranquilizar os membros do elenco. “Fizemos isso para evitar que o estresse e a pressão esgotassem fisicamente a equipe na véspera da apresentação”, conta Nataly Brum.

“A equação completa de música, dança e atuação é um desafio enorme exigido pela ópera”, conta o preparador musical Marcos Rossetti. O professor, que também é o maestro da apresentação, elogia a sinergia que tem existido entre a orquestra e o corpo de atores. “A orquestra está sendo estimulada a compor a cena, assim como os atores estão sendo convidados a integrar a trilha sonora da peça”, destaca.

Palco

Nataly Brum conta que a Ópera do Malandro foi trabalhada pela equipe, ao longo do ano, com a aprovação da diretoria do Basileu França. “Apresentamos a proposta, que foi aprovada dentro da escola”, afirma. Para Marcos Rossetti, esse é um projeto educacional, trabalhado dentro das limitações e possibilidades da instituição.

“Queríamos mesmo que o espetáculo tivesse uma temporada inteira, mas já conseguimos essa data especial”, conta. O maestro entende que a apresentação final é apenas uma parte de todo o processo criativo. “É o momento em que apresentamos nosso trabalho ao público, mas isso é apenas a ponta de todo o percurso”, destaca.

“As nossas ações são mobilizadas para mostrar ao público o resultado do trabalho”, afirma. O professor avalia que é ao longo de todo o processo, com os erros, conflitos, e acertos, que se constrói o trabalho final. Um dos destaques acertados, ao longo da esteira criativa, foi a junção de sonoridades eruditas com a música popular e a adesão do minimalismo aos arranjos.

Erudito e popular

“A abordagem erudita é acadêmica, e tem acompanhado toda a cultura ocidental”, destaca o maestro. Em contraponto o professor afirma que o ‘popular’ se enraíza na indústria do entretenimento. “Estamos trabalhando a linguagem sofisticada e tensa do erudito com o repertório popular do Chico Buarque”, ressalta.

O maestro afirma que a peça deseja romper limites entre as músicas eruditas e populares, numa abordagem minimalista, com arranjo e concepção musical formados coletivamente. “Na verdade, essa concepção de que os estilos pertencem a universos diferentes, é falsa”, avalia Marcos Rossetti.

Quanto ao minimalismo, o estilo compõe uma tendência comum ao fim do século 20, que tem como características a repetição de pequenos trechos, simplicidade nas harmonias e estruturas compactas nas peças. “A adoção do minimalismo satiriza a situação de desespero e falta de saída dos personagens diante das situações de pobreza, exploração e marginalidade”, destaca.

Apresentação

O espetáculo é uma realização do Coletivo Basileu França formado por professores e alunos da instituição. A peça conta com um elenco de estudantes e atores selecionados composto por Guto Rocha, Jôicy Salgado, Vere Lima, Alex Nascimento, Marcos Leibniz, Janaína Perillo, Kelves Vinícius, Lindalva Oliveira, Ricardo Machado, Lizz Miranda, HérikaBiases e Helder Naasson.

“O nosso teatro tem a capacidade para cerca de 800 pessoas, e, até ontem, já tínhamos vendido metade dos ingressos”, comemora a diretora do espetáculo, Nataly Brum. A professora espera que a apresentação seja prestigiada por amigos e familiares dos estudantes que estão se formando, mas também espera a presença da comunidade. 

SERVIÇO

Apresentação da ‘Ópera do Malandro’

Quando: terça-feira (12) 

Onde: Teatro Basileu França (Av. Universitária, nº 1.750, Setor Universitário – Goiânia)

Horário: 20h

Entrada: R$ 20 (na bilheteria local) 

Basileu França realiza exposição de artes visuais 

Estudantes de Artes Visuais Infanto-Juvenil do Instituto Tecnológico de Goiás – Artes Basileu França vão disponibilizar ao público obras bidimensionais e tridimensionais em uma intervenção artística no espaço da galeria de arte da instituição. A exposição Retalhos começa amanhã (13) e vai até o próximo dia 22 de dezembro.

A iniciativa é supervisionada pela coordenadora de Artes Visuais do Basileu França, Fernanda Porto, e organizada pelas professoras Edna de Sá, Sandra Santana, Deliane Godim e Regina Lopes, com projetos elaborados por três turmas com alunos de idades entre 9 e 13 anos. “A intervenção trabalha a autoestima das crianças e a autonomia enquanto artistas”, destaca Edna.

“É muito importante para os alunos essa oportunidade de expressarem sua capacidade criativa e ter contato com a opinião do público durante a visita na galeria”, afirma Regina. O projeto expõe obras que se encaixam em vanguardas como o cubismo e o surrealismo – além da pop-art.

Educação artística

“Queremos levar a mensagem do que a arte contemporânea é capaz de transmitir às pessoas”, afirma Edna. Entre os temas abordados, a professora destaca a arte sustentável e ambientalmente responsável: “Estamos empregando materiais que são reaproveitados, como garrafas de vidro e jornais velhos”.

Trabalhos que utilizam técnicas como desenho e artesanato serão expostas, utilizando elementos como pratos de cerâmica, pó de mármore e madeira. “A brincadeira com tantos objetos explora o lado lúdico das peças e também mostra como é possível reaproveitar como arte os materiais do nosso dia adia”, ressalta Edna de Sá.

“Acreditamos que os alunos, apesar de estarem em um processo de formação e aprendizagem, já são artistas”, aponta. A coordenadora de Artes Visuais do Instituto Basileu França Fernanda Porto avalia que a exposição visa propiciar a troca de experiências entre os alunos-artistas e o público, mostrando peças tecnicamente apuradas e expressivas.

*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE sob orientação 

da editora Flávia Popov 

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