Segunda-feira, 08 de julho de 2024

Em tempos de pandemia, busca pela casa própria mantém mercado imobiliário aquecido

A região Centro-Oeste foi uma das que impulsionaram os índices com crescimento de 15% para 22% entre março e junho deste ano| Foto: Wesley Costa

Postado em: 27-07-2020 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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A região Centro-Oeste foi uma das que impulsionaram os índices com crescimento de 15% para 22% entre março e junho deste ano| Foto: Wesley Costa

Manoela Messias

Uma pesquisa realizada pela Brain Inteligência Estratégica mostrou que mesmo em tempo de crise e incertezas provocadas pela Covid-19, as vendas de imóveis se manteram aquecidas nos últimos meses. De acordo com o estudo, 22% das pessoas que pensavam em adquirir um imóvel efetivaram a compra no mês de junho. Na região Centro-Oeste, uma das que impulsionaram os índices com crescimento, a taxa de aquisição da casa própria subiu de 15% para 22% entre março e junho.

A massoterapeuta Juliana Rocha faz parte desta estatística. Mesmo com o período exigindo a reserva financeira, ela e o marido, que é zelador, decidiram investir no sonho da casa própria. O último passo para que tudo se torne realidade foi dado em maio, quando o casal assinou os documentos para aquisição do imóvel na região Sudoeste da Capital.

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“Mesmo com a necessidade de guardar dinheiro para o imprevistos, por causa desse período em que vivemos, decidimos comprar o apartamento para sairmos do aluguel. Já são 5 anos pagando uma parcela que não tem tanto retorno, agora vamos trocar as parcelas. Sair de algo que não é nosso para um cantinho próprio e ainda vamos economizar parte do valor, já que as prestações da casa própria são mais baratas do que o valor que pagamos no aluguel”, explica a massoterapeuta.

Juliana e o marido se organizaram bastante para fazer esse investimento, tanto que a pandemia do Coronavírus não alterou o plano do casal. De acordo com ela, outro reforço para concretizar a compra foi as vantagens da construtora e a redução na taxa de juros. “Nosso sonho já começou a sair do papel, mas vamos concretizar mesmo quando pegarmos as chaves para dar início à mudança em nossas vidas”, afirma.

Nedra Moreira é diarista e motorista por aplicativo. Divorciada e com um filho de 4 anos, Nedra mora em um apartamento emprestado pela madrinha dela. Há alguns anos a motorista ensaia conseguir a moradia própria, o que a motivou fazer um “pé de meia”. Assim, depois de três anos, ela conseguiu realizar o sonho, que está em fase final de obra. Para ela, o período de alerta também trouxe a realização pessoal

“Me organizei muito para isso. Só não deixei faltar o básico em casa, mas abri mão de muita coisa para conseguir tornar esse sonho realidade. A pandemia me preocupou bastante, já que meu trabalho como motorista diminuiu muito, o que exigiu de mim mais disciplina ainda para não gastar com coisas desnecessárias. Quando queremos alguma coisa temos que ter esse sacrifício, afinal é um investimento grande e a longo prazo para um bem maior”, conta

Facilidade

Segundo o gestor comercial, Rafael Cássio de Aquino, a queda da taxa básica de juros (Selic) para 2,25% – novo piso histórico da taxa -, os benefícios e incentivos concedidos pela Caixa Econômica Federal e as condições de promoções dadas pela construtora contribuíram para o crescimento dessas vendas. “As pessoas perceberam que as condições para a aquisição da casa própria como a baixa taxa de juros e o anúncio da Caixa de três até seis meses de carência nas prestações de contratos habitacionais, caso o comprador necessite dessa facilidade, são boas oportunidades”, destaca.

Segundo ele,em março houve um aumento de 10% na procura de imóveis na plataforma de soluções habitacionais em relação ao período anterior pré-pandemia em Goiás. O crescimento das vendas chegou a 20% no período da pandemia em relação aos primeiros meses do ano. Os efeitos dessa maior procura também foram sentidos pelos corretores de imóveis. A Vanderléia Reisatua na área há dois anos e está satisfeita com a reação do mercado.

“Não dá para negar que a pandemia impactou todos os setores. Com isso, tivemos que trabalhar mais com as vantagens que a construtora e a Caixa passaram a oferecer àqueles que buscam imóveis para mostrar que passamos por um momento de oportunidades para quem busca realizar esse sonho”, destaca Vanderléia.

Verba para financiamentos usando a poupança subiu 29% 

A Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) divulgou dados que mostram que o volume liberado para financiamento imobiliário com recursos da poupança no Brasil aumentou 29% no primeiro semestre deste ano em comparação ao primeiro semestre de 2019, alcançando R$ 43,4 bilhões.

Os estados com as maiores variações, em comparação entre primeiro semestre de 2019 e 2020, foram Tocantins, com um aumento de 117%; Acre, com 101%; e, Distrito Federal, com 97%. Já aqueles que tiveram as menores variações foram o Rio de Janeiro, com queda de 1%; Pará, com aumento de 2%; e Ceará, com aumento de 6%.

“Com a pandemia, com toda essa situação que estamos vivendo, ainda temos um crescimento”, apontou a presidente da Abecip, Cristiane Portella. “Esse primeiro semestre é um primeiro semestre que foi maior que o primeiro semestre do ano passado em todas as regiões do país, com a exceção do Rio” completou.

Percentuais

A variação no volume financiado em comparação do primeiro semestre de 2019 e de 2020 foi potencializada, principalmente, pelo valor usado para financiar aquisições de imóveis, que totalizou, no país, R$ 34,1 bilhões, um aumento de 34% em relação aos R$ 25,5 bilhões usados para esse fim no mesmo período do ano passado.

O financiamento da aquisição de imóveis usados apresentou um aumento de 56% na comparação entre os semestres, enquanto o de imóveis novos aumentou o percentual de 2%.   Já o financiamento usado para a construção de imóveis nesse período teve um aumento de 12%, passando de R$ 8,2 bilhões no ano passado para R$ 9,2 bilhões este ano.

Estímulo

Desde que a pandemia do novo Coronavírus, a Caixa Econômica Federal vem tentando estimular a indústria da construção civil, um dos setores com maior capacidade de criar empregos e com rapidez.

O banco anunciou 15 medidas de incentivo à construção e venda de imóveis desde março. Do início do ano para cá, foram 18 ações para estimular o setor. Para os compradores foram oferecidos redução nas taxas de juros, suspensão de cobrança das prestações, carência para início do pagamento de empréstimos, alongamento dos prazos.

No início do mês o banco anunciou a inclusão no financiamento imobiliário os custos com cartório e Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI). As duas despesas variam de 2% a 5% do valor do imóvel e precisavam ser pagas à vista pelo comprador.

As construtoras também foram beneficiadas com medidas semelhantes. Tiveram redução de juros, suspensão de mensalidades, reformulação no cronograma de obras, entre outras. Neste mês, o governo também anunciou mais duas facilidades: reduziu de 30 para 15 o percentual da obra executada e de unidades vendidas necessário para obter empréstimos e permitiu o uso do dinheiro das vendas para pagamento das prestações do empréstimo. (Especial para O Hoje)

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