Dia do Artesão: política pública avança para proteger e tornar o setor mais produtivo

Reconhecido pelo Iphan como patrimônio imaterial, atividade caminha para maior profissionalização com Plano Setorial que estrutura crescimento

Postado em: 19-03-2019 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Reconhecido pelo Iphan como patrimônio imaterial, atividade caminha para maior profissionalização com Plano Setorial que estrutura crescimento

É possível compreender a complexidade da diversidade cultural brasileira por meio de artesanato feito no país: das peças feitas com sementes caídas naturalmente das copas de árvores das florestas do Norte às figuras de barro moldadas pelo povo do Nordeste; das peças de adorno que brotam do capim dourado do Centro-Oeste aos ovos pintados pela colônia de imigrantes ucranianos que habitam o Sul. Isso sem falar nas comoventes bonecas de dona Izabel, do Vale do Jequitinhonha (MG). Nosso País, continental e criativo, move uma cadeia produtiva de 10 milhões de artesãos. São mãos de todas as etnias e miscigenações que movimentam R$ 50 bilhões e clamam por uma política pública que as proteja.

Nesta terça-feira (19), Dia do Artesão, é momento não só de comemorar essa expressiva produção como também refletir sobre o caminho do ofício. Só recentemente, o setor ganhou do poder público e da sociedade civil instrumentos capazes de dar maior velocidade a esse universo de fazeres e saberes, presente em atividade econômica em quase 80% dos municípios brasileiros, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Agora, nosso empenho é para realizar uma cartografia da cadeia produtiva do artesanato brasileiro a fim de compreender o tamanho e a importância dessa atividade de Norte a Sul do país”, prospecta Jorge Edson Garcia, coordenador de Formação Técnica, Gestão e Produção da Secretaria de Economia Criativa da Secretaria Especial da Cultura do Ministério da Cidadania.

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Com assento no Conselho Setorial de Artesanato, Garcia participa do fortalecimento das políticas públicas, que redimensionam o fazer do artesão no Brasil. Ele participou ao lado da sociedade civil da construção do Plano Setorial de Artesanato 2016 – 2025, gestado pela Secretaria Especial da Cultura. Viu também ser sancionada a Lei 13.180/2015, que institui a profissão de artesão no Brasil (legislação que aguarda regulamentação no Congresso Nacional). “São dois importantes marcos regulatórios vitoriosos para essa classe de trabalhadores, em maioria formada por mulheres”, destaca o gestor.

Reconhecimento e profissionalização

Criada há 20 anos, a organização não governamental Artesol é testemunha da transformação no setor produtivo do artesanato. Viu a atividade ganhar atenção do poder público brasileiro a partir dos anos 2000, quando os modos de saber e de fazer foram reconhecidos como patrimônio imaterial por meio da criação do Registro e do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI), do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O órgão, vinculado ao Ministério da Cidadania, juridicamente identifica, reconhece, salvaguarda e promove os saberes e fazeres de artesãos. Outra iniciativa foi a valorização de mestres no Prêmio Culturas Populares, da Secretaria Especial da Cultura, que teve, até o momento, seis edições, homenageando e premiando mestres como a ceramista e bonequeira dona Izabel (1924-2014), do Vale do Jequitinhonha (MG), e Severino Vitalino (1940-2019), do Alto do Moura (PE).

Presidente da instituição que põe o artesanato em rede no País, Josiane Masson recorda-se do momento em que os agentes chegaram às comunidades e testemunharam um contexto de pobreza e de isolamento em contraste com a riqueza de técnicas e conhecimento dos moradores dessas localidades. “Havia um grande potencial para a geração de renda, mas, para isso, era necessário trabalhar a qualificação dos artesãos, adequar a produção para a lógica de mercado, fazer um trabalho focado na comercialização e, principalmente, promover a valorização dos artesãos e do objeto artesanal”. Ela destaca o papel da Secretaria Especial da Cultura como uma das protagonistas dessa virada de mesa.

Assim, o Plano Setorial de Artesanato engloba tanto o artesanato tradicional, passado de geração em geração, quanto o de manufatura mais contemporânea. É resultado de consulta pública de 45 dias que teve mais de 200 contribuições, estabelecendo seis eixos que estruturam crescimento a partir de objetivos e metas para valorização da atividade em desenvolvimento sustentável. “Esse é um documento vivo, cheio de vozes, que precisa ser efetivamente abraçado. Acredito ser esse o momento para abrir esse novo ciclo para o artesanato brasileiro”, aponta Jorge Garcia. (Secretaria Especial da Cultura / Ministério da Cidadania)

 

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