O jardim das artes

O Instituto Inhotim, um dos melhores museus de arte do mundo, comemora 10 anos, como um lugar de esperança para os artistas brasileiros

Postado em: 10-09-2016 às 06h00
Por: Toni Nascimento
Imagem Ilustrando a Notícia: O jardim das artes
O Instituto Inhotim, um dos melhores museus de arte do mundo, comemora 10 anos, como um lugar de esperança para os artistas brasileiros


Da Redação
Há dois anos, o site TripAdvisor fez um levantamento com os melhores museus do mundo. E só dois museus brasileiros entraram na lista. No ranking de 25, com base nas avaliações dos usuários do site, o primeiro do mundo é o Instituto de Artes de Chicago (EUA). O Instituto Ricardo Brennand, no Recife, está em 17º; e Inhotim, em Brumadinho, Minas Gerais, em 23º lugar. O interessante é que o site se baseou nas opiniões de turistas de todas as partes do mundo. E o mais interessante é que os dois museus brasileiros são relativamente jovens: o pernambucano data de 2002, e o mineiro só foi aberto ao público em 2006. Já aclamado como um dos melhores museus de arte do mundo, o Instituto Inhotim chega agora à sua primeira década, e a data merece ser comemorada.

O maior centro de arte ao ar livre da América Latina começou a ser idealizado pelo empresário mineiro Bernardo de Mello Paz a partir de meados da década de 1980. Paz, empresário da área de mineração e siderurgia, foi casado com a artista plástica carioca Adriana Varejão, e há 20 anos começou a se desfazer de sua valiosa coleção de arte modernista, que incluía trabalhos de Portinari, Guignard e Di Cavalcanti, para formar o acervo de arte contemporânea, que agora está no Inhotim.

O local, dentro do domínio da Mata Atlântica, se transformou com o tempo, tornando-se um lugar singular, com um dos mais relevantes acervos de arte contemporânea do mundo e uma coleção botânica que reúne espécies raras e de todos os continentes. Segundo os moradores de Brumadinho, o local foi uma fazenda pertencente a uma empresa mineradora que, no século 19, atuava na região e cujo responsável era um inglês, de nome Timothy – o “Senhor Tim”, que, na linguagem local, acabou virando “Nhô Tim” ou “Inhô Tim”.

Continua após a publicidade

O Inhotim é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), e tem construído ainda diversas áreas de interlocução com a comunidade de seu entorno. Com atuação multidisciplinar, o Inhotim se consolida, a cada dia, como um agente propulsor do desenvolvimento humano sustentável. Em 2002, foi lançada a fundação do Instituto Cultural Inhotim, destinada à conservação, exposição e produção de trabalhos contemporâneos de arte e que desenvolve ações educativas e sociais. Em 2006, foi a abertura ao grande público, em dias regulares e com estrutura completa para visitação, e, em 2010, recebeu do título de Jardim Botânico pela Comissão Nacional de Jardins Botânicos (CNJB).

No ano passado, o museu atingiu a marca de dois milhões de visitantes, o que é muito, considerando que se trata de um museu de arte contemporânea em uma cidade do interior. Ao todo, são 450 obras de artistas brasileiros e estrangeiros, com destaque para trabalhos de Cildo Meireles, Tunga, Vik Muniz, Hélio Oiticica, Ernesto Neto, Matthew Barney, Doug Aitken, Chris Burden, Yayoi Kusama, Paul McCarthy, Zhang Huan, Valeska Soares, Marcellvs e Rivane Neuenschwander.

Tunga

Um dos artistas centrais de Inhotim, Tunga faleceu no dia 6 de junho deste ano. Ele foi homenageado na promação de 10 anos do museu, com direito a uma visita à sua obra Deleite, na galeria True Rouge, e ainda à degustação de uma sopa vermelha, à base de beterraba, em referência à cor que sempre esteve muito presente em seu trabalho. O tributo se repetiu com a performance Xifópagas Capilares Entre Nós, pela manhã, e leitura das narrativas do artista plástico. A coreógrafa Lia Rodrigues, parceira profissional de Tunga, coordenou uma nova encenação da obra True Rouge. Na performance, homens e mulheres nus espalham gelatina vermelha, por seus corpos e pela obra, enquanto o material vai se depositando no piso da galeria. 

Tunga nasceu Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, e foi um grande escultor, desenhista e artista performático brasileiro, um dos maiores – diga-se. É considerado uma das figuras mais emblemáticas da cena artística nacional: foi o primeiro artista contemporâneo do mundo e o primeiro brasileiro a ter uma obra exposta no icônico Museu do Louvre em Paris. Tem obras em acervos permanentes de museus, como o Guggenheim de Veneza, e galerias dedicadas à sua obra no Instituto Inhotim.

A existência e persistência do Instituto Inhotim renova as esperanças dos artistas brasileiros e, certamente, internacionais. Traz, portanto, um novo suspiro para o meio artístico, sedento de contemplação, respeito, e, principalmente, espaço para expor ao mundo o melhor dos seus trabalhos.

Veja Também