Em 115 anos, 13 mulheres receberam Nobel de Litearura

Há falta de equidade na literatura, assim como em posições de poder

Postado em: 11-03-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Há falta de equidade na literatura, assim como em posições de poder

O Dia Internacional da Mulher, celebrado recentemente, chamou a atenção para as desigualdades de gênero, violência e conquista de direitos. Costuma-se apontar a falta de equidade em áreas como a ciência ou em posições de poder, mas na literatura há também um número menor de mulheres que conseguem reconhecimento sobre suas obras.

Em 115 anos, apenas 13 mulheres receberam o prêmio Nobel de Literatura. No Prêmio Camões, que é concedido por Brasil e Portugal a escritores lusófonos, apenas seis mulheres foram homenageadas em 28 anos. O Prêmio Jabuti, o mais importante da literatura brasileira, foi dado a apenas 12 mulheres desde 1959, na categoria Romance.

Apesar do pouco reconhecimento, muitas autoras escrevem sobre feminismo: seja do ponto de vista político, filosófico ou social, seja por meio de poemas ou colocando mulheres como protagonistas em histórias que provocam reflexão. Dessa forma, ajudam a compreender o movimento que defende a igualdade de direitos entre homens e mulheres.

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Conheça 10 escritoras que, em suas obras, ajudam a compreender esse conceito:

Ana Cristina César

Também conhecida como Ana C, Ana Cristina César foi uma poeta brasileira que fez parte do movimento de Poesia Marginal e deixou uma obra em que retrata seu cotidiano e intimidade, por vezes criticando padrões de comportamento impostos à mulher. Em seus livros, em que a poesia se mistura com outros estilos, como a carta e o diário, ela fala abertamente sobre seu corpo e sua sexualidade. Em 2016, a poeta foi homenageada pela Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), principal evento deste porte do Brasil. Em 14 anos de Flip, só Ana e Clarice Lispector (2005) foram homenageadas. Em 2013, foi lançado pela Cia. das Letras o livro Poética, que reúne todas as obras de Ana C. 

Ana Maria Gonçalves

Antes publicitária, a mineira Ana Maria Gonçalves abandonou a profissão para se dedicar à literatura e lançou, em 2006, o livro Um Defeito de Cor. Na obra, ela mostra a trajetória de uma menina negra capturada como escrava ainda na infância, e sua luta até se tornar uma mulher livre. Além de retratar, na obra, a força da mulher, ela faz um relato detalhado sobre a vida dos negros no Brasil Colonial.

Angela Davis

A filósofa e professora norte-americana Angela Davis dá aulas no Departamento de Estudos Feministas na Universidade da Califórnia e é ex-integrante do grupo Panteras Negras. Ativista pelos direitos da mulher e pela igualdade racial, Angela é autora de diversos livros, e sua obra mais conhecida, Mulheres, Raça e Classe, de 1981, foi traduzida e lançada no Brasil apenas em 2016.

Carolina Maria de Jesus

A mineira Carolina de Jesus era catadora de recicláveis e registrava seu cotidiano, na antiga favela do Canindé, na zona norte de São Paulo, em cadernos que encontrava pelo lixo. Seus escritos, datados de 1955 a 1960, se tornaram o livro Quarto de Despejo, que denuncia a miséria, a fome e a violência sofrida por ela e seus vizinhos. A autora é considerada uma das primeiras escritoras negras do Brasil, e ainda hoje é considerada referência para estudos sobre a sociedade brasileira.

Chimamanda Ngozi Adichie

A escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, de 39 anos, desponta como um dos principais nomes femininos da literatura africana. Suas obras retratam o cotidiano de mulheres negras, abordando questões como o racismo e a violência contra a mulher. É autora dos livros Sejamos Todos Feministas e Para Educar Crianças Feministas – Um Manifesto, que são uma introdução para quem busca compreender o assunto. O romance Americanah é sua obra mais aclamada. 

Clarice Lispector

Um dos maiores nomes da literatura brasileira, Clarice Lispector é um dos exemplos em que o feminismo se mostra por meio de mulheres protagonistas. Nos romances escritos por ela, as personagens mergulham em reflexões sobre a condição humana, muitas vezes questionando o que elas são e o que a sociedade impõe que elas sejam. Clarice é considerada, mundialmente, a maior escritora de origem judaica, depois de Franz Kafka. Entre suas obras o romance A Paixão Segundo G.H. (1964) e a novela A Hora da Estrela (1977) se destacam. 

Conceição Evaristo

A mineira Conceição Evaristo é doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e se destaca por abordar, em suas obras, a discriminação de gênero, raça e classe, valorizando a reflexão sobre os afrodescendentes, suas memórias e sua importância histórica para a cultura do Brasil. É autora do romance Ponciá Venâncio (2003) e dos livros de contos Histórias de Leves Enganos e Parecenças (2016) e Olhos d’Água (2014), este último vencedor do Prêmio Jabuti na categoria Contos.

Simone de Beauvoir

A filósofa e escritora francesa, integrante do movimento existencialista, é referência em estudos sobre o feminismo, abordando, especialmente na obra O Segundo Sexo, a diferença entre a existência e a construção social de gênero, bem como os fatores que levam à opressão das mulheres. Ao falar de comportamentos e de estereótipos dos homens, ela critica o patriarcado e a resistência dos homens à compreensão sobre as demandas feministas.

Svetlana Aleksiévitch

A escritora ucraniana Svetlana Aleksiévitch é a mulher que mais recentemente recebeu o Prêmio Nobel de Literatura (2015), sendo a primeira vez que uma escritora de jornalismo literário recebeu o prêmio. No livro A Guerra Não Tem Rosto de Mulher, ela apresenta a história da 2ª guerra mundial sob a perspectiva – até então desconhecida – das soldadas soviéticas que estiveram no front de batalha atuando como franco-atiradoras, voluntárias, pilotos de tanques ou enfermeiras. Com o livro, Svetlana mostra que os conflitos militares costumam ter narrativas apenas masculinas, muitas vezes ignorando o importante papel das mulheres em momentos históricos.

Toni Morrison

Toni  Morrison é a única negra que recebeu o Nobel de Literatura. A obra Amada, pela qual foi condecorada, conta a história de uma ex-escrava que foge com os filhos após a abolição da escravatura nos Estados Unidos. O livro é o primeiro de uma trilogia, que inclui ainda Jazz (1992) e Paraíso (1997). (Agência Brasil)

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