Banda Vingadora desponta com ‘Paredão Metralhadora’

Liderado por Tays Reis, grupo ajuda a levar o gênero arrochadeira para fora da Bahia

Postado em: 03-02-2016 às 00h00
Por: Redação
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Liderado por Tays Reis, grupo ajuda a levar o gênero arrochadeira para fora da Bahia

Se 2016 ainda não tem um Lepo Lepo para chamar de seu, o principal candidato ao disputado posto de hit do verão vem dos paredões de som do interior da Bahia. Foi nessas tradicionais festas que a Ban­da Vingadora, criada há cerca de um ano e liderada pela vocalista Tays Reis, estourou com Paredão Metralhadora e seu “Trá-trá-trá” de refrão. Recheada de referências claras a esses sistemas de som (Paredão zangado/ Grave tá batendo/ Médio tá no talo/ Corneta tá doendo”), a música-chiclete da vez virou um fenômeno na internet. 

Em pouco mais de um mês, seu clipe, uma produção em clima de guerra pós-apocalíptica assinada pela Agência Califórnia, já ultrapassou a marca de 26 milhões de visualizações. Segundo a empresa de aferição Crowley, a canção aparece em rádios de todo o país, com destaque para praças como Fortaleza, Triângulo Mineiro, Vitória e interior do Rio.

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Na semana passada, por exemplo, Tays apresentou a música ao vivo no Mais Você, na Globo, gravou participação no Vídeo Show e fez dueto com Anitta no ensaio de seu bloco, na Lagoa – a carioca, aliás, é, ao lado de nomes como Ivete Sangalo, Wesley Safadão e Claudia Leitte, uma das estrelas que têm ajudado a popularizar o “trá-trá-trá” da Vingadora ao cantar a música em seus shows. O clipe, porém, foi um divisor de águas para o grupo.

“A partir dele, deixamos de ser uma banda de Itabuna para ter repercussão nacional e fazer shows fora da Bahia”, conta Tays, de 21 anos, que chegou a cursar dois semestres de Jornalismo antes de se dedicar integralmente ao grupo, com o qual tem feito cerca de 25 apresentações por mês. “Somos muito gratos ao paredões, pois são eles que empurram o sucesso na nossa região. O Paredão Metralhadora existe mesmo, é um desses sistemas de som. O ‘trá-trá-trá’ é uma referência ao barulho que sai das caixas. E a música fala dessa disputa de sons. Mas acho que o principal é a coreografia, que vende a música. Além de le­var alegria, a dança também vende saúde. E a Bahia gosta disso, de músicas gostosas, dançantes. Mas é claro que não imaginávamos esse sucesso todo. É difícil uma banda tão nova emplacar uma música a nível nacional, com tantos ídolos cantando. Sou muito grata a eles. Se não fossem Ivete e Anitta, ainda estaríamos ralando muito no interior”.

Nos tais paredões que dominam as festas do populoso interior baiano, o gênero mais reproduzido é o arrochadeira, um híbrido de arrocha com pagode baiano, que tem em Neto LX (do hit Gordinho Gostoso) e no grupo Rei da Cacimbinha (Pop 100 e Muriçoca) seus representantes mais notáveis.

“O arrochadeira é um ritmo que surgiu há uns dez anos, mas só se tornou forte recentemente. Ele tem lógica parecida com a do arrocha, de ser uma opção econômica (as bandas se limitam a formações de voz, teclado e bateria eletrônica, o que torna sua circulação muito mais fácil do que se fossem formadas por muitos integrantes). Só que o arrocha é mais lento, mais ligado ao brega e com um pouco de sertanejo. O arrochadeira pega a quadradeira, o balanço, o ritmo do pagode e mistura com o sampler e outros elementos da música eletrônica”, explica o jornalista bai­ano Luciano Matos, apresentador do programa Radioca, da rádio Educadora FM.

