Erros e acertos de união entre MDB e PT em Goiânia

A historiografia da relação entre duas siglas que se opuseram e se aliaram à disputa da prefeitura da capital

Postado em: 20-03-2023 às 07h51
Por: Yago Sales
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A historiografia da relação entre duas siglas que se opuseram e se aliaram à disputa da prefeitura da capital | Foto: Reprodução

O Brasil vivia um colapso na democracia, no início, mas violenta, ditadura militar e civil, quando o MDB, um partido de oposição ao regime, elegeu, em 1966, o jovem vereador e advogado Iris Rezende Machado como prefeito de Goiânia – então com 33 anos. Os militares arrancaram Iris do poder em 1969 e colocaram no lugar Leonino Caiado (Arena, partido conservador) – primo do atual governador, Ronaldo Caiado (União Brasil).  

Considerado aguerrido, pelo impacto que causava às massas com discursos inflamados, Iris havia sido vereador (1958), deputado estadual (1962 pelo PSD). O MDB, que foi oficializado em 1966, era o que restava de oposição ao Arena – partido da ditadura – a partir de uma  

Fincado como uma pedra fundamental na história de Goiânia sob o rosto de Iris Rezende, o MDB, atualmente presidido, em Goiás, pelo jovem vice-governador, Daniel Vilela, de 39 anos, tem sido o partido que mais tempo governou Goiânia, uma das mais joviais capitais do País, que completa 89 anos este ano. 

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Desde a chegada de Iris à mais expectante expectativa da política, o partido comandou o Paço dez vezes. A Arena outras cinco; o PSD três, assim como o PT; O PSDB  e, como atualmente, o Republicanos, uma vez. 

Este texto, no entanto, trata-se da relação entre MDB e PT, dois partidos que, algumas vezes, se digladiaram pelo protagonismo, ora se aliaram. E assim, na capital, construíram uma história que, com erros e desacertos, chegaram ao poder máximo da administração da capital como triunfantes.

Vale lembrar que, do MDB, adveio o Partido dos Trabalhadores, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, como siamês à própria história não se larga, como o PDT,  depois o PSDB e outras siglas. 

Após a destituição, pela ditadura, do legítimo prefeito – eleito pelo povo – Iris Rezende, o MDB voltou à ao cargo, mas sob a escolha da Câmara Municipal: Daniel Antônio de Oliveira. Já governador, Iris escolheu, do MDB, como interventor, Nion Albernaz, em 1895.

Quando surgiu, nos bastidores da política goianiense, o nome do poderoso Romário Policarpo (filiado ao Patriota) como aposta do PT à prefeitura da Capital, houve estranhamento por parte do petismo goianiense. A legenda de Lula tem sido cautelosa no espectro eleitoral desde a primeira disputa que disputou pela capital, em 1988, quando lançou Pedro Wilson. Pedro Wilson ficou em segundo lugar no pleito, perdendo para Nion Albernaz (do MDB).

Em 1993, Darci Accorsi, do PT, foi eleito pelos goianienses, dando sinal da força da legenda para as disputas eleitorais a partir dali, tendo em vista o protagonismo de seu principal porta-voz, em nível nacional, Lula da Silva. 

Desfiliado do MDB, Nion Albernaz, no PSDB, convenceu, em 1996, o MDB de Iris Rezende a compor em sua chapa, na vice. O grupo venceu a disputa pelo comando da capital. O PT lançou, neste pleito, Valdi Camarcio e, como vice, Denise Camargo, uma histórica militante do PCdoB (ambos foram deputados estaduais). 

Em 2000, Pedro Wilson, do PT, veio forte e combaliu nomes fortes. Disputaram com o petista Darci Accorsi, que havia deixado o PT e se filiado ao PTB; Lúcia Vânia, do PSDB; Isaura Lemes do PDT; e Mauro Miranda do MDB. 

