Quinta-feira, 28 de março de 2024

Análise: mais de 30% das agressões a mulheres em Goiânia vem de familiares ou parceiros

Projeto da Prefeitura da capital foi desenvolvido em parceria com a organização de saúde Vital Strategies e teve como objetivo mapear a trajetória das vítimas de violência e identificar oportunidades para enfrentamento do problema

Postado em: 10-12-2021 às 15h12
Por: Carlos Nathan Sampaio
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Projeto da Prefeitura da capital foi desenvolvido em parceria com a organização de saúde Vital Strategies e teve como objetivo mapear a trajetória das vítimas de violência e identificar oportunidades para enfrentamento do problema | Foto: divulgação

A Prefeitura de Goiânia apresentou, nesta sexta-feira (10/12), as conclusões do projeto “Prevenção de violência de gênero por meio do pareamento de dados do sistema de saúde em Goiânia”. Desenvolvido por meio de uma cooperação técnica entre a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e a organização global de saúde pública Vital Strategies, o projeto teve como objetivo estudar as trajetórias de mulheres vítimas de violência de acordo com dados do sistema de saúde da Capital.

Por meio de um pareamento de dados, foi possível identificar indicadores de risco de agravamento da violência. O secretário de Saúde de Goiânia, Durval Pedroso, destacou a importância do projeto. “Além de ter dados reais de uma década sobre a violência contra a mulher, esse projeto tem um papel extremamente importante já que as evidências poderão ser utilizadas como base para a adoção de políticas públicas de enfrentamento da violência contra mulher no município de Goiânia”, concluiu

Para o levantamento, foram pareadas 13 bases de dados com notificações de atendimentos feitos pelos sistemas de informação da SMS de Goiânia nos últimos dez anos (2010 a 2020). Entre as bases, estão a do sistema de mortalidade (SIM), que possibilita a identificação de casos que foram a óbito, a do Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan) e a do Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS). Com a metodologia de pareamento é possível identificar todos os registros de uma mesma pessoa nos diferentes sistemas da Secretaria de Saúde.

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Segundo a médica epidemiologista e assessora sênior da Vital Strategies, Fátima Marinho, que atuou no projeto, com o mapeamento é possível identificar trajetórias comuns de mulheres vítimas de violência no sistema público de saúde e possíveis padrões e perfis que evoluem para casos de maior gravidade. “Essa análise aprofundada permite identificar quais são os indicadores que podem ser usados para monitoramento de casos de mulheres vítimas de violência com maior risco de agravamento (que levem à internação ou óbito). Além disso, é possível identificar ‘oportunidades perdidas’, ou seja, casos em que uma intervenção precoce poderia ter evitado o desfecho fatal”, afirma a especialista.

Principais achados

No período analisado, foram identificadas 8.295 notificações de violência interpessoal contra mulheres de 10 a 59 anos na cidade de Goiânia, sendo 139 mortes, 78,9% foram em consequência de agressões e as demais por causas externas. Entre outros achados, o estudo mostrou um dado alarmante: mulheres com notificação de violência apresentaram um risco de morte por causas externas quatro vezes maior que a população geral de Goiás e de Goiânia. Além disso, o tempo entre a primeira notificação e a morte por causas externas é muito curto. A maior parte das vítimas que foram a óbito faleceram em até 30 dias.

Também foram considerados fatores que reduzem o risco de internação e morte. Por exemplo, dados preliminares indicam que os encaminhamentos realizados para delegacia especializada e serviços da justiça reduziram em 40% e 55%, respectivamente, o risco de internação.

Considerando os fatores que aumentam ou diminuem o risco de internação e mortes por causa externas e homicídios identificados no estudo, a equipe do projeto apresentou nove indicadores de risco de agravamento da violência que devem ser monitorados pelas equipes de Saúde.

Principais agressores (notificações Sinan) de meninas e mulheres por faixa etária:

De 10 a 14 anos: familiares (40,0%)

De 15 a 19 anos: desconhecidos (38,7%)

De 20 a 34 anos: parceiros íntimos (35%) e desconhecidos (33%)

De 35 a 59 anos: parceiros íntimos (42%) e desconhecidos (28%)

Ao final do estudo, que ainda está em etapa final de conversas e levantamento de informações com gestores da Prefeitura e profissionais da rede de saúde da cidade, será construído um relatório completo com recomendações e sugestões de encaminhamento para melhoria da estratégia de enfrentamento da violência contra mulheres no município.

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