Filme “Não olhe para cima” é um excelente presente para negacionistas e isentos de plantão

Um cometa se aproxima da terra e destruíra tudo e todos em poucos meses. Apesar disso, poucos parecem dar a verdadeira importância para o fato; leia a crítica

Postado em: 25-12-2021 às 13h49
Por: Carlos Nathan Sampaio
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Um cometa se aproxima da terra e destruíra tudo e todos em poucos meses. Apesar disso, poucos parecem dar a verdadeira importância para o fato; leia a crítica | Foto: reprodução

Poderia ser só mais um filme qualquer sobre o fim do mundo, aqueles com cenas de ação de tirar o fôlego, aqueles de comédia escrachada ou até mesmo aqueles bem dramáticos. Mas, apesar de unir um pouco de cada uma desses ingredientes, o filme “Não olhe para cima”, dirigido por Adam McKay (As Golpistas), lançado na Netflix nesta sexta-feira (24/12) véspera de Natal, o filme faz uma crítica tocando num ponto muito importante: a luta da ciência contra negacionistas e/ou pessoas isentas de argumento.

Estrelado por Jennifer Lawrence, que interpreta a doutoranda Kate Dibiasky, e Leonardo DiCaprio, como o professor de astronomia Randall Mindy, a trama se trata da descoberta de cometa do tamanho do Monte Everest que está em rota de colisão com a Terra. Descoberto por Kate, o meteoro fara com que os seres vivos do planeta Terra entrem em extinção total em seis meses. Com a ajuda de Randall, mais do que prontamente, ambos avisam às autoridades e são levados à Casa Branca para contar sobre sua descoberta para a presidente dos Estados Unidos, Orlean, interpretada pela única Meryl Strip.

A partir daí, tudo começa a acontecer ao contrário das expectativas criadas pelos dois cientistas: tanto a presidente, quanto seu chefe de gabinete diversos outros figurões do governo desprezam totalmente as informações ali passadas por conta de “problemas maiores”, como a eleição do Legislativo e polêmicas envolvendo assuntos sexuais. Com isso, a dupla de cientistas procuram a imprensa e, acolhidos por um programa de notícias na TV, tentam alertar as pessoas e descobrem que os apresentadores não se preocuparam muito com as informações, que o governo já havia tomado conta de omitir, dizendo que ficaria tudo bem.

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A partir daí as críticas contra política e a imprensa dão espaço à mais críticas importantes como ao machismo. Enquanto Randall é tido como cientista gato e interessante, Kate é atacada pelas pessoas e vira até meme na internet. Sim, acredite, qualquer semelhança não é mera coincidência, os internautas fazem piadas com assunto sério como normalmente acontece na vida real.

Depois disso o filem se estende em um tom pouco empolgante, e ainda há a inserção de uma marca de smartphones no filme, que faz crítica ao vício das pessoas em aparelhos tecnológicos, e o CEO da empresa, junto a presidente dos EUA, descobrem que há minerais preciosos no cometa que podem ser extraídos antes da sua destruição total. Sim, crítica ao capitalismo agora. Então a narrativa segue essa linha e o ápice do filme, junto com a aparição do cometa no céu, finalmente mostra a que veio: a divisão das pessoas entre as que olham para cima e realmente entendem que o fim se aproxima, e as pessoas que adotaram o movimento “não olhe para cima”, as que acreditam que é importante extrair o minério do cometa, que o governo conseguirá detê-lo a tempo e que não há riscos.

Esses dois movimentos sintetizam de forma excelente as pessoas que acreditam na ciência, principalmente ao ver os fatos com os próprios olhos e as pessoas que definitivamente nem assim conseguem dar credibilidade ao que pessoas que estudam a vida toda falam. Há também espaço até para os isentos, aqueles que, no filme, dizem que “não importa olhar para cima ou não”, mas que é necessário uma “união” de ambos, algo totalmente incoerente com a realidade, tanto do filme quanto a que vivemos, onde adotar uma posição se faz totalmente necessário.

Alerta spoiler

Com erros cometidos pela empresa de tecnologia, que não conseguiu nem extrair os minerais, nem destruir o cometa, e com a negligência do governo, o pior acontece: o meteoro atinge o planeta e quase todos morrem. Com exceção de multimilionários, incluindo a presidente dos EUA e o dono da empresa de tecnologia, que conseguem fugir em uma nave com cápsulas de criogenia e aterrissam em um planeta com oxigênio tendo um fim totalmente agradável: são mortos por animais extraterrestres. A sátira, por fim é bem sucedida, mesmo que ousando pouco. Vale lembrar que a vida real não faz sentido nenhum, logo, um filme não deve fazer.

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