Discriminação e preconceito

Em um campo tradicionalmente dominado por homens, surgiram Tays Reis e a Banda Vingadora. O próprio nome do grupo é um grito por mais espaço, como ela explica:

“Falavam muito que mulher não podia fazer arrochadeira. Estamos em pleno século XXI, diversas discussões sobre feminismo rolando, mas ainda temos que lidar com esse tipo de preconceito. Viemos para quebrar essa mentalidade. Somos a primeira banda do gênero com uma vocalista mulher, e estou aqui para isso, para defender os direitos femininos. Tanto é que muitas das nossas músicas falam da mulher batalhadora, poderosa, de sensualidade com “empoderamento” (“Eu sei que sou gostosa/ Fama de atrevida/ Mas não confunda as bolas/ Eu nunca fui bandida”, diz a letra de uma delas).

Tays explica que compôs todas as músicas do álbum de estreia da Vingadora, Vem ne mim (sim, é “Vem ne mim”), em parceria com o empresário da banda. Com 12 faixas, o disco será relançado pela Sony Music, que apostou no sucesso meteórico do grupo. 

“É tudo muito novo para nós”, reconhece Tays. “O nosso primeiro DVD, por exemplo, foi gravado na Brega Light, uma grande festa de São João no interior da Bahia (realizada anualmente na cidade de Ibicuí, em junho). Tocamos para 20 mil pessoas, e foi a primeira vez que nos apresentamos para tanta gente. Eles já sabiam cantar todas as músicas, e isso foi bem antes de o ‘Paredão’ estourar”.

Agora, Tays se prepara para fazer sua estreia no carnaval de Salvador. Apesar de o interesse por trabalhar com música vir da ado­lescência, quando ela se apresentava em bares e festas de Itabuna, a jovem cantora curiosamente nunca pulou carnaval. O motivo?

“Minha mãe é coruja e não deixava (risos). Mas eu sou nova e nunca fui muito de festa. O engraçado é que neste ano eu estava decidida a curtir o carnaval de Salvador, e agora vou estar lá, só que puxando um trio”,  comemora Tays.  A Vingadora irá sair dois dias em trios sem cordas (sexta-feira, no circuito Barra-On­dina, e segunda-feira, no Campo Grande), além de se apresentar em camarotes.

“Depois que comecei a me dedicar inteiramente ao projeto, eu ralei bastante”, diz. “Sentava para escrever músicas, fazia diversas reuniões para ter novas ideias. Um dos desafios era saber como vender nosso peixe, então bati pessoalmente à porta de várias rádios… É muito gratificante ver o resultado agora, com contrato assinado com gravadora, proposta de shows em outros estados, carnaval… Apesar da preocupação, agora minha mãe aprova e está super-realizada”.

De um desses brainstorms entre banda, empresário e produtores, com o álbum Vem ne mim já gravado, alguém percebeu que faltava um elemento nas músicas para diferenciar a Vingadora dos demais grupos de ar­rochadeira. Depois de experimentar diversos instrumentos, veio a ideia de incluir um violinista na banda – composta por Tays, Celsinho Otoniel (guitarra), Deivison Lopes (teclado), Murillo Santos (percussão) e os dan­çarinos Edy Ferrary e Jhon Oliver.

A intenção, segundo a vocalista, era criar uma identidade e unir o frescor do gênero ao elemento clássico do violino. Dan Rodrigues, o escolhido, compôs e gravou para todas as faixas, e virou quase um protagonista do projeto. A novidade agradou tanto ao público que gerou bordões como “Dá solinho para mim” e “Violino do poder”, repetidos por Tays nos shows.

“As pessoas ouvem o violino e já sabem que é a Vingadora. Ou seja, além de inovarmos com uma vocalista mulher, somos também a única banda de arrochadeira com violino (ri­sos). O Dan participa dos shows com a gente e é uma atração a parte”, comemora Tays. (Agência O Globo) (foto: divulgação)

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