Em 2004, de repente, depois de ressurgir das cinzas da derrota ao governo para o jovem Marconi Perillo (PSDB) em 1999, Iris Rezende, o qual venceu a prefeitura. Arrancou das mãos o projeto de reeleição do prefeito petista Pedro Wilson. Naquele ano, Lula já era presidente do Brasil.

Este pleito era repleto de personalidades. Pelo PP, o radialista – e atual vereador – encabeçava a chapa que tinha como vice o ex-deputado federal João Campos, que estava no PSDB; Darci Accorsi, pelo PL, que tentava retornar à prefeitura; e a jornalista Rachel Azeredo pelo PFL.

Em obediência aos arranjos entre MDB e PT em nível nacional, Iris Rezende, em conversação com o partido de Lula, aprovou o nome do médico Paulo Garcia para a vice na chapa de sua reeleição. Em uma coligação com 14 siglas, a chapa foi eleita ainda no primeiro turno. 

Em 2010, Iris renunciou ao cargo, deixando Garcia no comando do Paço, para concorrer ao governo. O emedebista perdeu, no segundo turno, outra vez, para o senador e também ex-governador tucano Marconi Perillo. 

Na eleição seguinte, em 2012, o petista Paulo Garcia foi reeleito. Ele teve como vice o respeitadíssimo emedebista Agenor Mariano. A composição não demoraria para se tornar venenosa. Não demorou para que Garcia e Mariano se colocassem em debates acalorados diante dos olhos do público. Ressentido com a derrota à disputa contra Marconi  ao governo, Iris insistia para que Mariano cobrasse do prefeito que rompesse contrato com a Saneago, sob Perillo. 

O debate tomou as páginas dos jornais, com a falta de diálogo entre o petista e o nome do PDMB – como era sigla à época. Enquanto Paulo Garcia viajava ao Chile, o prefeito em exercício foi a público e criticou o prefeito, também, sobre uma reforma administrativa da qual não era colocado à parte. A crise se instalara. Iris, que avidamente estava a par da situação, já, como comandante de um MDB ligado à própria identidade, determinava indisposição geral. 

Na eleição seguinte, em 2016, Iris virou as costas para o PT e se lançou candidato. Ao seu lado, como vice, esteve Major Araújo que, depois de a chapa vencer, rompeu com o emedebista. O partido de Lula, no entanto, apostou na aguerrida delegada Adriana Accorsi, filha de Darci Accorsi, que já havia disputado eleições municipais pelo PT e, após desfiliar-se, em outras siglas. 

O que se sucedeu demonstrou dissidência entre PT e MDB. Mesmo sem a benção de Iris, o MDB, sob o comando de Daniel (desde 2015), Maguito Vilela disputou a eleição em 2020, com o pastor da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) Rogério Cruz. Com a morte de Vilela, combalido pela Covid-19 – que contraiu durante o período eleitoral -, Cruz assumiu o comando do Paço. 

Dentro da gestão, o MDB tinha um bom espaço, mas, com a indulgência do Republicanos e o grupo de Brasília, Daniel despediu-se da gestão. Foi lançada a sorte para a disputa de 2024. 

Agora, o MDB tem à disposição o nome de Ana Paula Rezende, filha dos falecidos emedebistas Iris Rezende e Dona Iris, ao Paço. Ela, por enquanto, não tem dito nada sobre a pretensão. 

A respeito do PT, há uma chance. Com alguns emedebistas no governo federal, como Simone Tebed no ministério do Planejamento e Orçamento do governo de Lula, há um intercâmbio de expectativa. É possível que o PT lance um nome. 

Por ora, até o nome do presidente da Câmara de Goiânia, Romário Policarpo (ainda no Patriota), seja um nome forte. A legenda não se desfaz de nomes como a própria deputada federal Adriana Accorsi. 

A história da relação entre os partidos se cruzam, principalmente, no contorno do embate em prol da democracia e de pautas sociais, principalmente aquelas voltadas para a garantia de direitos sociais.

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