Goiânia como elo para decisão de Lula em demitir comandante do Exército

Comandante foi substituído pelo general Tomás Miguel Ribeiro Paiva

Postado em: 23-01-2023 às 08h00
Por: Felipe Cardoso
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Comandante foi substituído pelo general Tomás Miguel Ribeiro Paiva. | Foto: Antonio Cruz / ABR

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), decidiu, no último sábado (21/1), demitir o comandante do Exército, nomeado pelo próprio presidente na virada do ano, general Júlio César Arruda. 

Arruda foi substituído pelo general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, ou apenas general Paiva, como é conhecido. A decisão foi oficializada em publicação no Diário Oficial da União e anunciada pelo ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, que se reuniu com o presidente na tarde de sábado.

Desde o anúncio tem sido especulado os motivos que levaram Lula a afastar o general que se manteve pouco tempo no cargo. O jornalista Igor Gadelha, do Metrópoles, no entanto, ajudou a esclarecer esse cenário, demonstrando que Goiânia pode figurar como um importante elemento na decisão presidencial. 

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Isso porque Arruda foi o responsável por designar o tenente-coronel Mauro Cid para o comando do 1º Batalhão de Ações e Comando de Goiânia. Cid, no entanto, é suspeito de ter operado uma espécie de caixa 2 no governo Bolsonaro. Ele era uma figura próxima ao ex-presidente, uma espécie de ajudante de ordens.

As denúncias apontam Cid como responsável pelo pagamento, dentre outras coisas, de despesas pessoais do ex-presidente, sua esposa, Michelle Bolsonaro, membros da família e até de amigos próximos. 

Como se não bastasse, a coluna ainda mostrou que Lula, assim que as suspeitas vieram à tona, mandou exonerar Cid do cargo que ocupava em Goiânia, o que o general Júlio Cesar Arruda se recusou a fazer e, com isso, terminou demitido. A situação foi “a gota-dágua” segundo o portal de notícias da UOL.

O batalhão em questão, vale lembrar, é especializado em anulação de ameaças urbanas e detém forte armamento. A leitura é que aos olhos do governo federal, ter no comando alguém com tamanho alinhamento ao ex-presidente representa uma ameaça e inviabiliza a permanência. O grupamento militar comandado por Cid na Capital está localizado no Jardim Guanabara. 

O que diz o ex-presidente

Ao Metrópoles, Bolsonaro disse que “nunca foram feitos saques do cartão corporativo pessoal” e enviou dez páginas de extratos do cartão corporativo em nome de Cid, onde não aparecem movimentações.

Bolsonaro ainda acrescentou que todas as despesas administradas por ajudantes de ordem somavam aproximadamente R$ 12 mil por mês e que os pagamentos eram feitos com dinheiro oriundos “exclusivamente” de sua conta pessoal.

Sobre Michelle utilizar o cartão de crédito de uma amiga, Bolsonaro afirmou que ela fazia isso pois não tinha limite disponível. “A primeira-dama utilizou o cartão adicional de uma amiga de longa data. A utilização se deu porque a Michelle não possuía limites de créditos disponíveis. A última utilização foi em julho de 2021, cuja fatura resultou em quatrocentos e oito reais e três centavos”, pontuou. 

Novo comando 

Após a exoneração de Arruda, o então comandante militar do Sudoeste, Tomás Miguel Ribeiro Paiva, foi quem assumiu a direção do Exército. Em seu primeiro posicionamento, Paiva disse que continuará trabalhando para garantir a democracia. 

E completou: “democracia pressupõe liberdade e garantias individuais e públicas. E é o regime do povo, de alternância de poder. É o voto. E, quando a gente vota, tem de respeitar o resultado da urna”. 

Pela primeira vez, o mais alto comando do Exército falou sobre os atentados de 8 de janeiro registrados em Brasília e que culminaram na invasão e depredação do Palácio do Planalto, Supremo Tribunal Federal e Congresso. Ele tratou a situação como um “terremoto”. 

Esse terremoto, segundo ele, é movido pelo ambiente virtual, que não tem freio. “Todo nós somos hoje hiperinfomados. Para excesso de informação só tem um remédio: mais informação. É se informar com qualidade e buscar fontes fidedignas”, avaliou.

O militar considerou, ainda, que a intolerância tem nos atacado. “Esse terremoto não está matando gente, mas está tentando matar a nossa coesão, a nossa hierarquia e a nossa disciplina, o nosso profissionalismo e o orgulho que a gente tem de vestir essa farda. E não vai conseguir”.

Depois, acrescentou: “em que pese o turbilhão, o terremoto, o tsunami, nós vamos continuar íntegros, coesos e respeitosos e vamos continuar garantindo a nossa democracia, porque a democracia pressupõe liberdade e garantias individuais e públicas”, ressaltou.

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