Com Bolsonaro enfraquecido, Caiado, Zema e Tarcísio podem representar direita em 2026

Cientista político vê favoritismo no governador de São Paulo, mas reconhece o reconhecimento nacional do goiano

Postado em: 16-01-2023 às 08h00
Por: Felipe Cardoso
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Cientista político vê favoritismo no governador de São Paulo, mas reconhece o reconhecimento nacional do goiano. | Foto: Sérgio Lima/ Poder 360

As avaliações majoritárias pós 8 de janeiro são de que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sai enfraquecido dos eventos de vandalismo da sede dos três Poderes, em Brasília. Nesse sentido, a direita, aparentemente, fica sem um líder. Desta forma, o campo é fértil para uma nova liderança, que pode estar entre governadores de: Minas Gerais, São Paulo e até Goiás.

Romeu Zema (Novo), Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Ronaldo Caiado (União Brasil) são possíveis nomes de uma nova direita, menos radical, e mais palatável aos eleitores que querem se afastar da barbárie do último dia 8. O próprio Bolsonaro ainda poderia se reinventar para disputar o páreo. Mas, neste momento, ainda existe a possibilidade do antigo inquilino do Planalto se tornar inelegível por causa de algum processo. 

Cientista político, o professor Marcos Marinho avalia como “interessante” o trabalho que a direita terá pela frente. Ele acredita que o antipetismo seguirá, assim como o bolsonarismo. Este segundo, contudo, sem Bolsonaro, que se tornou uma figura tóxica. “Ele ficar inelegível seria um favor aos direitistas mais moderados”, argumenta.

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Nomes

Talvez, o principal problema de Zema seja o partido. O Novo é pequeno demais para o gestor que ainda não é tao conhecido no País. Tarcísio já leva ampla vantagem, nesse sentido. Foi ministro de destaque no governo Bolsonaro, não se envolveu em problemas que manchassem sua imagem, além de ter sido eleito governador do maior Estado do País, superando Fernando Haddad (PT), candidato de Lula (PT). 

De acordo com Marinho, inclusive, quem mais tem potencial entre os três é Tarcísio. “Por estar à frente de São Paulo. Se conseguir fazer uma boa gestão sai na frente.” De acordo com ele, o ex-ministro tem identificação com o espectro e meios de crescer. “Pode expandir o capital político que, neste momento, não é tão alargado.”

Para ele, Zema, pelo próprio perfil, não teria tanta projeção nacional, apesar de Minas ser o segundo maior colégio eleitoral do País. “Ele não é aglutinador de grandes massas.” Já Caiado, ele reconhece ser uma figura reconhecida nacionalmente.

Na visão do professor e cientista político, Marcos Marinho, o governador fez uma boa gestão no primeiro mandato e pode fazer uma no segundo, além de expandir suas relacionais nacionais neste. “Mas é Goiás é um Estado periférico, pequeno, com poucos eleitores. Então, cada um terá seu desafio. Além disso, pode surgir outros players.”

Vale citar, o governador de Goiás é o maior nome do União Brasil, atualmente. ACM não levou o governo da Bahia, o que destacou a vitória em primeiro turno de Goiás. 

Um pouco de Caiado

Caiado participou da primeira eleição direta para presidente do Brasil, em 1989. Foi deputado, senador, governador. Durante a pandemia da Covid-19, o médico ganhou destaque com a postura firme e foi opositor a Bolsonaro, que se portava de forma negacionista.

Atualmente, tem 73 anos e sempre foi oposição aos governos do PT, enquanto ocupava o Congresso. Na chefia do Executivo as coisas são diferentes. A busca é por parceria e por um relacionamento republicano. 

Ele, contudo, mantém a distância do gestor federal. Quem cria as pontes com o governo federal é o vice-governador, Daniel Vilela (MDB), que deverá sucedê-lo em 2026. 

Nos bastidores, a informação é que o distanciamento mantém a coerência de Caiado: quer o bom relacionamento com o governo Lula, mas está pronto para representar a direita em 2026, em eventual disputa presidencial. 

Claro, é cedo para dizer. O retorno ao Senado segue como opção – talvez a principal. O gestor, todavia, busca o equilíbrio fiscal para mostrar um Estado pujante, de vitrine, para ganhar mais destaque nacionalmente. Prova disso é o polêmico projeto de taxação do agronegócio. 

Derretimento 

Aliados de Bolsonaro já temiam o derretimento do capital político do ex-presidente antes do 8 de janeiro. Isto, porque ele se tornou recluso após a vitória de Lula, em 30 de outubro, inclusive das redes sociais. O silêncio destoou da expressiva votação (a diferença entre ele e o petista foi de menos de 2%). 

Inclusive, as poucas aparições e falas davam mensagens truncadas a apoiadores, especialmente aos que estavam acampados nos quartéis. Estes faziam questão de interpretar mensagens não ditas como subliminares. Além disso, antes do dia da posse, em 1º de janeiro, ele deixou o País rumo aos Estados Unidos para não passar a faixa presidencial. Em diversos setores a manobra foi vista como “fuga”.

E os atos do domingo, 8 de janeiro, realizados por bolsonaristas radicais colaram ainda mais na imagem dele. O ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, foi exonerado da secretaria de Segurança do DF e preso ao chegar no Brasil – ele também estava nos EUA. Na casa dele, uma minuta golpista para reverter o resultado das eleições. 

Nada disso quer dizer que Bolsonaro será responsabilidade ou que tenha, de fato, algum envolvimento. Contudo, toda a situação respinga no ex-presidente. E, como dito, com Jair em baixa, outros players da direita tem a chance de ascender. 

Marinho sobre Bolsonaro

A fuga de Bolsonaro, conforme Marinho, deixou uma mácula no coração de vários bolsonaristas. “Já ouvi de figuras próximas do meio político que ele foi chamado de covarde [por figuras do alto escalão bolonarista].” Segundo ele, por causa da verve militar, a saída do País foi vista como recuo, abandono.  

“Além disso, o comportamento derrotista dele frustrou, mesmo os conservadores. Após o 8 de janeiro é possível ver que ele não tem sustentação política. Quem dava suporte, vai afastar. Só sobrarão os radicais, que serão presos um a um. O bolsonarismo vai continuar, mas sem o Bolsonaro.”

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