Oscar: Entre o sonho e a realidade

‘Moonlight’ ou ‘La La Land’? A escolha da Academia para o Oscar de Melhor Filme deve ser política. Veja os palpites do ‘Essência’ para a premiação deste domingo

Postado em: 25-02-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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‘Moonlight’ ou ‘La La Land’? A escolha da Academia para o Oscar de Melhor Filme deve ser política. Veja os palpites do ‘Essência’ para a premiação deste domingo

Júnior Bueno

Em dias de Trump, escolher entre a fantasia escapista do musical La La Land – Cantando Estações ou o realismo cru e pungente visto em Moonlight – Sob a Luz do Luar é a missão Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood na 89ª edição do Oscar, que acontece neste domingo (26) e será transmitido no Brasil pelo canal TNT a partir das 20h30. O Essência faz, mais uma vez, suas previsões sobre a premiação falando sobre quem deve e quem deveria ser o vencedor nas principais categorias.

La La Land, fábula musical de Demien Chazelle, é o franco favorito e teve nada menos que 14 indicações, igualando o recorde de Titanic (1997) e A Malvada (1950). Deve ganhar como Melhor Filme, e será uma escolha justa, mas, para esse momento e também por ser um filme superior, Moonlight deveria ganhar. Escolher este filme como o Melhor do Ano significa estar do lado certo da história. Em uma escala de diversidade, os níveis são estratosféricos. Com oito indicações, o longa de Barry Jenkins conta a história de um jovem homossexual afro-americano que precisa lidar com diversas passagens da vida nas violentas ruas de Miami.

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Para o prêmio de Melhor Atriz, Emma Stone deve levar, já que seu nome é, de longe, o mais comentado do momento, e ela tem o perfil de ganhadora de Oscar: é jovem, americana e tem futuro na indústria. E não faz feio como Mia, aspirante a estrela em La La Land. Mas quem deveria levar é a francesa Isabelle Huppert, de Elle, em uma das atuações mais incríveis deste ano. Mas Hollywood não premia atrizes estrangeiras, que o digam Fernanda Montenegro e Emmanuelle Riva. Como Melhor Ator, Casey Affleck é o mais cotado, mas Denzel Washington corre por fora pelo brilhante trabalho em Um Limite Entre Nós, e é quem deveria ganhar.

O vencedor da categoria Melhor Ator Coadjuvante deve ser Mahersala Ali, que interpreta um traficante com um lado sentimental secreto em Moonlight. É, sem dúvida, a melhor escolha para o prêmio. Depois do buzz do #OscarSoWhite, é bem possível que a Academia opte por premiar uma atriz negra também, categoria que tem três afrodescendentes entre as cinco indicadas. Viola Davis, em Um Limite Entre Nós, é a franca favorita e uma das melhores atuações de uma das atrizes mais soberbas da atualidade e que já deveria ter pelo menos uma estatueta em casa há anos. 

Embora a Academia tenha perdoado Mel Gibson, indicado por Até o Último Homem, que havia sido colocado na geladeira após comentários anti-semitas, quem vai levar o prêmio será Chazelle. Ele representa a mente criativa por trás do toque fantasioso e retrô de La La Land. Mas será uma pena não ver premiada a sensibilidade de Barry Jenkins, que tirou de seu coração tudo que se vê em Moonlight. 

Na categoria Melhor Roteiro Original, La La Land leva, mas é a única das 14 categorias em que concorre que o filme se mostra um tanto quanto vulnerável. Manchester à Beira Mar e A Qualquer Custo possuem roteiros mais interessantes, mas devem sucumbir à força da campanha de La La Land. Em Melhor Roteiro Adaptado, Berry Jenkins deve ganhar por Moonlight, uma transposição para a tela do livro In Moonlight Black Boys Look Blue (ainda sem tradução para o português). É um dos poucos prêmios que Moonlight deve ganhar. 

Melhor Filme Estrangeiro tem dois pesos pesados com iguais chances de vencer. Toni Erdmann, um filme extenso sobre uma filha que tem que lidar com a bizarrice do pai, é alemão. O Apartamento é um drama do iraniano Asghar Farhadi, que optou não comparecer à cerimônia do Oscar como forma de protesto ao decreto, feito por Donald Trump, que fecha as fronteiras norte-americanas a refugiados políticos de países de maioria muçulmana. Escolher entre esses dois é também se posicionar em relação ao tema, tão em voga neste ano nos Estados Unidos.

Como Melhor Animação, Zootopia deve levar, e é bem justo, porque o desenho da Disney traz diversas críticas políticas e sociais nas entrelinhas. O único senão é Kubo e A Espada Mágica, stop-motion que traz para as telonas – como nunca antes fora feito – contos da mitologia japonesa, representados de maneira vívida e visualmente impressionante. Melhor Documentário tem como favoritos do público dois longas que abordam o racismo nos Estados Unidos. Eu Não Sou Seu Negro e A 13ª Emenda podem ganhar e se mostram escolhas interessantes em um ano marcado por indicações de profissionais negros para apagar o vexame da ausência de negros nos dois anos anteriores na premiação.

O prêmio de Melhor Canção Original é, sem dúvida, de City of Stars, de La La Land, e canção mais ‘chiclete’ da temporada. A Melhor Fotografia deve ir para La La Land também, embora Moonlight se apresente como um filme lindo, tendo menos de um terço da produção do concorrente. Melhor Trilha Sonora? La La Land também, já que o filme não veio para brincadeira e deve levar todos os prêmios técnicos a que foi indicado. Se o musical merece de fato ou se estamos diante de um bom filme de entretenimento sendo superestimado, só o tempo dirá.

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