Dois solos para o amanhecer da consciência

Apresentações sobre autoconhecimento ocupam palco no Zabriskie até sábado (20)

Postado em: 19-01-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Apresentações sobre autoconhecimento ocupam palco no Zabriskie até sábado (20)

GUSTAVO MOTTA*

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Investigações sobre a existência humana resultaram na criação de uma trilogia de espetáculos, obra da atriz Sandra Santiago. O Circuito Despertar para o Amanhecer da Consciência será realizado no Teatro Zabriskie, com apresentação de dois trabalhos solos da artista – o terceiro ainda está em processo criativo e a idealizadora acredita que será apresentado a partir de setembro. O projeto conta com apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura da Prefeitura de Goiânia. A exibição das peças ocorre nesta sexta-feira (19) e amanhã (20), às 20h, com entrada gratuita e contribuição voluntária com o trabalho da solista.

O circuito vai ser apresentado com a exibição de dois espetáculos (Crônicas de um Cativeiro e Sobre Sonhos e Passagens…). Sandra reforça que os solos já tinham sido exibidos anteriormente de forma separada, mas os apreciadores do trabalho dela e visitantes vão ter a oportunidade de acompanhar as duas peças – que são interligadas. O primeiro ato foi montado em 2012, sendo apresentado pela primeira vez no ano seguinte. “O segundo trabalho veio em 2015”, lembra. Uma terceira parte, intitulada Cosmonauta tem previsão de lançamento para setembro deste ano.

“Despertar”

A trilogia é produto de investigações da atriz sobre o que é a vida, e a respeito do autoconhecimento. Em Crônicas de um Cativeiro a personagem utiliza a linguagem oral como um monólogo, mas que se conecta com a plateia ao despertar no público o interesse de partir em uma viagem pelo auto entendimento. “Eu mesma fiz essa viagem porque passava por uma situação difícil de saúde mental naquele momento”, rememora a artista. Por meio da peça é demonstrado o encarceramento provocado por questões ilusórias. “O processo de reflexão instala confrontos e termina por dar novos significados aos caminhos de vida, na busca pela leveza e por uma existência mais saudável”, afirma.

O segundo ato da trilogia Despertar busca uma aprofundamento na investigação do corpo como um instrumento sagrado. “Aqui eu optei, após passar muitas meditações, por trabalhar as energias em contraposição ao material”, conta. Em contraste aos monólogos da primeira parte, Sobre Sonhos e Passagens… apresenta poucas falas e muita linguagem corporal. “Em cerca de 40 minutos, existem apenas três falas em todo o espetáculo”, pontua. Alexandre Augusto assina a direção do circuito e conta que Sandra chegou até ele com imagens, questionamentos e proposições sonoras, mas sem um texto definido: “Fizemos muitas improvisações, porque tudo é muito sensorial e corporal nesse espetáculo – então buscamos criara algo mais visual”.

Alexandre conta que acolheu a artista em um processo de residência no Teatro Zabriskie: “Ela veio até nós com uma proposta, que foi ouvida e pensada juntamente comigo”. O diretor destaca que o processo criativo começa com a atriz, que apresenta as suas propostas de imagens, sons e textos. “A partir do que ela tem para dizer às outras pessoas, realizamos exercícios inerentes ao teatro, como improvisação e movimentos corporais”, ressalta. O diretor afirma que após essa etapa, as ideias criadas são combinadas em uma sequência que faça sentido à artista. “Depois buscamos as possibilidades estéticas para transformar a ação em imagem e arte”, conclui.

Zabriskie

Alexandre conta que as apresentações devem acontecer na área interna do Zabriskie, com capacidade para 70 pessoas. “A casa tem um público fiel que comparece para assistir às peças, e eu também, pelas minhas temáticas específicas, tenho um número de pessoas que acompanham o meu trabalho”, destaca a atriz. O diretor reforça que toda atividade artística é pensada para atender à sociedade: “Fazemos tudo pensando em quem vai comparecer e prestigiar os nossos esforços”. Alexandre integra o coletivo de artistas da casa há 20 anos e destaca a relevância do espaço na formação de plateia para o teatro.

“É necessário que o ambiente continue funcionando para receber cada vez mais pessoas”, avalia. O membro do coletivo conta que o espaço faz parte do mapa de cultura do Estado e que isso cria segurança para eventos serem abrigados pelo local: “É necessário saber que estamos em pleno funcionamento para que as pessoas venham até nós”. O diretor do circuito ressalta a existência de uma rede de comunicação e afeto entre os artistas, o que alimenta a programação da casa constantemente. “Não existe burocracia para um projeto ser acolhido por nós – as pessoas nos procuram e apresentam as suas ideias”.

A diretora do Zabriskie, Ana Cristina Evangelista, destaca a importância da identificação artística e afetiva com os projetos que são aceitos. “O Alexandre recebeu a residência da Sandra conosco para apresentar os trabalhos dela, mas também para pensar montagem, concepção artística, pesquisas e todo o processo criativo”. A casa também promove atividades de formação teatral por meio de oficinas e cursos, com 25 anos de trajetória desde a sua fundação, e funciona onde antes havia uma horta mantida por Ana Cristina. “Em 1993, tínhamos um grupo de artistas que, unidos pelo afeto, decidiram criar o Zabriskie”, rememora.

“Eu fui uma fundadora desse espaço, que antes funcionava como um café-teatro”, relembra. Ana Cristina acreditava que as pessoas seriam convencidas a frequentar um local artístico caso tivessem acesso a comidas e bebidas, mas após três anos de funcionamento, o Zabriskie passou a funcionar exclusivamente como teatro para maximizar as atividades em arte. A fundadora do espaço conta que a casa sempre funcionou com auxílio financeiro dos próprios artistas, e que apenas recentemente conseguiu modernizar o ambiente com melhores equipamentos de som e luz após a aprovação de verbas pelo Fundo de Arte e Cultura de Goiás.

Chapéu da artista

Sandra afirma que sempre realizou atividades gratuitas. “Essa estratégia serve para facilitar o acesso das pessoas ao meu trabalho”. A atriz acredita que contribui para que as pessoas não fiquem impedidas de ver as peças, e ressalta a importância do acesso público à linguagens e expressões que estejam além do que chega até as casas: “É muito enriquecedor o contato com o que está fora da televisão e internet, porque isso expande a nossa percepção sobre a vida e o cotidiano”. A artista pontua que mesmo sem a obrigação de contribuição em dinheiro, sempre recebeu quantias espontâneas e generosas.“Cada um dá aquilo que pode quando percebe que a peça toca o coração”, comemora.

Além dos trabalhos com a trilogia Despertar, Sandra realiza outras atividades no meio artístico. “Eu atuo de forma solo, mas também componho a ‘Família Santiago Santos’ que realiza teatro de rua e palhaçaria – com malabarismos e acrobacias”. Sandra também foi recém-selecionada para apresentar a poesia autoral Jogo da Verdade na 6ª edição do Festival Juriti, pela categoria ‘poesia encenada’. O evento é um dos mais importantes do gênero em Goiânia, tendo começado em 1993 no setor Crimeia Leste. A respeito do trabalho com a trilogia Despertar e apresentações nas noite dessa sexta (19) e sábado (20), Sandra e Alexandre realizaram um bate-papo com o Essência.

SERVIÇO

‘Circuito Despertar para o Amanhecer da Consciência’

Quando: sexta (19) e sábado (20)

Onde: Teatro Zabriskie (Avenida Antônil Martins Borges, nº 121, Setor Pedro Ludovico – Goiânia)

Horário: 20h

Entrada gratuita 

*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE sob orientação da editora Flávia Popov 

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